Brasil
Desmatamento avança na área mais nobre da Mata Atlântica

Dados do Atlas da Mata Atlântica 2023-2024 mostram que a área total derrubada caiu 14%, no bioma em 2024. Mas a perda das florestas maduras , que têm maior biodiversidade e estoque de carbono, caiu apenas 2%
Apesar de a Mata Atlântica vir apresentando queda no desmatamento, essa diminuição é bem abaixo do esperado. Dados do Atlas da Mata Atlântica 2023-2024, divulgado ontem, mostram que a área total derrubada caiu 14% em 2024, mas a perda das matas maduras — com maior biodiversidade e estoque de carbono — teve redução de apenas 2%. O bioma abriga cerca de 70% da população e sustenta mais de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Um dos sistemas de análise utilizados pelo estudo, o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) da Mata Atlântica, detectou 71.109 hectares (ha) desmatados no total, incluindo florestas jovens e maduras. O volume representa uma queda de 14% em relação a 2023 (82.531 ha). Mas o sistema Atlas, que monitora as matas maduras, registrou a perda de 14.366 ha no período 2023-2024, redução de apenas 2% na comparação com os anos 2022-2023. Esse desmatamento equivale ao despejo de 6,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
A pequena redução é a grande preocupação da pesquisa, pois, segundo o Atlas da Mata Atlântica, as florestas maduras são a “Arca de Noé” do bioma. A perda desse conjunto leva à extinção de espécies e compromete serviços ecossistêmicos essenciais, como produção de água e controle de doenças.
Luís Fernando Guedes, diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, atribui a redução de 14% à inversão da trajetória de alta do desmatamento observada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para ele, o governo atual demonstra compromisso com o fim do desmatamento.
“Houve algumas mudanças importantes com o corte do crédito para áreas desmatadas ilegalmente, e embargos de áreas desmatadas também. Há uma sensação de diminuição da impunidade”, disse.
Guedes, porém, classificou a redução como “tímida” e “insuficiente” diante das necessidades de desmatamento zero. Ele explica que a maior parte da destruição concentra-se em regiões de transição com o Cerrado e a Caatinga, impulsionada, principalmente, pela expansão agrícola.
O desmatamento, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, concentra-se no Piauí, na Bahia, no Mato Grosso do Sul e no norte de Minas Gerais. O estudo aponta que Piauí e Bahia lideram o ranking do Sistema de Alertas de Desmatamento, com 26.030ha e 23.218ha desmatados, respectivamente. Na Bahia, a destruição de matas maduras deu um salto de aproximadamente 92%: passou de 2.456ha para 4.717ha.
“A principal ação para combater esse desmatamento é a aplicação da Lei da Mata Atlântica, que dispõe que o desmatamento nessas áreas deveria ocorrer somente em situações excepcionais de utilidade pública ou de interesse social”, salienta Guedes.
O principal vetor dessa destruição, segundo diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, é a expansão da fronteira agropecuária, muitas vezes ocorrendo em terras privadas ou sem registro fundiário. O estudo mostra que a área média por desmatamento subiu, o que indica derrubadas maiores e mais concentradas. Além disso, eventos climáticos extremos também impactaram as áreas do bioma, como as fortes chuvas e deslizamentos no Rio Grande do Sul.
Para Guedes, o desmatamento zero é “possível e realista”, mas, para isso, é necessária a aplicação rigorosa da Lei da Mata Atlântica e a intensificação da fiscalização. “A gente precisa que o crédito seja cortado para quem faz desmatamento ilegal, que áreas sejam embargadas e os produtores não possam vender a safra. A gente também precisa de uma agenda positiva, de incentivo à floresta em pé e de pagamento pelos serviços ambientais”, explicou.
Correio Braziliense

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