Com aumento nos registros nos últimos anos, o Distrito Federal vem esbarrando em dificuldades para contornar a epidemia de sífilis. Falta medicação adequada a todos os pacientes, houve diminuição nas campanhas de prevenção, preservativos deixaram de ser usados na mesma frequência, e gestantes relataram não tomar os remédios ‘certos’ por medo dos efeitos colaterais.
Dados da Secretaria de Saúde apontam 3,7 novos casos por dia. O número de ocorrências até 26 de agosto de 2017 supera todas as de 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013. A doença, se não tratada, pode matar.
“É uma coisa bem preocupante e é uma somatória de coisas”, disse o infectologista da Secretaria de Saúde José David Urbaez. Segundo ele, homens gays estão no grupo dos mais afetados pelo aumento da doença.
Nº de casos de sífilis no DF
2009 | 431 |
2010 | 416 |
2011 | 529 |
2012 | 598 |
2013 | 709 |
2014 | 906 |
2015 | 1.132 |
2016 | 1.288 |
2017 (até 26 de agosto) | 889 |
O médico, que também é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirma que a “perda do referencial de proteção nas relações sexuais, uma vez que, em tese, foi superada a morte pela Aids”, fez com que as pessoas começassem a usar preservativos com menor frequência. Além disso, Urbaez cita uma diminuição das campanhas de prevenção.
“Quando do início do HIV, o medo das pessoas e a prevenção que elas tomavam levou a reboque as outras infecções sexualmente transmissíveis. Quem tinha medo de morrer praticava sexo seguro, daí deixava de pegar HIV e também o restante. HIV foi um fator de prevenção de sífilis”, disse o infectologista.
Os postos de saúde oferecem gratuitamente testes rápidos para diagnosticar a doença, e o resultado sai na hora. A doença tem cura, mas especialistas afirmam que é preciso passar pelo tratamento completo que dura três semanas. O paciente que tem sífilis deverá tomar, uma vez por semana, uma dose de antibiótico (penicilina).
Crise no fornecimento do remédio
A Secretaria de Saúde relata dificuldades para adquirir penicilina benzatina – popularmente conhecida pelo nome comercial Benzetacil – desde 2012. Até o fim do primeiro semestre de 2015, quando o Ministério da Saúde decidiu intervir para garantir o remédio para todas as unidades da federação, o GDF já tinha tido dois pregões cancelados.
O medicamento é o único que ultrapassa a placenta e consegue tratar bebês, evitando que o feto pegue a infecção da mãe e nasça com malformações que podem afetar os sistemas neurológico, cardíaco e hepático. O preço da ampola em farmácias é de pouco mais de R$ 1.
Sífilis congênita
Entre 2008 e 2013, o número de bebês que morreram por causa da sífilis congênita quase triplicou no país. Em boletim epidemiológico da doença, a Secretaria de Saúde destacou em 2015 o aumento anual de casos detectados no DF e chamou atenção para o fato de a doença ser 100% evitável.
A preocupação constava ainda em um relatório antigo do Conselho de Saúde. “A sífilis congênita é passível de prevenção, e admitir que crianças nasçam com esta doença é no mínimo um descaso à saúde pública do DF”, diz o texto.
Em uma circular divulgada em 28 de janeiro de 2015, a pasta comunicava os profissionais sobre o problema e os orientava a administrar medicamentos alternativos – azitromicina e a ceftriaxona. As opções encarecem o tratamento em até 20 vezes, além de terem menor eficácia e exigirem mais aplicações, diminuindo a adesão de pacientes.
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