Dirceu critica anistia para manter Bolsonaro inelegível e impulsionar candidatura de Tarcísio

José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considera que o apoio do Centrão ao projeto de anistia na Câmara é uma estratégia eleitoral. Segundo ele, a proposta tenta manter o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, mas ao mesmo tempo busca garantir que a base bolsonarista apoie o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como candidato ao Planalto em 2026.

Em entrevista ao Globo, Dirceu esclareceu que não vê semelhança entre a anistia em debate e o indulto que recebeu da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, após ser condenado no Mensalão. “Eu cumpri minha pena. Eles não querem cumprir a pena”, afirmou.

Ele também destacou a influência do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, na política brasileira, ressaltando que o impacto vem mais de sua rejeição às interferências externas do que de apoio a algum candidato específico.

Dirceu comentou sobre a votação da urgência da anistia e a tensão resultante com o Centrão, explicando que a direita, mesmo sem o bolsonarismo, possui maioria no Congresso e pode aprovar medidas de interesse próprio. A anistia, na visão dele, é uma tentativa de resolver as indefinições para 2026, com a candidatura de Tarcísio confrontando a base bolsonarista, que, embora não o veja como líder, ainda dá votos a Bolsonaro.

O ex-ministro apontou que os motivos por trás da autoproteção no projeto referem-se a questões como as emendas impositivas, inquéritos da Polícia Federal e ações do Supremo Tribunal Federal, indicando a necessidade de uma reforma política no país.

Quanto ao apoio do governo a um texto que reduz penas e poderia beneficiar condenados do 8 de janeiro e Bolsonaro, Dirceu descreveu como uma operação quase surrealista, mas acredita que a maioria que não deseja anistia ampla quer impedir Bolsonaro, conforme indicam as pesquisas e o sentimento da sociedade.

Destacou também que cumpriu sua pena integralmente, diferentemente dos que hoje buscam anistia para evitar punições. Ele criticou tentativas de minar as instituições e ações para permanecer impunes.

Questionado sobre o impacto da aprovação da urgência do projeto na relação do governo com o Congresso, afirmou não ver piora significativa, pois a direita tem maioria e o governo conta com apoio parcial do MDB e PSD. Disse ainda que 2026 será uma eleição imprevisível, com influência crescente da intervenção de Trump.

Sobre a interferência dos EUA nas eleições brasileiras, mencionou que embora não possam intervir diretamente, podem adotar medidas que influenciem o processo. Afirmou que o alinhamento com Trump não costuma beneficiar candidatos nas eleições.

Dirceu criticou a atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA, afirmando que ele deveria ser cassado por agir contra os interesses do Brasil.

Quanto à condução do governo na Câmara e o apoio a Hugo Motta, explicou que a liderança da Casa está mais ligada ao colégio de líderes do que a um único deputado.

Manifestou confiança na aprovação das propostas econômicas do governo, ressaltando a importância da campanha eleitoral para renovar o Congresso.

Sobre a frente ampla nas eleições de 2026, ressaltou que, embora não tenha sido apoiado pelo Centrão em 2022, Lula foi eleito com uma frente na sociedade que contou com figuras como Geraldo Alckmin.

Comentou que a queda na popularidade do governo está relacionada a questões econômicas e políticas, especialmente a percepção de impostos e juros elevados sobre o trabalhador.

Revelou que mantém contato com Lula quando necessário, mas seu foco atual é sua candidatura a deputado federal.

Por fim, avaliou que não cometeria os mesmos erros que levaram às suas condenações no passado e reconheceu que seu papel atual é ajudar na Câmara, descartando convite para compor o governo.

Este conteúdo foi reescrito para facilitar a compreensão, mantendo a fidelidade às declarações do entrevistado.