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Direita lidera as pesquisas presidenciais na Bolívia após quase duas décadas
Com o ex-presidente Evo Morales incentivando o voto nulo, a Bolívia se aproxima das eleições gerais de 17 de agosto com a esquerda dividida e a direita dominando as intenções de voto.
O influente empresário Samuel Medina surge como favorito, enquanto o ex-líder cocaleiro e presidente do Senado, Andrónico Rodriguez, antigo aliado de Evo Morales, não tem ultrapassado os dígitos duplos nas pesquisas.
O cenário partidário atual no país andino, que faz fronteira com Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e que conta com cerca de 12 milhões de habitantes, indica uma possível mudança no poder após 19 anos de governos de esquerda, com o Movimento ao Socialismo (MAS) fragilizado.
A exceção nesse ciclo foi o governo interino de Jeanine Áñez, que assumiu entre 2019 e 2020 após renúncia de Evo Morales em meio a acusações de fraude eleitoral. Em 2020, o MAS retornou ao poder elegendo Luis Arce, ex-ministro da Economia de Evo, com 55% dos votos.
Porém, a volta do exílio trouxe uma cisão dentro do MAS, com Evo Morales rompendo com o atual governo e defendendo o voto nulo enquanto enfrenta acusações legais que nega. A polarização provocou bloqueios rodoviários e violência que resultaram em vítimas fatais.
Divisão na esquerda
As disputas internas e avaliação negativa sobre a gestão do governo atual levaram a desistência do presidente Luis Arce da busca pela reeleição, indicando Eduardo De Castillo como candidato do MAS, que desponta com baixa popularidade nas pesquisas.
Andrónico Rodriguez, antes cotado como alternativa, enfrenta queda acentuada nas intenções de voto e ataques de Evo Morales, que o rotula como traidor. Outra ex-integrante do MAS, Eva Copa, criou novo partido para disputar, mas acabou retirando sua candidatura.
Segundo o professor Clayton Mendonça Cunha Filho, o insistente personalismo de Evo Morales contribuiu para a fragmentação do MAS, que antes unia diversas correntes políticas e sociais, colocando o partido em risco de perder relevância eleitoral e parlamentar.
Avanço da direita
A fragmentação da esquerda favorece os candidatos da direita, com Samuel Medina e Jorge “Tuto” Quiroga liderando as pesquisas com juntos aproximadamente 47% dos votos. O sistema eleitoral prevê segundo turno se nenhum candidato atinge a maioria necessária.
Samuel Medina é empresário e ex-ministro, com trajetória política que transitou da centro-esquerda ao centro-direita. Jorge “Tuto” Quiroga tem histórico como ministro da Fazenda, vice-presidente e presidente interino.
Constitucionalismo e futuro político
O MAS se consolidou no poder durante a chamada “marea rosa” latino-americana e implementou um modelo constitucional plurinacional reconhecendo a diversidade indígena, aprovado em 2009.
O novo governo de direita que pode surgir enfrentará o desafio de governar num ambiente político fragmentado e provavelmente precisará compor com outras forças para manter a estabilidade institucional.
Para o professor Cunha Filho, apesar das mudanças possíveis, é improvável que o modelo de Estado Plurinacional seja extinto, podendo até ser consolidado por novas forças políticas ao diversificarem sua base de apoio.


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