Diretora se afasta após ação policial em escola por desenho de orixá

A diretora da Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, localizada no bairro Caxingui, zona oeste de São Paulo, encontra-se temporariamente afastada do cargo após solicitar licença médica. Essa informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Educação (SME) ao Metrópoles.

O afastamento se deu em função de um quadro de saúde mental fragilizado, que teria sido agravado após a escola ser alvo de uma intervenção da Polícia Militar (PM) na última quarta-feira, 12 de novembro. O episódio foi desencadeado por uma denúncia feita pelo pai de uma aluna, após a filha realizar um desenho da orixá Iansã durante uma atividade escolar baseada no livro Cantiga em Aruanda, de Liu Olivina. Este projeto faz parte do currículo que aborda a temática antirracista estabelecida pela SME.

Testemunhas relataram que policiais armados, alguns portando metralhadoras, entraram na escola e intimidaram tanto alunos quanto funcionários, com atenção especial à diretora da instituição.

Investigação e Reações do Poder Público

O caso, revelado no domingo, 16 de novembro, provocou manifestações importantes das autoridades:

• A Secretaria da Segurança Pública (SSP) declarou que a PM está apurando a conduta dos policiais envolvidos;
• Parlamentares acionaram o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) para investigar o ocorrido;
• O Ministério Público solicitou o acesso às imagens das câmeras de segurança para verificar possíveis excessos ou irregularidades;
• A Prefeitura de São Paulo acionou a ouvidoria da PM para obter esclarecimentos acerca da ação.

Ambiente Escolar Tenso

Conforme relatos, o ambiente na escola permanece marcado por tensão, com sentimentos de medo e também de apoio entre a comunidade escolar. Uma funcionária descreveu esse clima como um misto de apreensão e coragem. Uma aluna, com idade de até seis anos, chegou a perguntar se a diretora havia sido levada pelos policiais, evidenciando o impacto do episódio nas crianças.

Contexto da Atividade e Desdobramentos

A atividade que motivou a intervenção policial foi realizada em setembro e o desenho seria exibido em uma apresentação marcada para o dia 5 de dezembro, onde os pais conheceriam o conteúdo trabalhado durante o semestre. Durante este período, o estudo incluiu tradições afro-brasileiras, enquanto no semestre anterior, a escola abordou culturas indígenas.

Ocorrência e Posicionamentos Oficiais

O pai da aluna, que é soldado da PM, acionou a polícia após tomar conhecimento do desenho feito por sua filha, de 4 anos, na escola. Na mesma tarde do evento, a direção da escola convidou o homem para participar da reunião do Conselho Escolar, que aconteceu às 15h, mas ele não compareceu, optando por chamar a PM.

Os policiais permaneceram na Emei por pouco mais de uma hora, em uma abordagem considerada agressiva por testemunhas. A supervisora de ensino foi acionada para apoiar a situação.

A direção da escola informou aos agentes que a atividade atende às leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em todo o Brasil, esclarecendo que a atividade não tinha qualquer caráter de doutrinação, somente a leitura da história do livro seguida pela elaboração do desenho pelas crianças.

Em nota oficial, a SSP afirmou que os policiais orientaram as partes envolvidas a registrar boletim de ocorrência, caso desejassem, e que a Corregedoria da PM está disponível para investigar eventuais denúncias relacionadas à conduta dos agentes. Também ressaltou que o uso do armamento, incluindo metralhadoras, faz parte do equipamento padrão dos policiais durante todo o turno.

A Prefeitura de São Paulo, através da SME, destacou que o pai da estudante foi informado de que o trabalho de sua filha é uma produção coletiva do grupo. A gestão municipal reiterou que essa atividade integra as propostas pedagógicas da escola e que o currículo da cidade inclui obrigatoriamente o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena.