Brasil
Discreta, Lu Alckmin descarta ser vice de Tabata: ‘Nunca serei candidata’
Desde que retornou a Brasília em 2023, a mulher do vice-presidente Geraldo Alckmin tem se adaptado à rotina discreta do Palácio do Juburu e se dedicado a projetos sociais na capital federal
Três décadas após morar por oito anos na capital federal, período em que Alckmin foi deputado federal — de 1987 a 1984 —, a atual segunda-dama da República, Lu Alckmin, vive um momento de reencontro. Ciosa de não ultrapassar os limites que ela própria estabeleceu para sua atuação, ela tem buscado reforçar um perfil reservado. Não promoveu nenhum jantar na residência oficial da vice-presidência, opta por não receber a imprensa no Palácio do Jaburu e marca suas conversas profissionais na Paróquia Sagrado Mercês, em Brasília, onde fica o polo da Padaria Artesanal.
No fim de semana, Lu também tenta reproduzir em Brasília o perfil pacato do casal de Pindamonhangaba (SP). Alckmin despacha até as 11h30m aos sábados e domingos. Nas tardes, ambos caminham pelos jardins do palácio e jogam cartas. Neste mês, receberam os netos em férias escolares. Nos finais de semana que vão a São Paulo, reúnem a família para jantar na casa de Sophia Alckmin, a mais velha dos três filhos do casal — Geraldo Júnior e Thomaz, morto em acidente de helicóptero em 2015.
Em uma hora e quarenta minutos de conversa com O GLOBO, Lu refletiu sobre a reviravolta na vida do casal nos últimos anos. Depois de ficar em quarto lugar nas eleições presidenciais de 2018, com apenas 5% dos votos, Geraldo Alckmin se recolheu. Foi estudar acupuntura, cuidar do sítio em Pindamonhangaba e participar de programas de TV dando dicas de saúde. Uma rotina sem sobressaltos, até ser sondado para integrar a chapa presidencial com Lula, seu adversário de décadas, a qual sairia vitoriosa em 2022.
Cogitada para ser vice de Tabata Amaral (PSB) na disputa pela prefeitura de São Paulo, a ex-primeira-dama do estado, Lu Alckmin, descarta participar de qualquer aventura na política. Desde que retornou a Brasília em 2023, a mulher do vice-presidente, Geraldo Alckmin, tem se adaptado à rotina discreta do Palácio do Juburu e se dedicado a projetos sociais na capital federal. Uma incursão eleitoral não está no horizonte do casal.
“Eu nunca serei candidata, estarei sempre ao lado do Geraldo. Aprendi com meus pais a fazer o trabalho voluntário desde menina e é o que me realiza. A Tabata é uma excelente opção para a cidade de São Paulo. Uma candidata séria e comprometida em melhorar a vida das pessoas. Ela conhece muito bem as necessidades da população, principalmente da periferia”, disse Lu Alckmin.
Tabata deu prazo até o dia 27 deste mês para que o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) indique se topará ou não ser vice em sua chapa à prefeitura paulistana. Em caso de negativa, Lu Alckmin passou a ser um dos nomes citados para o posto.
Parceria em padaria
Primeira-dama do estado de São Paulo em dois períodos — de 2001 a 2006 e de 2010 a 2018 —, ela agora vive uma rotina diferente. Os jantares beneficentes no Palácio dos Bandeirantes, as viagens ao interior paulista e os encontros com primeiras-damas na sede do governo local deram espaço a uma agenda distante de holofotes.
Sem comandar o Fundo Social de Solidariedade, que destinava verba milionária a cursos de qualificação profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade, Lu agora busca parcerias com Sistema S, sociedade civil, igrejas católicas, evangélicas e em religiões de matriz africana para expandir a Padaria Artesanal pelo país, um projeto que capacita pessoas na área da fabricação de pães. Levar o modelo que criou em São Paulo para outros estados é a marca pretende deixar até 2026.
“Hoje você tem poder, amanhã você não tem. Você tem que ser, não estar. Hoje você está, mas amanhã você não está. Aprendi isso desde cedo”, analisa Lu. “O meu apartamento em São Paulo é pequenininho e eu amo. O Jaburu é grande, é lindo. Aliás, toda vez que eu vou (a São Paulo), eu penso assim: “aqui é a sua casa, lá que você está de passagem”.
Ao lembrar do momento em que Alckmin lhe contou da ideia de uma aliança com Lula, ela rememorou outro episódio decisivo na vida do casal. Lu fez um paralelo com a reação que teve quando, com uma semana do namoro, o então estudante de Medicina e vereador de Pindamonhangaba, lhe falou que concorreria à prefeitura da cidade.
“Terminei o namoro. Eu tinha uma visão errada de política. Na minha família não tem nenhum político. No dia seguinte, ele voltou: “Lu, a política é a arte e a ciência de fazer o bem, de ajudar as pessoas, isso que é política”. A partir daquele momento, voltei, já estava apaixonada por ele”.
Enquanto caminha pelo Palácio Jaburu, Lu Alckmin tem seus passos seguidos por um coelho de pelos brancos. O animal doado pelo veterinário da residência oficial da Vice-Presidência da República já ocupa espaço em sua galeria de fotos no celular e foi batizado de Joaquim por um dos seus netos. O bichinho virou o novo mascote da esposa de Geraldo Alckmin.
O perfil de Lu contrasta com o de Janja, primeira-dama que tem protagonismo no governo e uma sala no mesmo andar do gabinete presidencial no Palácio do Planalto. Janja busca se posicionar sobre diversos assuntos, é uma das principais vozes no círculo mais próximo a Lula e se articula junto a ministérios.
“Acho maravilhosa essa luta da Janja pela participação das mulheres na política e na sociedade. Ela é muito autêntica. Tenho um carinho e uma admiração profunda por ela” afirma.
Lu Alckmin, por outro lado, evita falar sobre temas polêmicos, calcula cada palavra ao tratar de assuntos sensíveis e está longe da rotina do governo. A convivência mais intensa entre Lu e Janja ocorreu na campanha de 2022, e agora se dá em momentos pontuais, como quando Lu a convidou para ir ao Sol Nascente, maior favela de Brasília, acompanhar a entrega de diploma da Padaria Artesanal em fevereiro, e no lançamento do livro infantil “ABC dos Coelhinhos”, em abril. A obra foi escrita por Lu.
“Agora não tem um convívio muito perto porque eu tenho meus compromissos e ela também. Então, a gente se fala, quando se encontra, se abraça, conversa, mas cada uma tem o seu estilo e tem o seu trabalho”.
Temas espinhosos
Em um ano e meio como segunda-dama, Lu percorreu a periferia de Brasília apresentando o projeto da Padaria. Ela também passou a buscar parcerias acompanhando Alckmin em viagens para levar a iniciativa a outros estados. Lu relata que não encontra resistências, mesmo com esposas de adversários políticos.
“Eu sou esposa do Geraldo. Não sou funcionária do governo. O trabalho é voluntário, e as pessoas respeitam”, afirma.
Católica, Lu evita temas espinhosos. Questionada se é contra o aborto, Lu se diz a favor da vida e afirma que o PL do Antiaborto na Câmara dos Deputados deve ser amplamente debatido.
“O Congresso representa a população. Então, tem que ouvir a população e ser discutido, porque isso é importante e eles são representantes do povo”.
Na avaliação de Lu, a participação feminina é cada vez maior na política.
“As mulheres estão muito atuantes e precisam ser muito boas para poder se sobressair nesse mundo masculino”.
Depois de viver uma reviravolta em sua trajetória, a partir da aliança de Lula com Alckmin, ela não arrisca dizer se a chapa presidencial será a mesma daqui a dois anos.
“Jamais pensaria no que vai acontecer em 2026, não sei nem se eu vou estar viva. Tenho que curtir o meu presente”, justifica.
Agência o Globo
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