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Distrital relata espera de 10 h, falta de remédios e ‘vaquinha’ em hospitais

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O deputado distrital Rodrigo Delmasso (PTN) encaminhou neste mês ao Executivo e ao Tribunal de Contas um relatório com 38 páginas de problemas encontrados em vistorias surpresas aos hospitais regionais de Planaltina, Santa Maria, Taguatinga, Gama, Samambaia e Ceilândia. Entre os flagrantes, registrados em fotos, há caixas de remédios vazias, pacientes em macas espalhadas por corredores, convocação para uma “vaquinha” para comprar um micro-ondas e cartazes informando a não realização de exames por falta de reagentes.

Outra denúncia feita pelo parlamentar é de que situações que desde 2008 vêm sendo questionadas pelo tribunal continuam ocorrendo: equipamentos funcionam em condições precárias; medicamentos são armazenados de forma inadequada nas farmácias; mais de 50% das pessoas que busca consulta não consegue atendimento em angiologia, urologia, reumatologia, psiquiatria, neurologia e cardiologia; e fila de espera de mais de quatro anos para ser atendido por dentista.

As visitas ocorreram no mês de janeiro, época em que o governador Rodrigo Rollemberg decretou estado de emergência na saúde, e duraram cerca de quatro horas cada. O chefe do Executivo se limitou a dizer ainda não ter tido acesso ao documento. O tribunal não deu retorno até a publicação desta reportagem. O secretário de Saúde, João Batista de Sousa, também declarou não ter recebido o relatório.

“Todo mundo está fazendo relatório, e eu agradeço muito. A OAB está fazendo relatórios, os parlamentares estão fazendo relatórios, nós estamos fazendo relatórios, os nossos dirigentes nos apresentam relatórios. Então a nossa situação da saúde no Distrito Federal é bem conhecida. Eu não estou precisando de relatório, estou precisando é de resolver o problema. Agora, para resolver esses problemas, que são crônicos, esses problemas não são de hoje, nós vamos ter que dispor de tempo, de recurso. Não é uma questão que se resolve de uma hora para a outra”, disseo secretário  ao G1.

O deputado afirmou reconhecer as dificuldades na área, mas disse esperar que o documento sirva para “provocar” o governo a se mobilizar mais rapidamente para resolver os problemas. A escolha pelos seis hospitais, dentre os 16 existentes na rede pública, se deu pelo fato de ficarem em regiões periféricas.

“O que a gente percebeu é que os gestores não tinham tomado providências para sanar aquelas indicações feitas pelo próprio tribunal [de Contas desde 2008]. O que fizemos foi um alerta para o gestor, secretário de Saúde, de ‘olha, existem aí recomendações, determinações do Tribunal de Contas’. Tem atitudes urgentes a serem tomadas. Parece que houve até piora. Quando uma situação é ruim, é degradante. As pessoas até param de acreditar naquilo, não fazem, não vão mais atrás”, explica.

“Pelo que percebi dos usuários do sistema público de saúde do DF, existe um descrédito no sistema. Elas não acreditam que a rede possam ajudá-las, mas usam porque não têm opção de usar outro. Estão desesperançosas”, completou o distrital.  “Como o governo atual está começando, acho que é um excelente momento para corrigir, colocar a saúde nos trilhos e recuperar a credibilidade do nosso sistema.”

No documento, Delmasso conta que em 6 de janeiro encontrou 90 pacientes aguardando por atendimento no Hospital Regional do Gama havia mais de dez horas. O grupo estava acomodado de maneira improvisada, diz, com macas em frente aos banheiros nos corredores do pronto-socorro. Remédios considerados básicos e de baixo custo, como dipirona, estavam em falta. Também não havia reagentes para a realização de dez exames de sangue.

A visita na unidade de Santa Maria ocorreu no dia 7. Lá, o parlamentar relata ter encontrado o ventilador mecânico da UTI quebrado, laboratório pequeno e sem ar-condicionado, macas com defeito amontoadas nos corredores e um cartaz avisando da vaquinha para a compra de um micro-ondas que seria usado para esquentar a água que esteriliza itens usados no berçário.Em Ceilândia, o distrital narra que encontrou 30 pacientes esperando cirurgia em ortopedia desde setembro de 2013, uma lista informando que faltavam 53 itens da farmácia – entre eles dipirona, Omeprazol, xarope, Dramin, agulhas, sonda, seringas, esparadrapo e preservativos – e leitos interditados. A visita ocorreu no dia 15.

“Outra constatação extremamente grave é referente ao número de leitos para internação”, escreveu. “A unidade dispõe de apenas 300, [mas], conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde, o hospital deveria disponibilizar cerca de mil leitos, com base na população da região.”

Taguatinga foi o destino do deputado no dia 15 de janeiro. O parlamentar relatou que o pronto-socorro da cardiologia estava superlotado, com 16 pacientes ocupando os oito leitos. Havia ainda, afirma, pacientes aguardando intervenções cirúrgica há meses, além da interdição da UTI neonatal.

A ida ao hospital de Samambaia aconteceu nos dias 17 e 18. Lá, de acordo com Delmasso, também faltavam anestésicos e agulhas. O parlamentar também diz ter encontrado equipamentos sem manutenção e pacientes que aguardavam procedimentos em outras unidades de saúde, mas não podiam ser deslocados por falta de ambulâncias.

A última visita aconteceu em Planaltina, no dia 20. O primeiro problema identificado pelo distrital foi a subutilização da enfermeira da emergência, que tinha metade dos oito leitos fechados por falta de manutenção. Havia ainda falta de cadeiras de banho para deficientes, sujeira nas instalações e mau cheiro.

Conclusões
O parlamentar afirmou acreditar que o orçamento da pasta, de R$ 5,9 bilhões, é suficiente e disse que a dedicação dos servidores é o que tem permitido que a rede funcione. Ele afirmou ainda que “basta sensibilidade” aos gestores para tratar a saúde como prioridade máxima e assim contornar o problema.

“[Há] Falhas de abastecimento, restrições de acesso ao atendimento em todos os níveis de complexidade, aumento das filas de cirurgia, déficit de profissionais. A falta de recursos humanos reduz a capacidade de atendimento da rede e tem reflexo direto na piora da qualidade do atendimento aos usuários. O quantitativo de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais profissionais de saúde é insuficiente”, diz no documento.

Uma reportagem feita pelo G1 mostra o quadro. Levantamento feito pela própria Secretaria de Saúde aponta que faltam 7,9 mil profissionais na rede, o que equivale a 20% do quantitativo considerado ideal. O gestor, João Batista, afirmou não ter perspectiva de fazer novas contratações neste ano – há vetos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, já que o DF atingiu o limite prudencial de gastos com pessoal – e disse estudar novos modelos de gestão.

Delmasso citou ainda outras situações. “Além da demora no atendimento, pacientes e acompanhantes precisam de muita paciência para enfrentar outras situações deploráveis, como macas nos corredores, falta de insumos e medicamentos, equipamentos sem manutenção, falta de leitos, depósito de lixo dentro dos hospitais etc.”

“A Secretaria de Saúde foi negligente no planejamento, falta de organização, vem prestando serviço à sociedade inapropriado, com sério risco à integridade e à universalidade da assistência. […] Em todos os hospitais é possível encontrar falta de respeito aos direitos do paciente. É comum, por exemplo, doentes e familiares serem orientados a comprar material básico e medicamentos para o atendimento, insumos e medicamentos que deveriam ser oferecidos pelas próprias unidades de saúde. Infelizmente é nítido o caos na saúde pública do Distrito Federal”, afirma.

O quadro também havia sido citado pela atual gestão do governo quando Rollemberg decretou oestado de emergência em meados de janeiro, válido por seis meses. Um balanço divulgado em 19 de fevereiro pela Secretaria de Saúde aponta algumas mudanças: compra de 240 dos 314 remédios que estavam em falta, reabertura de 23 dos 101 leitos de UTI que estavam fechados por falta de pessoal e reparos em 28 das 35 ambulâncias que estavam paradas.

Delmasso disse que vai seguir acompanhando as ações na área e que pretende voltar a vistoriar os hospitais. “Vamos fazer visitas de pontos de controle do nosso relatório para ver o que andou, o que não andou, o que executou o que não executou, se o relatório foi levado em consideração ou não. Não quero saber quem é o culpado. Para mim, quem tem que julgar isso é Justiça. A minha contribuição é para olhar para frente, é dizer que já se levantou os problemas e que quero saber quais são as soluções. As pessoas vão para o hospital e já sabem que vão passar lá 12 horas. O cidadão se sente desprezado. Ele não é tratado como deve ser tratado.”

Fonte: G1

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