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Dólar cai após relatório fraco de emprego nos EUA e fecha a R$ 5,41

O dólar terminou o pregão desta sexta-feira (5) com uma queda significativa, embora tenha se mantido longe das mínimas observadas na manhã, quando chegou a romper a marca de R$ 5,40. A queda forte da moeda americana foi motivada pelo relatório de emprego (payroll) que evidenciou o enfraquecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos, impulsionando expectativas de cortes mais agressivos na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed) até o final do ano.
A redução das perdas durante a tarde acompanhou o comportamento da moeda americana no mercado externo, após declarações mais cautelosas de um representante do Fed. Operadores também consideraram que ajustes intradia e a queda de mais de 2% no preço do petróleo podem ter contribuído para que a taxa de câmbio voltasse a superar R$ 5,40.
Com mínimas em R$ 5,3826, o dólar fechou com uma desvalorização de 0,63%, cotado a R$ 5,4124. Graças à queda desta sexta, a moeda finaliza a semana em leve baixa (0,18%), após ter recuado 3,19% em agosto. No acumulado do ano, a desvalorização é de 12,42% contra o real, que apresenta o melhor desempenho entre as moedas latino-americanas no período.
O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, destaca que a surpresa trazida pelo relatório payroll “aumenta substancialmente” as chances de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve nos próximos meses, o que tende a enfraquecer o dólar.
“Já se cogita uma redução de 50 pontos-base na próxima reunião. O mercado esperava dados fracos, mas o resultado foi ainda pior, fortalecendo a percepção de que os próximos meses terão cortes mais intensos”, comenta Gala em nota.
Externamente, o índice DXY — que avalia o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis moedas fortes — caiu cerca de 0,60% no fim da tarde, posicionando-se próximo a 97,770 pontos, após atingir mínimos de 97,430 pontos pela manhã. O Dollar Index fechou a semana com uma queda de aproximadamente 0,10% e, no ano, acumula perdas superiores a 9,80%.
Foram criados apenas 22 mil empregos nos EUA em agosto, número bem abaixo da mediana das estimativas coletadas pela Projeções Broadcast, que apontava para 76 mil novos postos. Os dados de julho foram revisados para cima, passando de 73 mil para 79 mil, enquanto junho mudou de criação de 14 mil vagas para eliminação de 13 mil.
A divulgação do relatório enfrentou atraso devido a problemas técnicos, conforme informou o Departamento do Trabalho dos EUA. Esse episódio reacendeu dúvidas sobre possíveis tentativas de interferência da administração Trump na elaboração dos dados, especialmente após a demissão da líder em estatísticas do departamento, Erika McEntarfer, no início de agosto, depois do relatório fraco de julho.
“Outros indicadores divulgados durante a semana também reforçaram o enfraquecimento do mercado de trabalho, como o relatório ADP e os componentes referentes ao emprego nas pesquisas de atividade industrial e de serviços”, observa o diretor de Macroeconomia do Banco Pine, Cristiano Oliveira. “Com isso, a curva de juros nos EUA precifica praticamente 100% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual em 17 de setembro, além de mais quatro reduções nos meses seguintes”, explica o diretor.
Ferramenta de monitoramento do Chicago Mercantile Exchange (CME Group) indica o surgimento de apostas para corte da taxa em 50 pontos-base em setembro, ainda que com baixa probabilidade, pouco acima de 10%. A expectativa de redução acumulada de 75 pontos-base até o fim do ano saltou de cerca de 50% para mais de 65%.
À tarde, o presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou que o ritmo de contratação nos EUA “pode estar artificialmente menor” devido à política migratória adotada pelo presidente Trump. “Se começarmos a ver demissões, então eu ficaria mais preocupado com o mercado de trabalho”, declarou.
Goolsbee, que tem direito a voto nas reuniões de política monetária deste ano, ressaltou a necessidade de prestar atenção à inflação, argumentando que é fundamental garantir que o aumento nos preços dos serviços seja apenas temporário.
Diante deste cenário, o dirigente declarou estar “indeciso” quanto ao seu voto na próxima reunião do Fed.
“Goolsbee procurou moderar o otimismo do mercado. Suas falas são compatíveis com a possibilidade de corte em setembro, mas o alerta sobre a inflação dos serviços e o movimento de contratações indica que um corte de 50 pontos-base ainda é um cenário menos provável”, avalia o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. Para ele, um corte dessa magnitude pode acontecer se o índice de inflação ao consumidor de agosto, que será divulgado no dia 11, mostrar um enfraquecimento significativo.

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