Economia
Dólar sobe um pouco mesmo com inflação tranquila nos EUA
Após uma queda inicial pela manhã motivada pela leitura favorável da inflação ao consumidor nos EUA, que sugere a possibilidade de mais dois cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve até o final do ano, o dólar à vista se valorizou durante a tarde, fechando a sexta-feira, 24, com leve alta.
Operadores comentam que a redução no preço do petróleo e a diminuição das perdas do dólar frente a outras moedas emergentes estimularam a realização de lucros no mercado local, que operava com liquidez reduzida.
Há também sinais de maior demanda tanto no mercado à vista quanto no futuro, um comportamento comum nesta época do ano devido ao aumento das remessas ao exterior.
Com variação entre R$ 5,3628 e R$ 5,4032, o dólar fechou com alta de 0,12%, cotado a R$ 5,3926. A moeda encerra a semana com queda de 0,24%, porém mantém ganhos em outubro (1,31%). No acumulado do ano, o dólar recua 12,74% frente ao real.
Em relação à economia brasileira, destaca-se o IPCA-15 de outubro, que subiu 0,18%, abaixo da mediana das projeções, que era 0,24%. Os investidores estão aumentando a expectativa para o começo de um ciclo de redução da taxa Selic em janeiro, embora alguns especialistas ainda considerem cedo para mudanças significativas nas operações de carry trade, devido à diferença entre as taxas de juros internas e externas.
Ricardo Gallo, sócio da Ethica Services, explica que a valorização do real este ano decorre da fraqueza global do dólar e da atratividade das operações de carry trade, impulsionada pela taxa de juros elevada e baixa volatilidade da moeda. Isso levou investidores estrangeiros a diminuírem suas posições em dólar. “Estamos no clima de carry trade. Se a Selic cair ou a volatilidade aumentar, o retorno diminui, mas o movimento persiste mesmo se o dólar subir lá fora”, comenta Gallo.
Analistas também apontam que o real se valorizou apesar do aumento do déficit nas contas externas. O Banco Central informou que o déficit em transações correntes atingiu US$ 9,774 bilhões em setembro de 2025, o maior para o mês na série histórica, superando expectativas.
Relatórios do Itaú mencionam que o déficit maior do que o esperado reflete uma saída elevada de lucros e dividendos, enquanto o Bradesco destaca o impacto da importação de uma plataforma de petróleo, que reduziu o superávit comercial. A XP prevê que o déficit em conta corrente excederá o ingresso de Investimento Direto no País em 2025 pela primeira vez desde 2015.
Recentemente, o Banco Central anunciou que realizará uma intervenção dupla no mercado de câmbio na próxima segunda-feira, 27, com a finalidade provável de reduzir as pressões de alta no cupom cambial e atender a uma demanda pontual por dólares.
A intervenção, conhecida como “casadão”, consiste na oferta simultânea de US$ 1 bilhão em swaps cambiais reversos (equivalente à compra de dólar futuro) e venda de até US$ 1 bilhão à vista, semelhante à operação realizada em junho deste ano.
Sergio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, explica que o “casadão” não altera diretamente a taxa de câmbio, pois não muda a exposição cambial do mercado. “Entretanto, essas operações pressionam para baixo o cupom cambial, o que favorece o carry trade e encarece o hedge cambial. O Banco Central provavelmente identificou um fluxo mais forte de saída de dólares nos próximos dias”, afirma Goldenstein.

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