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Eleição no Chile tem extrema direita como favorita

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Os chilenos votam para presidente neste domingo (14) em um país dividido entre o candidato mais à direita desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet, há 35 anos, e uma comunista moderada que representa a esquerda.

As pesquisas indicam que José Antonio Kast, advogado de 59 anos, católico devoto e pai de nove filhos, é o favorito. Ele promete deportar cerca de 340 mil imigrantes irregulares, em sua maioria venezuelanos, e combater a criminalidade.

Sua adversária é a comunista moderada Jeannette Jara, advogada de 51 anos, de origem humilde e ex-ministra do Trabalho, que promete aumentar o salário mínimo e defender as aposentadorias.

Quase 16 milhões de chilenos começaram a votar às 8h00 (horário local e de Brasília). As urnas fecharão às 18h00.

“Vou votar em Kast porque ele me inspira mais segurança. O comunismo nunca foi algo positivo em lugar nenhum”, disse à AFP José González, caminhoneiro de 74 anos, enquanto aguardava na fila para votar no centro de Santiago.

Kast afirma repetidamente que “o país está em crise”. Esta é sua terceira tentativa para alcançar a presidência, agora como candidato do Partido Republicano, que fundou há cinco anos por considerar a direita tradicional muito leniente.

Em seus eventos públicos, protegido por vidros à prova de balas em um dos países mais seguros da região, este ex-deputado retrata o Chile quase como um Estado falido dominado pelo tráfico de drogas, um país que se distanciou do “milagre econômico” que o tornou uma das nações mais prósperas da América Latina.

“O que importa mais do que benefícios sociais são empregos e segurança. Que as pessoas possam sair de casa sem receio e voltar à noite sem pensar que algo ruim pode acontecer nas ruas”, disse à AFP Úrsula Villalobos, dona de casa de 44 anos, que votará em Kast.

“Precisamos tomar medidas duras no início para depois alcançar um país pacífico”, acrescentou.

Ex-presidente Pinochet em contexto

Segundo a última pesquisa do Ipsos de outubro, 63% dos chilenos consideram o crime e a violência como suas principais preocupações, seguidos pelo baixo crescimento econômico.

Especialistas indicam, contudo, que a sensação de medo no Chile é mais acentuada do que os dados reais de criminalidade.

Os homicídios dobraram na última década, apesar de terem diminuído nos últimos dois anos. Ainda assim, houve aumento em crimes violentos, como sequestro e extorsão, coincidindo com a chegada ao país de gangues venezuelanas, colombianas e peruanas.

O governo de esquerda de Gabriel Boric, ex-líder estudantil que chegou ao poder depois dos protestos massivos de 2019, não conseguiu reformar a Constituição da era Pinochet, o que prejudicou muito seu apoio político, segundo Robert Funk, professor de ciência política da Universidade do Chile.

Muitos chilenos desejam mudanças.

Cecilia Mora, aposentada de 71 anos, votará em Jara para preservar benefícios sociais e porque vê em Kast uma figura que lembra o autoritarismo da ditadura de Pinochet.

“Quero que meu país volte a ser tranquilo, onde se possa andar livremente sem medo de ter a carteira roubada. (…) Kast me faz lembrar muito a ditadura” que deixou 3.200 mortos e desaparecidos entre 1973 e 1990, afirmou.

Favorito apesar da polêmica

Kast apoiou a ditadura militar e declara que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele. Contudo, nesta campanha, evitou abordar temas que poderiam lhe custar votos, como sua oposição ao aborto em qualquer condição.

Reportagens de 2021 revelaram que o pai de Kast, nascido na Alemanha, foi membro do Partido Nazista de Adolf Hitler. Kast afirma que seu pai foi um recruta forçado do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e nega que ele tenha apoiado o nazismo.

No primeiro turno das eleições, há um mês, tanto Jara quanto Kast receberam um quarto dos votos, com ligeira vantagem para a candidata de esquerda. Porém, os votos da direita somaram 70%, o que indica que Kast deve vencer a presidência.

Desde 2010, direita e esquerda alternam-se no poder do Chile a cada eleição presidencial.

“Kast deve vencer com uma boa margem, mas não se deve supor que ele tem carta branca para tudo”, pois muitos estão votando nele por receio da candidatura de Jara, avalia Funk.

O apoio a Kast ocorre principalmente “apesar de sua conexão com o passado autoritário, não por causa dela”.

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