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Eleições no Japão podem influenciar finanças públicas e afetar moeda e títulos

O cargo do primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, e importantes negociações comerciais com os Estados Unidos estão em jogo nas eleições nacionais deste domingo.
O Partido Liberal Democrata, liderado por Ishiba, perdeu a maioria na Câmara Baixa do Parlamento em novembro passado. Pesquisas recentes indicam que ele pode perder também na Câmara Alta em 20 de julho, o que poderia resultar na saída do premiê impopular. Esse cenário político instável não seria favorável ao Japão, que enfrenta um prazo até 1º de agosto dado pelo presidente Donald Trump para reduzir ameaças de tarifas de 25% sobre aproximadamente US$ 150 bilhões em exportações anuais para os EUA.
Os resultados eleitorais têm potencial para impactar os mercados de títulos públicos e a moeda nacional, o iene. Ishiba é conhecido por defender uma política fiscal conservadora, buscando controlar a dívida do governo japonês, que ultrapassa 200% do Produto Interno Bruto, apesar da leve redução após a pandemia de Covid-19.
Um novo líder poderia adotar uma postura de maior estímulo fiscal, o que preocupa os chamados “vigilantes dos títulos”. Os rendimentos dos títulos do governo japonês de 10 anos subiram 50% desde o começo do ano e tiveram um aumento considerável no último mês, alcançando o maior patamar desde 2008. Títulos de prazos maiores, como os de 20 e 30 anos, também registraram máximas históricas recentes.
De forma mais ampla, os eleitores reagem à esperada saída do Japão de uma longa fase de deflação, um processo que pode ser menos aceito internamente do que nos mercados financeiros. A inflação ao consumidor já está acima de 3% ao ano, reduzindo o poder de compra das pensões numa população com a média de idade mais alta do mundo. O aumento do custo de vida está entre as maiores preocupações dos japoneses, junto com escândalos de corrupção que prejudicaram a credibilidade do Partido Liberal Democrata no último ano.
Se Ishiba vencer, ele terá mais liberdade para negociar concessões que Trump deseja, como reduzir barreiras para automóveis americanos e abrir o mercado doméstico de arroz. As tarifas americanas representam risco significativo para setores exportadores do Japão, como as montadoras Toyota e Honda, especialmente enquanto Trump também pede aumento de gastos militares. Caso Ishiba perca a maioria, nenhuma força da oposição parece forte o bastante para assumir o governo, deixando o futuro político do Japão incerto num momento crucial.

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