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Em áudio, Liliane Roriz e Luiz Estevão debatem indicações na Câmara do DF
Ex-senador cita nomeação de genro; ‘eu não ia contra’, responde Liliane. Eles também citam ‘bancada da fatura’ com três distritais; MP investiga.
Áudios entreguem ao Ministério Público do Distrito Federal e divulgadas pela TV Globo mostram conversas em que a deputada distrital Liliane Roriz (PTB) discute uma barganha por cargos na Câmara Legislativa com o ex-senador Luiz Estevão. Os advogados que acompanham os parlamentares não quiseram comentar os áudios.
A conversa sugere que o encontro, realizado na casa de Liliane em março de 2015, foi uma “reconciliação” entre os políticos. Na época, a distrital era filiada ao PRTB, partido comandado por Estevão. Eles teriam discutido em função das nomeações de servidores comissionados na Câmara do DF.
Liliane Roriz: Falei, calma Luiz, espera um pouco, deixa eu ajeitar as coisas, que eu vou te atender naquilo que você precisar.
Luiz Estevão: Aham. […] Deixa eu te falar, agora, vou te contar qual é. Eu perdi tanto com essa sua atitude de não nomear meu pessoal, Liliane. Eu não sei se vou te perdoar, sabia?
Entre o fim de 2015 e o início de 2016, Liliane montou um sistema de gravação e capturou uma série de conversas com políticos. Na época, Luiz Estevão cumpria pena em regime aberto – um ano depois, em março deste ano, ele foi transferido para a Papuda.
Os áudios foram entregues ao MP e deram origem a investigações sobre esquemas de corrupção em contratos da Secretaria de Saúde e emendas da Câmara Legislativa, por exemplo.
Promessa de cargos
Em outro trecho da gravação, Liliane e Estevão conversam com o então secretário-geral da Casa, Valério Neves. No diálogo, eles comentam a nomeação de um genro do ex-senador para cargo comissionado. Liliane sugere que vai conceder a vaga, e Estevão explica porque está fazendo o pedido.
Estevão: Aquele trabalho pra ele, eu te digo, por que que ele está trabalhando ali? Eu não podia chegar e tirar R$ 15 mil do meu bolso e dar pra ele? Não é a mesma coisa, você sabe disso. Claro, né? Não é verdade, Valério.
Valério Neves: É.
Estevão: Não vou chegar e dar uma mesada pro cara que é meu genro. Nem vou botar ele trabalhando na minha empresa. Mas eu, ele trabalhando na Câmara Legislativa é um outro cenário. Você entendeu?
O grupo também comenta a formação atual da Câmara Legislativa, e atribui o nome de “bancada da fatura” a um grupo de três distritais.
Estevão: Aí, você pega a bancada da fatura. São mais três…
Liliane: A bancada da fatura é Leonardo Prudente, Robério…
Estevão: E o…
Liliane, Estevão e Valério: O Cristiano.
A conversa não deixa claro a razão do apelido de “bancada da fatura”. Leonardo Prudente é ex-distrital, pai do atual parlamentar Rafael Prudente (PMDB). O grupo também cita os nomes de Robério Negreiros (PSDB) e Cristiano Araújo (PSD).
Araújo é investigado pela Polícia Civil e pelo MP por citações em outras conversas, referentes a suposta propina paga em emendas parlamentares que foram destinadas para pagar dívidas do GDF com empresas de UTIs, no fim do ano passado. Nesta quarta, ele informou que não vai comentar o conteúdo das gravações.
A gravação continua, e Liliane diz que “faltou conversa” entre ela e o ex-senador no acordo sobre os cargos para familiares.
Liliane: Se você tivesse falado, ‘Liliane, arruma dois assim, nesse valor, duas namoradas minhas’, eu não ia contra.
Estevão: Não é para a namorada, é para a mãe da namorada.
Valério: [risos]
Estevão: Liliane…
Liliane: Pelo amor, meu Deus do céu!
Estevão: Liliane, pelo amor de Deus, Liliane. Seja, tenha coração, Liliane.
Outros áudios
Gravações divulgadas pela TV Globo nesta terça (6) mostraram que Liliane e Estevão também conversaram sobre corrupção e financiamento de campanha. As falas sugerem que o ex-senador Gim Argello (PTB), preso na operação Lava Jato, teria recebido dinheiro de empreiteiras que não queriam ser investigadas na CPI da Petrobras, no Congresso.
“Você não terá um Gim Argello, vice-presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a Petrobras, em que as empreiteiras… até então, não tinha começado a Lava Jato… pagariam qualquer preço ao Gim para que ele evitasse que elas fossem convocadas para depor na CPI. Verdade, isso, ou não é? Por que que você acha que aquelas doações aconteceram?”, diz o ex-senador no trecho.
A conversa foi entregue ao Ministério Público e encaminhada à força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, como uma contribuições para as investigações sobre o esquema relacionado às empreiteiras. A mesma gravação também deve ser analisada pelo MP do DF, que apura suspeitas de corrupção na Câmara Legislativa na operação Drácon.
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