Brasil
Em rara saída, paciente internado há 45 anos visita feira de games em SP
“Desde a primeira vez em que o vi em um filme, me encantei com seu estilo. A pintura, a forma: é uma arte”, explica Paulo, sobre a escolha do personagem, que na saga é da raça zabrak, vindo do planeta Dathomir.
Quarenta e cinco anos atrás, quando foi diagnosticado com poliomielite, Paulo acabou internado no Hospital das Clínicas (HC). Na época, já era órfão de mãe. Nunca mais moraria em outro lugar que não fosse um quarto do hospital.
O que não significa que tenha se isolado do mundo. Com muito bom humor, não desistiu de nada. De seu quarto concluiu até o ensino médio e depois fez diversos cursos pelo Senac – um professor era encarregado de acompanhá-lo no hospital. “Viciado” em games e informática, ele passou a criar animações no computador.
Paulo criou a série Brincadeirantes, que conta, de forma lúdica, a saga de sete crianças com deficiência física. “Tudo baseado em fatos reais, em coisas que vi ou vivi dentro do hospital”, diz ele, que tem movimentos apenas nas mãos e depende de aparelho de respiração artificial. Ele também mantém um blog, chamado Vários Prismas, Infinitos Lados, no site do jornal Folha de S. Paulo.
Games
Entre as raras saídas do HC em quatro décadas, participar do Brasil Game Show já faz parte da agenda. Na quinta-feira foi a terceira vez que Paulo compareceu ao evento, considerado o maior do setor na América Latina – e a primeira em que decidiu incorporar um personagem. Mas seu objetivo principal era experimentar as últimas novidades do mercado de games.
“Ele é imbatível nos jogos”, diz a enfermeira Thamara Julia Alves, de 24 anos, que acompanhava Paulo, ao lado da colega Elcilene Fernanda Bragança, de 38 anos. “Não tem para ninguém: mesmo os que vão visitá-lo, sempre perdem para ele.”
A ideia de fazer Paulo incorporar Darth Maul foi do amigo fotógrafo André Mello. Ele acompanha o paciente há alguns anos, fotografando seu dia a dia no hospital. Na tarde de ontem, outro amigo, o fotógrafo San Cruz, fez os registros pessoais da visita à feira.
A maquiadora, voluntária, veio de Atibaia especialmente para o trabalho. “Preparei uma maquiagem linda e simétrica”, conta ela, que disse ter tomado cuidados especiais com os adereços, para que Paulo não ficasse incomodado durante a tarde no evento.
Rotina
Das sete crianças vítimas de pólio que foram internadas no Hospital das Clínicas há mais de 40 anos, no período em que São Paulo viveu um surto de paralisia infantil, apenas duas sobreviveram. São os pacientes que estão há mais tempo internados no hospital. A “vizinha” de Paulo é Eliana Zagui, de 41 anos, que ele trata como “irmãzinha”.
Ao longo dos anos, o vírus da poliomielite trouxe restrições à vida de ambos. Paulo perdeu os movimentos das pernas e não consegue respirar sozinho. Eliana só movimenta os olhos e a boca – ambos precisam de aparelhos para respirar.
Por outro lado, os avanços tecnológicos fizeram com que eles tivessem uma melhor qualidade de vida – dos respiradores mais leves e portáteis aos itens usados como entretenimento: primeiro o walkman, depois o videogame, em seguida os computadores.
Criatividade não falta para a dupla. Se Paulo dedica-se às animações de computador, Eliana aprendeu ao longo dos anos a pintar quadros com a boca.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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