Empresa que dá prêmios de 50 mil reais por vídeos virais foca em políticos

Uma empresa que cria, gerencia e distribui vídeos curtos virais, conhecidos como cortes, tem focado na divulgação de conteúdos de políticos em ano pré-eleitoral. Os responsáveis, jovens na faixa dos 20 anos, oferecem o serviço de envio de vídeos através de campeonatos de cortes.

Um deputado do PT relatou ao Metrópoles, sob anonimato, que foi abordado há cerca de um mês pela empresa ClipfyAI. Segundo ele, três jovens representantes da empresa o procuraram no gabinete para apresentar a plataforma de cortes. O custo do serviço seria R$ 300 mil por seis meses ou R$ 70 mil por um mês.

A empresa desenvolveu uma inteligência artificial para auxiliar na viralização dos conteúdos. Essa ferramenta cria e gerencia várias contas automaticamente, distribuindo vídeos em larga escala. Existe uma plataforma específica para campeonatos, com prêmios de até R$ 50 mil para os melhores produtores de cortes.

Evento programado para novembro

Nas redes sociais, o empresário Daniel Antunes, fundador da ClipfyAI, é apresentado como um empreendedor de sucesso em tecnologia. Ele possui vídeos ensinando como ganhar dinheiro online com a produção de cortes, contando com cerca de 60 mil seguidores no Instagram.

Em um vídeo, Antunes convida usuários para um campeonato de cortes em novembro, prometendo mais de R$ 50 mil em prêmios. Ele explica que é necessário apenas um celular para editar e postar o máximo possível de vídeos, seguindo regras específicas dentro de um grupo.

Em outra postagem, o empresário divulga a chance de ganhar até R$ 10 mil mensais apenas produzindo cortes de vídeos virais.

O mesmo grupo organizou um campeonato suspeito de ter sido feito para viralizar vídeos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Um print mostrou um organizador orientando participantes com base em indicações da suposta “equipe de Tarcísio”. No entanto, o governo paulista negou qualquer envolvimento.

Impacto para as eleições de 2026

A candidatura do empresário Pablo Marçal (PRTB) em 2024, usando vídeos virais para ganhar visibilidade, motivou o surgimento de várias empresas oferecendo ferramentas para produzir e distribuir esse tipo de conteúdo, estimulando competições com prêmios em dinheiro para os melhores produtores.

Embora o modelo tenda a atender entretenimento, influenciadores e marcas, também há grande presença de vídeos políticos. Usuários discutem se essa prática pode violar regras das plataformas devido à remuneração.

Funcionamento da ferramenta

Segundo Paulo Grego, CEO da Core Lab, que atua na área, o processo gamifica e profissionaliza a criação de cortes. Os vídeos competem em rankings baseados em visualizações e curtidas, com premiações. O foco da empresa está no entretenimento e negócios, não em comunicação eleitoral, mas há preocupação com o possível avanço para o ambiente político.

Antecedentes legais

Pablo Marçal foi condenado em abril a ficar inelegível por oito anos pela Justiça Eleitoral devido ao uso inadequado de meios de comunicação e gastos ilegais, principalmente com concursos de cortes e premiações para viralizar conteúdos.

Especialistas afirmam que a internet está sempre à frente das leis, mas ressaltam que, fora do período eleitoral, contratar esses serviços não constitui ilegalidade desde que haja transparência. Durante as eleições, impulsionar conteúdos é permitido apenas a candidatos, e competições de cortes podem ser interpretadas como uma forma disfarçada de impulsionamento e, portanto, proibidas.

Possível propaganda antecipada

O professor Fernando Neisser, da FGV/SP, destaca que oferecer dinheiro através de prêmios em contexto eleitoral pode configurar abuso de poder econômico e propaganda antecipada, práticas proibidas pela legislação. Ele enfatiza que a responsabilidade por cessar tais práticas pode recair sobre quem as realiza, mesmo indiretamente.

A discussão sobre o impacto dessas novas estratégias digitais no processo eleitoral ainda está em aberto, com atenção especial das autoridades e especialistas no tema.