Conecte Conosco

Mundo

Encontro global reúne famílias de desaparecidos

Publicado

em

Cerca de 900 participantes de 50 nações debatem políticas de suporte às famílias de pessoas desaparecidas. O evento ocorre em múltiplos países simultaneamente, tendo como núcleo presencial a cidade de Genebra, na Suíça, e é organizado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) juntamente com as sociedades nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. As discussões iniciaram na terça-feira (11) e terminam nesta quinta-feira (13).

A delegação brasileira, composta por mais de 50 membros, participa da 4ª Conferência Internacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas diretamente da sede do CICV em São Paulo. Entre eles estão representantes de associações de nove estados, que interagem online e compartilham suas vivências.

Fernanda Baldo, Oficial de Proteção do CICV e parte da equipe organizadora da conferência, explica: “No Brasil, existem familiares de pessoas desaparecidas durante o regime militar e também de outras situações de violência civil e política. Eles se reúnem anualmente para alinhar agendas e criar estratégias internas para a mobilização nacional, além de promover o diálogo com as autoridades.”

Esses grupos buscam aprimorar os métodos de procura, formar redes de apoio e garantir que as necessidades físicas, de saúde, jurídicas, de memória e de acesso aos direitos dessas famílias sejam atendidas, fornecendo respostas eficazes ao impacto desse fenômeno, conforme detalha Baldo. No evento, os grupos locais terão a oportunidade de conhecer outras realidades e utilizar essas experiências para melhorar suas ações em seus próprios territórios.

Fernanda Baldo acrescenta que “na conferência anterior foi criado o Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, que une várias organizações dispersas e que atuam em diferentes regiões ou temas.”

Participam da rede várias associações locais como Mães da Sé, Mães em Luta e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Baldo destaca que houve uma evolução importante: enquanto nas primeiras conferências as famílias focavam em suas dores e casos individuais, atualmente o discurso é mais estratégico e direcionado à interlocução com demandas definidas.

O Brasil enfrenta o desafio constante de integrar diferentes lutas, principalmente dos familiares dos desaparecidos durante a ditadura e daqueles desaparecidos em outros contextos.

Baldo também menciona a necessidade de estabelecer reuniões regulares e claras com os órgãos responsáveis pela Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, incluindo ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos, para monitorar sua implementação.

Outra demanda das associações brasileiras é a criação de um Banco Nacional de Amostras Genéticas e a consolidação de um Cadastro Nacional de Desaparecidos, que enfrenta dificuldades na integração dos bancos de dados estaduais.

Origem da integração em São Paulo

A mobilização das famílias remonta aos anos de repressão da ditadura, mas ganhou força em 2015, quando o CICV passou a atuar junto às famílias mobilizadas pela vala clandestina do cemitério de Perus, na zona norte de São Paulo, local onde foram enterrados centenas de corpos de pessoas desaparecidas na ditadura.

Esse trabalho conjunto de universidades e familiares permitiu a identificação de parte dessas ossadas, uma realidade conhecida desde a descoberta da vala em 1990.

Hânya Pereira Rego, parente de pessoa desaparecida e representante do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, relata: “Foram realizadas várias reuniões com familiares de desaparecidos políticos, um trabalho intenso do CICV para superar conflitos entre os grupos sobre a atuação das pessoas desaparecidas durante o regime.”

Esse processo de amadurecimento permitiu que, após anos, o grupo atuasse como uma rede unificada na interlocução com o Estado.

Hânya reforça que esses momentos de troca são fundamentais para a obtenção de novas colaborações e conhecimentos sobre ferramentas utilizadas em outros países.

Ela também destaca avanços institucionais, como a qualificação de agentes públicos na assistência às famílias, incluindo forças de segurança e saúde, embora muitas vezes ainda faltem formas adequadas de acolhimento e orientação.

Experiências de países vizinhos

José Benjamim Gamboa Lizarazo, coordenador da Seccional Cúcuta da Asfaddes (Asociación de Familiares de Detenidos – Desaparecidos), busca por seu pai desaparecido desde 2002 na Colômbia. A associação foi criada em 1982 para apoiar famílias afetadas pelo conflito armado e atua em políticas de identificação e busca, além de promover o reconhecimento do desaparecimento forçado como crime.

Gamboa destaca que a militância dos familiares foi crucial para incluir a busca pelos desaparecidos nos acordos de paz firmados na década passada e pede a criação de um instituto dedicado a orientar esse trabalho.

Ele denuncia dificuldades para a efetividade das medidas de busca devido à falta de atuação de instituições e à persistência de conflitos armados que impedem investigações forenses em áreas conflagradas.

Gamboa enfatiza a importância das estratégias de pressão, marchas, plantões e vigilias para exigir a busca e dignificar a memória dos desaparecidos, apontando semelhanças nas lutas enfrentadas por famílias em diferentes países afetados por violência.

Como se engajar na mobilização

A maior parte da conferência é fechada para garantir a segurança dos participantes e a confidencialidade das informações. Momentos públicos, como a divulgação da carta das famílias, serão disponibilizados nos canais da Cruz Vermelha para acesso geral.

Familiares interessados em participar dessas ações podem buscar grupos locais por meio de redes de assistência social, entidades envolvidas no movimento e canais oficiais como ministérios e a Cruz Vermelha.

Clique aqui para comentar

Você precisa estar logado para postar um comentário Login

Deixe um Comentário

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados