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Economia

Energia limpa: como combater o aquecimento global

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A combustão de combustíveis fósseis libera dióxido de carbono (CO2), um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. Embora necessário para a geração de energia, esse processo impacta negativamente o clima. Para enfrentar esse desafio, a descarbonização se torna uma estratégia crucial.

Tecnologias de Captura, Armazenamento e Transporte de Carbono (CCS) impedem que o gás seja liberado na atmosfera, ajudando a conter as mudanças climáticas e possibilitando a criação de créditos de carbono, o que pode incentivar a participação da indústria e acelerar a transição para uma economia sustentável.

O CO2 é capturado por métodos variados, depois transportado, comprimido e injetado em formações geológicas profundas para armazenamento a longo prazo.

Apesar do Brasil contar com cerca de metade da sua matriz energética composta por fontes renováveis, diferentemente do cenário global onde predominam as fontes não renováveis, o país possui potencial para capturar até 200 milhões de toneladas de CO2 por ano, segundo a CCS Brasil. Em Pernambuco, que foi o sexto estado com menor emissão de gases de efeito estufa em 2023, podem ser capturadas aproximadamente 550 mil toneladas de CO2 anualmente.

A cofundadora da CCS Brasil, Nathalia Weber, explica que o conjunto de tecnologias CCS (ou CCUS, quando se utiliza o CO2 capturado) é estudado há décadas, mas ganhou novo significado com a busca mundial por metas de neutralidade de carbono.

“CCS é útil para reduzir emissões em qualquer uso de combustível fóssil e também para retirar CO2 da atmosfera quando aplicada à captura direta do ar ou à bioenergia”, afirma Nathalia. “Precisamos de uma solução definitiva para lidar com os grandes volumes que não conseguimos evitar. A resposta está na injeção em reservatórios geológicos”, acrescenta.

Potencial de Pernambuco

Heloisa Borges, diretora de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca que Pernambuco possui condições favoráveis para o avanço da CCS, graças à proximidade entre grandes fontes emissoras e locais potenciais para armazenamento geológico, especialmente na região de Suape, além de uma matriz energética limpa e um ambiente acadêmico e institucional ativo.

Esses fatores reduzem custos, atraem investimentos e posicionam o estado como um polo nacional promissor para a descarbonização. Nathalia Weber destaca que Pernambuco combina fontes emissoras, inclusive da produção de etanol, com bacias sedimentares, o que é ideal para a tecnologia.

A professora de Geologia e Vulcanologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carla Barreto, estuda o potencial das rochas vulcânicas da Suíte Magmática Ipojuca, em Suape, que apresenta emissões significativas, para o armazenamento geológico de carbono.

Quando o CO2 é injetado em formações rochosas no subsolo, ele reage com minerais presentes nas rochas, formando minerais carbonatados estáveis. “Esse processo transforma o CO2 gasoso em um sólido estável, imobilizado permanentemente na estrutura mineral da rocha, eliminando o risco de vazamento e oferecendo uma forma segura e natural de remover o carbono da atmosfera”, explica Carla. “Ao se integrar à rocha, o CO2 deixa de ser um risco ambiental.”

Pioneirismo no Brasil

O país conta com projetos pioneiros de CCS em operação e outros em estágio avançado de implantação. Segundo Heloisa Borges, a tecnologia mais destacada é a injeção de CO2 para recuperação avançada de petróleo, usada pela indústria desde os anos 1990.

Na Bacia de Santos (SP), a Petrobras desenvolve essa técnica, que representa 28% da capacidade de armazenamento do país. Nathalia Weber destaca que é o maior projeto de CCUS do mundo, que injeta CO2 em reservatórios de petróleo para melhorar a extração, tornando a produção mais eficiente.

Heloisa reforça o compromisso de garantir que o Brasil aproveite de forma soberana, segura e estratégica o potencial dessa tecnologia.

Para viabilizar a tecnologia, é necessário desenvolver uma infraestrutura específica para o transporte de CO2. Nathalia Weber menciona que o potencial do Brasil para CCS é grande, limitado apenas pelo volume de emissões atuais, e que o desenvolvimento da infraestrutura é essencial.

Ela também defende a importância da cooperação e a criação de políticas públicas que ofereçam incentivos reais para os setores industriais adotarem essas tecnologias.

Importância da solução permanente

Nathalia Weber ressalta que captura e armazenamento de carbono é uma solução permanente e indispensável para enfrentar a crise climática. Setores como cimento e siderurgia ainda dependem do carbono, e substituir esse recurso em larga escala não é viável atualmente, por isso a infraestrutura para CCS é urgente e essencial para a transição para uma economia com baixas emissões de carbono.

“CCS não é temporário. Mesmo que parem as emissões de CO2 amanhã, será necessário remover moléculas de carbono por muitos anos. O carbono vem de combustíveis fósseis ou biomassa, mas substituir uma siderúrgica que utiliza coque de carvão por biomassa exigiria plantar três vezes o tamanho do Brasil, o que é inviável”, conclui Nathalia.

Para a professora Carla Barreto, a discussão sobre armazenamento de carbono é urgente e essencial. “Esse método é seguro e duradouro, sendo uma tecnologia fundamental para o futuro climático do país.”

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