Ministro da Educação durante o segundo governo Dilma Rousseff, em 2015, o professor Renato Janine Ribeiro não vê o ensino médio atual com bons olhos. Em entrevista ao Portal G1, ele faz uma avaliação forte: “pouco conteúdo que realmente capacite os jovens para o mundo”.
No quesito experiência de vida – que as ciências humanas são capazes de ensinar, segundo ele – as escolas também têm falhado. No mesmo sentido, Janine aponta que a formação ética na educação deve passar pelo questionamento, e não, pela reprodução de respostas prontas “como um robô”.
Estes e outros temas devem compor a participação de Renato Janine Ribeiro em um debate às 19h desta terça (20), no Museu Nacional da República. Janine é filósofo, escritor e professor titular de ética e filosofia política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).
Autor de livros como “Política para não ser idiota” e “O afeto autoritário – televisão, ética e democracia”, Janine vai abordar a realidade do ensino brasileiro e os instrumentos disponíveis para a formação de crianças e jovens. A participação é gratuita.
O bate-papo faz parte do evento Diálogos Contemporâneos, que ocorre até 12 de junho em Brasília e em Campo Grande, e levanta questões de relevância nacional – lutas indígenas, protagonismo feminino, mundo digitalizado, diversidades cultural e de gênero, patrimonialismo, religião e cultura do consumo.
Entre os nomes convidados para participar dos debates estão a filósofa Djamila Ribeiro, o escritor Jessé Souza, a professora e ativista Célia Xakriabá, a antropóloga Mirian Goldenberg e o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Todos os debates serão transmitidos ao vivo na página do evento.
Leia a entrevista de Renato Janine Ribeiro ao G1:
G1: Os jovens de hoje concluem o ensino médio com conhecimentos e experiências suficientes para exercerem a cidadania e a política stricto sensu?
Renato Janine: Não. O ensino médio tem poucas matérias, ou pouco conteúdo, que realmente capacite os jovens para o mundo em que vão viver.
Não falo da capacitação profissional, que é outra questão, mas dos elementos que as ciências humanas e sociais revelaram sobre a experiência da vida, e dos quais pouco é passado aos estudantes.
Isso precisa ser mudado.
Aos dezoito anos, no fim do ensino médio, o jovem poderá assinar contratos, e como vai fazer isso não tendo aprendido grande coisa, na sala de aula, sobre a vida?
G1: O que de crucial a educação brasileira está deixando passar?
Janine: Penso que é a vida, mesmo. Precisamos de ajustes para ensinar mais e melhor ciência, mas quem vai precisar mesmo das ciências são quantos? Desconheço esse dado.
Imagina-se que todas as profissões vão requerer ciência e matemática, mas a vida é de todos. Se as pessoas não souberem mais sobre a vida social, a política, os direitos e deveres, e a própria psique, estarão desperdiçando tempo e energia.
G1: Quais seriam os “novos instrumentos para a formação de crianças e jovens”?
Janine: Quando se fala em instrumentos, a tendência é pensar em ferramentas disponíveis na internet, que sem dúvida podem ajudar bastante.
Contudo, o fundamental é fazer a escola cumprir seu papel básico: um instrumento poderoso de socialização. É onde a criança, conhecendo os professores e os colegas, aprende que há outros adultos além de seus pais e outras crianças além dos irmãos.
Essa passagem é decisiva na vida! E não é fácil.
Devemos melhorar muito isso. O resto – o aprendizado de conteúdos e mesmo competências – será decorrência.
G1: De que forma as tecnologias e a imersão nos meios digitais interferem na forma como os jovens assimilam conhecimentos?
Janine: A tecnologia está entre neutra e perigosa. Neutra quer dizer: ela é boa ou ruim dependendo, não dela, mas dos fins para os quais se utiliza. O ultrassom, técnica fantástica, se torna um horror quando é usado, na Ásia, para detectar fetos do sexo feminino e abortá-los.
Agora, há um lado perigoso dentro da própria tecnologia, que é a tendência do virtual a substituir o real. Temos muita gente que vai perdendo a capacidade de se relacionar com pessoas, porque sua relação principal é fria, à distância, com avatares, aplicativos e games.
G1: Uma lei do DF obriga escolas públicas e privadas a inserir “educação moral e cívica” do ensino infantil ao ensino fundamental. O que isso representa para a educação?
Janine: Um erro. Sou a favor de cursos de ética na educação básica e já elaborei um projeto a respeito, com uma equipe, para o SESI nacional, que está sendo aplicado na Escola Djalma Pessoa, em Salvador (BA).
Mas ética são perguntas, não respostas prontas.
Trata-se de criar um sujeito ético, que saiba fazer escolhas éticas, não um robô que repete listas de certo e errado.
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