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Escassez força venezuelanos a procurarem comida no lixo

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Diante da crise econômica e política, o governo de Nicolás Maduro controla o preço dos alimentos e a distribuição de produtos nos supermercados

Pessoas fazem fila para tentar comprar papel higiênico e fraldas do lado de fora de uma farmácia em Caracas, na Venezuela - 16/05/2016(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Pessoas fazem fila para tentar comprar papel higiênico e fraldas do lado de fora de uma farmácia em Caracas, na Venezuela – 16/05/2016(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

As dificuldades para comprar e o orçamento cada vez mais apertado obrigam os venezuelanos a ajustar diariamente seu cardápio. Em meio à crise política e econômica que assola o país, os cidadãos precisam preparar suas refeições com o conseguem ter acesso, ou com o que cabe no bolso. Alguns chegam ao extremo de procurar comida no lixo como forma de sobrevivência. Na noite da última quarta-feira, em Caracas, foi registrado um enfrentamento entre policiais e manifestantes, que protestavam contra a crise de abastecimento de alimentos e remédios. Segundo a imprensa local, um homem ficou ferido após ser alvo de balas de borracha. Tudo começou quando dezenas de pessoas que estavam na fila desde a noite anterior na frente de três lojas, para se certificar de que poderiam comprar comida, tiveram as portas fechadas na sua frente por ordens do governo.

Carne, frango, queijos e até ovos se transformaram em produtos de luxo para muitas famílias que, com um salário mínimo de 15.051 bolívares (equivalente a apenas 27 dólares ou menos de 100 reais), precisam organizar as contas para adquirir algum destes artigos, que podem mudar bruscamente de preço ao longo de poucos dias. Diante da situação precária, o governo de Nicolás Maduro controla o preço dos alimentos e os distribui por meio de comitês de bairros controlados pelo chavismo.

 

“Eu não como arroz há 15 dias”, disse uma dona de casa em um mercado popular em Los Palos Grandes, região no leste de Caracas, que admitiu que substituiu o ingrediente tradicional nas mesas venezuelanas por batatas, embora não “rendam” o mesmo. A mulher relatou que não tem açúcar nem leite em sua casa e que espera o retorno de sua mãe, que está em viagem ao Panamá, para encher sua despensa. “Ontem fui para a fila e a única coisa que estavam vendendo eram dois quilos de farinha de trigo”, comentou. Julio Nogueira, que até recentemente trabalhava em uma padaria, hoje passa os dias procurando por comida no lixo. “Faço isso para não morrer de fome”, explica, enquanto vasculha por uma pilha de tomates mofados. Calcula-se que cerca de 76% da população da Venezuela esteja vivendo abaixo da linha da pobreza. Em 2014, essa cifra era de pouco mais de 50%.

Diante da falta de alimentos e para não fechar o negócio do qual dependem outras cinco famílias além da sua, o vendedor César afirmou que precisa pagar altos preços aos “bachaqueros”, como são conhecidos aqueles que organizam esquemas para burlar o sistema de filas em supermercados e revender produtos da cesta básica. Já Alicia, que tem um pequeno restaurante, admite ter inconvenientes para comprar o sal, o açúcar e o azeite que usa como base para as receitas. A empreendedora ressalta que está inventando “coisas novas” o tempo todo em seu negócio para contornar a escassez. “Nós venezuelanos não paramos por nada. Ao venezuelano, graças a Deus, quando se fecha uma porta abrem-se cinco janelas”, concluiu.

O governo de Maduro acusa a oposição de tentar “desestabilizar” a economia local. Enquanto isso, os opositores tentam promover um referendo revogatório do mandato do presidente, que sofre com empecilhos impostos pela Justiça, nas mãos do chavismo.

(Com EFE e ANSA)

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