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Centro-Oeste

Especialista critica tratamento desrespeitoso em clínica psiquiátrica

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Os relatos sobre o tratamento e os maus-tratos da Clínica Recanto, localizada em Brazlândia, evidenciam a luta antimanicomial no campo da psiquiatria e como tais práticas podem agravar a saúde mental dos pacientes.

As condutas da clínica, como o chamado ‘acolhimento’ – que funciona como uma sala de punição – e o uso desordenado de altas doses de medicamentos, caracterizam o local como uma instituição total, onde a relação de poder é extremamente desigual, semelhante a conventos, prisões e antigos manicômios.

Segundo o psiquiatra e conselheiro ouvidor do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Tiago Blanco, a Clínica Recanto se enquadra nesta definição por conta das práticas adotadas no tratamento dos pacientes.

“Nestes lugares, quem ocupa a posição hierárquica inferior só obedece e não tem direitos. A autoridade utiliza punições diversas para controlar os pacientes que demonstram comportamentos considerados inadequados”, explicou.

Tiago complementa que esse método conduz à ‘desumanização do paciente’, que impede a recuperação funcional do indivíduo, essência do cuidado adequado em saúde mental e contrária às diretrizes da reforma psiquiátrica.

Fatores que levam à desumanização

Outro ponto criticado é a forma como a clínica conduz as sessões de psicologia, afetando diretamente a maneira como o paciente vivencia a internação.

De acordo com um ex-paciente identificado como Matheus (nome fictício), as sessões semanais não eram acolhedoras nem confortáveis. Muitas vezes, aconteciam em locais como a quadra de esportes, onde os pacientes se sentavam em cadeiras plásticas ou em bancos de concreto.

Além disso, há uma rotatividade constante dos psicólogos responsáveis e frequente violação do direito à privacidade, com informações compartilhadas com toda a equipe psicológica, conforme relatado pelo ex-paciente.

O conselheiro do CRM-DF ressalta que essas condições prejudicam a criação de vínculos entre paciente e profissional, o que é fundamental para o sucesso do tratamento.

“As pessoas precisam ressignificar suas experiências psíquicas, o que só ocorre ao desenvolver um vínculo com o terapeuta. A troca contínua dos profissionais força o paciente a recomeçar sempre, dificultando o progresso do tratamento”, explicou Tiago.

Uma forma eficaz de melhorar o atendimento seria permitir visitas familiares regulares e avaliações médicas constantes, possibilitando um cuidado mais personalizado e adequado, com ajustes corretos na medicação.

Contudo, a clínica dificulta até mesmo a comunicação dos familiares com os pacientes, prejudicando a reinserção social e a atualização sobre o tratamento.

Uma responsável por um paciente na clínica, Fabiana, relatou a dificuldade quase impossível de manter contato com o filho durante o tratamento, sendo as conversas restritas e raras.

“Passei 15 dias sem notícias dele. Segundo a psicóloga, meu filho havia se envolvido em uma briga e foi colocado em ‘restrição’, proibindo qualquer contato. Mesmo solicitando para falar com ele, sempre fui negada”, contou.

Tiago destaca que limitar o contato do paciente com seus familiares é uma grave violação dos direitos do indivíduo.

“O acompanhamento familiar é essencial. Os responsáveis devem estar atentos ao cuidado para interpretar corretamente situações complexas, como delírios, e agir em benefício do paciente”, alertou.

Em casos como esses, o paciente ou seus familiares devem buscar órgãos responsáveis pela fiscalização e ética, como o Ministério Público e o CRM-DF, para garantir os direitos e a integridade do atendimento.

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