Estados atraem mais organizações criminosas

A manchete do jornal O Globo destacou um levantamento recente que mostra o Brasil com 64 facções criminosas operando em seu território. No Nordeste, os estados da Bahia e Pernambuco são os que abrigam o maior número desses grupos, com 17 e 12 facções, respectivamente. Já o Mato Grosso do Sul aparece com 10 dessas organizações.

Enquanto no Nordeste há uma fragmentação com várias facções locais em disputa, o Mato Grosso do Sul se destaca como o principal receptor de facções oriundas de outros estados, motivado pela rota do tráfico de drogas na fronteira com Paraguai e Bolívia, que levou nove das doze facções interestaduais a se estabelecerem na região.

Embora o Primeiro Comando da Capital (PCC) seja conhecido internacionalmente, as autoridades brasileiras raramente encontram núcleos expressivos de facções estrangeiras no país. A exceção ocorre em Roraima, onde o grupo venezuelano Tren de Aragua tem membros. O estado que mais distribui facções para outras regiões é o Rio de Janeiro, que, além do Comando Vermelho (CV), abriga o Terceiro Comando Puro (TCP) e os Amigos dos Amigos (ADA) com atuação interestadual.

O PCC nasceu no sistema prisional paulista e demorou quase uma década para ser reconhecido nacionalmente. Em 2001, por meio de celulares, a facção dominou dezenas de presídios num curto espaço de tempo, tomando milhares de reféns. Na resposta, o governo paulista começou a transferir líderes para presídios de outros estados, o que favoreceu a expansão da facção para o Brasil todo, com novos integrantes surgindo e recebendo proteção local.

Essa expansão deu origem a muitas facções menores, que surgiram para combater a influência dos grupos paulistas em outras regiões. Atualmente, o Brasil possui 64 facções espalhadas pelas 27 unidades da federação, com variados níveis de influência, de acordo com dados das secretarias de Segurança Pública, Administrações Penitenciárias e Ministérios Públicos estaduais.

Dessas facções, 12 atuam em mais de um estado, enquanto 52 são locais. O PCC está presente em 25 estados, e o Comando Vermelho em 26, não atuando somente no Rio Grande do Sul, onde surgiram outras facções interestaduais como Bala na Cara (BNC) e Os Manos.

A reportagem focou principalmente no Rio de Janeiro e não detalhou a atuação dessas organizações no Nordeste. Apesar da complexidade do tema, especialistas, como o professor de Ciência Política da Universidade de Chicago, Benjamin Lessing, afirmam que o país tende a uma maior divisão entre facções, fenômeno influenciado pela expansão do PCC.