Estamos criando muitos zumbis digitais, alerta Miguel Nicolelis

O neurocientista Miguel Nicolelis, reconhecido mundialmente com mais de 30 prêmios internacionais, iniciou suas investigações sobre o cérebro humano há quase quatro décadas. Em entrevista concedida ao podcast da ONU Brasil, o pesquisador alertou para os riscos de as pessoas passarem a pensar como máquinas devido ao uso exagerado da inteligência artificial (IA) e das telas no cotidiano.

De acordo com Nicolelis, o uso excessivo dessas tecnologias pode causar um retrocesso nas capacidades cognitivas humanas.

“Meu maior receio é que o cérebro, que é altamente adaptável às condições do ambiente para garantir nossa sobrevivência, acabe se moldando a um mundo totalmente digital. Com isso, a nossa inteligência, habilidades intelectuais e capacidade cognitiva podem ser reduzidas ao nível dos sistemas digitais. Por isso digo que estamos, rapidamente, formando milhões de zumbis digitais.”

Ele ainda pontuou que o termo “inteligência” talvez nem devesse ser aplicado às máquinas modernas, pois a inteligência artificial não nasce de processos naturais nem artificiais independentes, mas depende sempre da intervenção humana para se manter ativa.

Durante a conversa, Nicolelis também manifestou preocupação com a disseminação de desinformação, resultante do treinamento das IAs com dados não confiáveis disponíveis na internet. Essas ferramentas, segundo ele, cometem erros e podem gerar informações falsas.

“Até mesmo a ciência está sendo afetada por esse fenômeno, com um aumento alarmante na publicação de artigos falsos e descobertas inexistentes que são tratadas como pesquisas legítimas. Essa situação decorre da pressão por publicar resultados, que virou uma verdadeira indústria de divulgação científica falsa. Como revisores dessas publicações, enfrentamos enorme desafio para distinguir o que é autêntico do que é fabricado.”