Economia
Exportação viva de bois: ONGs alertam sobre riscos e condições ruins
Recentemente, o navio Spiridon II conseguiu desembarcar quase três mil vacas na Turquia após meses de espera, enfrentando inicialmente resistência do país devido a problemas sanitários e de identificação dos animais. Relatos apontam para condições deploráveis a bordo, como carcaças empilhadas, odores intensos de resíduos animais, escassez de água e alimento.
Este episódio destaca as dificuldades envolvidas no comércio de animais vivos, segundo a Mercy for Animals. A organização esteve presente em audiência pública em Brasília para debater o tema na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados.
George Sturaro, diretor de relações governamentais e políticas públicas da Mercy For Animals no Brasil, denuncia que o ambiente dentro dos navios, a agitação marítima, o calor e a superlotação elevam o estresse físico e mental dos animais, comprometendo seu sistema imunológico e facilitando o surgimento de doenças, especialmente infecciosas.
As condições higiênicas inadequadas e a falta de assistência veterinária adequada pioram a situação, explica Sturaro.
Além disso, ele ressalta os perigos ambientais dessa prática, como o risco aumentado de naufrágios, devido à idade avançada das embarcações não projetadas para esse tipo de transporte, e a poluição causada pelas fezes e urina dos animais em trânsito até o porto, que contaminam o ar das cidades envolvidas, prejudicando a saúde pública e atividades econômicas locais.
Essa poluição levou municípios como Santos e Belém a saírem do circuito de exportação de animais vivos.
Audiência pública
A solicitação da audiência pública foi feita pela deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), que contou com apoio de grupos como o Grupo de Trabalho Animal da Frente Parlamentar Ambientalista e o Movimento Nacional Não Exporte Vidas.
Dados oficiais mostram que o Brasil é o maior exportador mundial de animais vivos, batendo recordes recentes com quase um milhão de bois embarcados em um ano.
Atualmente, dois projetos de lei discutem a tributação como forma de desincentivar essa prática, propondo a aplicação de impostos sobre a exportação de animais vivos.
No âmbito executivo, o Ministério do Meio Ambiente tem atuado contra a exportação de animais vivos, inclusive no Judiciário, destacando preocupações jurídicas sobre recentes alterações legislativas que poderiam enfraquecer a proteção penal aos animais.
Tendências globais
A Mercy for Animals destaca que o fim da exportação de animais vivos pelo transporte marítimo é uma tendência internacional. Países como Índia, Nova Zelândia, Reino Unido, Alemanha e Luxemburgo já proibiram essa prática, enquanto outros países sul-americanos analisam medidas semelhantes.
Porém, o Brasil segue em direção contrária, o que, economicamente, não é vantajoso, pois a exportação de animais vivos prejudica a geração local de valor agregado, emprego e arrecadação tributária, transferindo benefícios para o exterior.
Um estudo acadêmico aponta que substituir a exportação de animais vivos pela exportação de carne processada poderia gerar bilhões em valor adicional e milhares de empregos formais no Brasil.
George Sturaro reforça que restringir a exportação viva provavelmente aumentaria a procura por carne refrigerada, beneficiando a economia nacional e alinhando o país com as práticas globais de comércio responsável.


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