Tecnologia
Facebook pagou jovens por usarem um app que coletava conversas privadas
Aplicativo que coletava até histórico de compras de pessoas com pelo menos 13 anos será desativado, informou a empresa
O ano mal começou, mas o Facebook já está no centro de mais uma polêmica sobre privacidade. Nesta terça-feira, 29, a rede social admitiu que pagou US$ 20 por mês a jovens que instalassem um aplicativo espião em seus smartphones, feito para coletar dados sensíveis.
De acordo com a reportagem do TechCrunch que revelou a prática, o aplicativo em questão se chamava Facebook Research. Segundo a empresa, ele se apresentava como um programa de pesquisa comportamental voltado a jovens com entre 13 e 25 anos.
Disponível para Android e iOS, o app exigia acesso a partes restritas do sistema operacional para coletar dados como as conversas privadas do usuário, informações sobre seus e-mails, pesquisas na web e até pedia capturas de tela de compras feitas na Amazon.
Em troca disso tudo, o Facebook pagava US$ 20 por mês em forma de créditos para compras online a cada participante do programa. Nesta quarta-feira, 30, a empresa declarou que vai encerrar o projeto e desativar o aplicativo polêmico.
Segundo o TechCrunch, o aplicativo Facebook Research coletava os mesmos dados que o Onavo, um app de VPN feito por uma empresa que o Facebook comprou em 2013. Este aplicativo foi removido da App Store em 2018 quando a Apple descobriu que ele violava suas regras sobre coleta de dados.
Aparentemente, o Facebook não quis parar de coletar os dados e continuou a prática usando o aplicativo Research. Essa coleta de dados ajudava o Facebook a monitorar a atividade de usuários em apps rivais, como o Snapchat, por exemplo. E, com essa informação, a empresa conseguiu clonar e comprar alguns desses concorrentes.
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Em comunicado, o Facebook se defendeu de algumas acusações. “Não havia nada ‘secreto’ a respeito deste programa”, declarou a empresa. “Não era ‘espionagem’ porque todas as pessoas que se inscreveram para participar passaram por um processo claro de integração que pedia permissão, e elas foram pagas para participar.”
De acordo com o Facebook, “menos de 5% das pessoas que optaram por participar desse programa de pesquisa de mercado eram adolescentes”, e “todos eles tinham formulários de consentimento assinados pelos pais”. A empresa negou que o app Research foi feito para substituir o Onavo, apesar das evidências.
Mesmo tendo declarado que o programa será encerrado no iOS, provavelmente para que o app não seja expulso da App Store como aconteceu com o Onavo, o Facebook não comentou sobre a continuidade ou não do serviço com usuários de Android.
O que é o Onavo
Em agosto de 2017, uma longa reportagem publicada pelo Wall Street Journal relatou como o Facebook estaria usando a VPN da Onavo para ter vantagens sobre concorrentes. Fontes do jornal teriam relatado que a rede social de Mark Zuckerberg já sabia da queda no uso do Snapchat no fim de 2016 antes mesmo da divulgação oficial em fevereiro de 2017.
Assim como os demais serviços da categoria, o Free VPN Protect cria uma rede privada que criptografa o tráfego de navegação do usuário na internet. Durante o processo, porém, o programa redireciona as informações para os servidores do Facebook, que registram as ações em sua base de dados.
Com essas informações em mãos, a equipe do Facebook pode descobrir dados como: quais aplicativos as pessoas estão usando, com que frequência, por quanto tempo e se o programa é usado por mais homens ou mulheres naquele país. Além disso, a rede social pode saber até mesmo a quantidade de fotos curtidas ou postadas por um usuário regular durante a semana, caso o tráfego original não seja criptografado.
Embora seja difícil saber o número exato de usuários do aplicativo de VPN da Onavo, o número de downloads do programa é bastante expressivo. Até agosto, a estimativa era que o app havia sido baixado 24 milhões de vezes, sendo a maioria no Android. Agora, com a publicidade dentro do Facebook, a tendência é que o número aumente.
Evidências de competição desleal
Ainda de acordo com a denúncia do Wall Street Journal, fontes ligadas ao Facebook afirmam que a empresa usou dados da VPN da Onavo para lançar funções no seu aplicativo e tomar decisões estratégicas. Na briga contra o Snapchat, por exemplo, a rede social pôde descobrir o número de “snaps” compartilhados diariamente e observar a queda do rival após o lançamento das histórias no Instagram.
Meses após comprar o Onavo em 2013, o Facebook também teria usado dados do serviço para bater o martelo sobre a sua maior aquisição: o WhatsApp. O aplicativo de VPN revelou que o serviço de mensagens estava instalado em 99% de todos os celulares Android da Espanha, o que motivou a empresa de Mark Zuckerberg a adquirir o mensageiro em 2014 por US$ 22 bilhões.
Anos mais tarde, o Facebook teria usado a mesma estratégia para monitorar o uso de aplicativos de vídeos ao vivo, como o Periscope e o Meerkat. As informações ajudaram a rede social a lançar a função de transmissões em seu aplicativo principal para Android e iPhone no início de 2016.
Cuidados com aplicativos de VPN
Bastante populares no Brasil por causa do bloqueio do WhatsApp ou para burlar restrições em serviços de streamings, os aplicativos de VPN devem ser usados com cautela, sobretudo os gratuitos. Afinal, assim como nas denúncias com a Onavo, esses programas podem ter acesso aos seus dados, sobretudo em serviços sem criptografias.
Caso considere importante o uso de redes privadas, pesquise atentamente por reviews e certificados de segurança antes de instalá-los no seu PC ou celular. O TunnelBear, por exemplo, é um aplicativo gratuito com boa reputação, mas que limita a transferência de dados em apenas 500 MB por mês no plano sem assinatura. Fonte: Olhar Digital
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