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Falta de infraestrutura ameaça a COP30

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Poucas opções de hospedagem e valores abusivos preocupam delegações e mobilizam o governo

Escolhida por estar situada na Amazônia, Belém, no Pará, vai sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) e enfrenta grande desafio: abrigar cerca de 50 mil pessoas. Denúncias de hospedagens por mais de R$ 1 milhão para datas próximas ao evento, que acontece entre 10 e 21 de novembro, movimentam ações nas três esferas do poder público, que atuam em conjunto.

“Não há nenhum segredo sobre os valores abusivos que estão tendo nas diárias”, declarou o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia, em conversa com jornalistas na última quinta-feira. “A gente está tentando sensibilizar toda a rede hoteleira, estamos fazendo vários diálogos, fazendo conversas. Pretendemos intensificar um pouco mais isso enquanto Estado para poder alertar, inclusive, sobre o problema da abusividade desse tipo de oferta que está sendo feita. Acho que a gente vai chegar a um termo razoável”, afirmou.

A Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, pediu, em janeiro, ao Ministério Público do Pará investigar o setor hoteleiro pela alta dos preços. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA) estima que existam cerca de 18 mil leitos disponíveis atualmente na capital paranaense — menos da metade do necessário — o que gera receio por parte das comitivas dos mais de 193 países que participam das negociações da COP.

Correia confirma que a principal preocupação das embaixadas é com o local para ficar, mas acredita ser “desnecessário”. Para ele, algumas medidas adotadas podem resolver a questão. Uma delas será antecipar a reunião de chefes de Estado para antes do início da conferência. Ainda não há uma data cravada, segundo o secretário, mas deve ser entre 5 e 8 de novembro.

“Estatisticamente, falando sobre as outras COPs, quando é feita a Cúpula [de líderes] junto com as negociações oficiais, tem um pico em torno de 33 a 34 mil pessoas no local. Quando você se separa, isso cai para 12 mil pessoas no pico. Então, diminui sensivelmente essa pressão na rede hoteleira”, explicou o secretário.

Geopolítica

Correia explicou que está pedindo também, em reuniões com embaixadas, certo “bom senso” de quem vem ao Brasil. “Nós não temos nenhuma orientação em relação a isso. É óbvio que eu sempre falo com as embaixadas de não estimular tantas pessoas para virem desnecessariamente para uma COP. Eu sei que, por exemplo, tem países que querem trazer muitos empresários, isso é muito bem-vindo. Mas tem muita gente governamental que vem para acompanhar as pessoas. Talvez isso não seja necessário”, defendeu.

No entanto, ele considera que há algumas questões de segurança que precisarão ser respeitadas. Durante o G20, em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro, por exemplo, a delegação da China fechou um hotel inteiro só para eles, o que, no cenário de Belém, parece ser bem arriscado.

“Tem alguns protocolos para chefes de Estado que evidentemente precisam ser considerados, porque nós temos chefes de Estado que se diferenciam pela sua geopolítica no mundo”, explica.

Há, pelo menos, dois grandes hotéis cinco estrelas sendo construídos na cidade. No entanto, Correia alerta que haverá, sim, diferenças em relação às COPs anteriores, que foram realizadas nos Emirados Árabes e no Azerbaijão.

“Nós não podemos criar 100 novos hotéis de repente. Nós estamos criando hotéis possíveis em áreas possíveis. Não dá para transformar Belém em uma Baku em um ano. Obviamente que está sendo feito um grande investimento lá que certamente vai colocar Belém e a região amazônica em uma rota maior de turismo. Mas tem um limite isso”, ressaltou.

Como alternativa, os governos estão investindo em qualificar pessoas e condomínios para ampliar a oferta de vagas em propriedades privadas. Ao Correio, as plataformas de aluguel de imóveis Booking e Airbnb afirmaram que estão realizando ações em parceria com o governo do Pará a fim de “contribuir para a organização local da COP”.

O Booking, por exemplo, está realizando workshops para pessoas que oferecem acomodação de apartamentos e casas por temporada. Já o Airbnb tenta promover as atrações turísticas na região, por meio de uma página, para incentivar que as pessoas anunciem seus imóveis como hospedagem para a COP. Segundo a plataforma, no primeiro ano dessa ação, o número de leitos disponíveis na plataforma saltou 54% e chegou a 5.210.

O governo federal também deve lançar em março uma plataforma de reserva de acomodação. “Tem muita gente que não está oferecendo [imóveis] ainda, até porque eles esperam a plataforma oficial do governo e da ONU porque eles têm mais segurança. Estou falando, em especial, de imóveis privados, porque eles têm muito receio de oferecer para pessoas estranhas”, comentou Correia.

Dois navios também serão ofertados como acomodação, com 4.500 lugares. Segundo o governo, eles serão disponibilizados apenas para quem estiver credenciado no evento e as delegações oficiais.

Correio Braziliense

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