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Fiéis resgatam memórias de quando Papa Leão XIV era bispo na cidade peruana

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Após a eleição do novo líder da Igreja Católica, peruanos esperam que o Pontífice volte ao país em breve

Por Agência O Globo

Aplausos, abraços e até lágrimas de felicidade. Na quinta-feira, após ser anunciada a eleição do cardeal Robert Prevost como o novo Papa, um grupo de fiéis se reuniu na catedral de Chiclayo para celebrar a chegada de quem, até há alguns anos, foi seu bispo ao cargo mais alto da Igreja Católica.

Fiéis também prestaram homenagem a Leão XIV no sábado, na catedral da cidade, com uma missa transmitida em dois telões gigantes diante de milhares de pessoas. Para quem o conhece de perto, a relação do agora Papa Leão XIV com o Peru vai muito além da naturalização que ele obteve em 2015.

— Quando ouvimos o nome de Robert Prevost como chefe da Igreja, sentimos muita emoção, muito amor. Ontem à noite estávamos rezando um terço em Ciudade Eten para que Deus iluminasse a mente dos 133 cardeais. Agora que ele foi escolhido, pedimos que Deus lhe conceda muita sabedoria para conduzir a Igreja — contou ao El Comercio Jesús León Ángeles, atual coordenadora do grupo Milagro Eucarístico Perú 1649 e ex-comunicadora da diocese de Chiclayo.

O primeiro contato dela com Prevost foi por meio das missas que ele celebrava todos os domingos. No entanto, foi em 2018 que realmente o conheceu. Naquele ano, o então Papa Francisco celebrou uma missa em Huanchaco, Trujillo, oportunidade que a diocese de Chiclayo aproveitou para levar a representação oficial do milagre eucarístico.

Milhares de fiéis se reúnem na Catedral de Santa Maria em Chiclayo, Peru, para homenagear o Papa Leão XIV

Milhares de fiéis se reúnem na Catedral de Santa Maria em Chiclayo, Peru, para homenagear o Papa Leão XIV — Foto: Ernesto BENAVIDES / AFP

— Em 2 de junho de 1649, apareceu uma imagem do menino Jesus, com cabelo loiro e uma capa roxa, em uma hóstia durante uma missa celebrada em Ciudad Eten. Essa cena foi representada numa imagem de madeira feita em 1929 e tem uma custódia grande de madeira — conta. — Levamos essa imagem em 2018 a Huanchaco para que o Papa Francisco a abençoasse. Na volta de Huanchaco, decidimos colocar um livro para que as pessoas deixassem seu testemunho de fé. No ano seguinte, em fevereiro, monsenhor Prevost levou os testemunhos a Francisco, contou-lhe a história do milagre eucarístico e pediu que, em algum momento, a Igreja declarasse Eten como cidade eucarística.

Segundo a comunicadora, o trabalho do agora Papa foi fundamental para que o Congresso peruano chegasse a declarar de interesse nacional esse reconhecimento.

— Monsenhor Prevost lutou muito para que Eten fosse reconhecida como a primeira cidade eucarística do Peru. Na quarta-feira da Semana Santa, foi entregue a autógrafa ao Poder Executivo, e na manhã de quinta-feira o Congresso só então se deu conta da importância do que tinham feito. Estavam surpresos com tudo o que (Prevost) havia feito”, afirma.

Prevost se dirigiu ao povo de Chiclayo em seu discurso inicial como Leão XIV (“minha querida diocese”). Apesar de ter nascido em Chicago, nos Estados Unidos, sua trajetória pastoral e profundo compromisso com o Peru o levaram a se naturalizar peruano em 2015. Foi nesse ano que obteve seu primeiro DNI (documento de identidade) e, em 2016, emitiu o DNI eletrônico, que não tem data de validade. O Papa Leão XIV viveu por mais de 40 anos no território peruano, onde atuou como bispo.

Nesta cidade de 600 mil habitantes, situada a cerca de 15 km da costa norte do Peru, na fértil região de Lambayeque, muitos lembram de Prevost como um homem “bom”, “humilde” e “próximo das pessoas”.

— Era uma pessoa muito boa, muito humilde, que te cumprimentava na rua — recordou à AFP Luis Cherco, de 57 anos, convencido de que “agora as mãos de Deus estão em Chiclayo”. — Visitava os mais pobres e apoiava os jovens.

Um bispo próximo do povo
Por essa conexão profunda com Chiclayo, León mostra-se confiante de que o novo Papa voltará a pisar no Peru.

— Se Deus quiser, será para inaugurar o santuário eucarístico — disse.

No entanto, ela ressalta que as qualidades de Prevost transcendem o plano eclesiástico, destacando sobretudo sua humanidade.

— Em Chiclayo, seu trabalho foi ainda mais sensível: impulsionou a instalação de uma máquina de oxigênio durante a pandemia, trabalhou muito em favor dos migrantes porque se sentia muito identificado com eles e com o sofrimento que enfrentam, criou os refeitórios populares, a vila do migrante e conseguiu um terreno de 11 hectares para construirmos o único santuário eucarístico do país — destaca.

‘Semblante angelical’
Ela continua:

— Além disso, apostava muito na comunicação a partir da Igreja, dizia que não podíamos ficar alheios a isso. Era muito próximo das pessoas. Podia-se vê-lo caminhando pelo centro de Chiclayo comprando pão ou algum doce. É uma pessoa de andar simples e sorriso angelical. Caminhava por toda Elías Aguirre e, se alguém o reconhecesse, parava para cumprimentar — conta. — Em algumas ocasiões tive a oportunidade de ele me pedir opinião sobre algo. Sou apenas uma cidadã, mas ele tem a capacidade de escutar todos, não faz distinção com ninguém e por isso busca opinião antes de tomar suas próprias decisões.

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A isso soma-se sua atuação ativa durante a emergência provocada pela passagem do ciclone Yaku pelo norte do país e suas viagens maratonas por estrada entre Chiclayo e o Callao durante o primeiro ano da pandemia.

— Quando foi nomeado bispo auxiliar do Callao, ele ia e voltava, nunca deixou de lado seu querido Chiclayo — diz León.

Esse conjunto de qualidades, sustenta a comunicadora, marca uma continuidade com a linha traçada por Francisco de “extrema bondade e humildade”, qualidades que ela considera extremamente necessárias “para enfrentar todas as situações de violência e corrupção que afetam todos os seres humanos”.

— Era um homem admirável, que dava a impressão de que não se cansava de servir ao povo de Deus, a seus sacerdotes e a todos os que precisavam dele no momento mais difícil — disse o padre Juan Mecán Sánchez, vigário da paróquia da catedral de Santa Maria, aos muitos jornalistas presentes um dia após Prevost ser escolhido.

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