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França defende solução de dois Estados para paz no conflito Israel-Palestina

A França afirmou nesta segunda-feira (28) que não existe outra opção além da criação de dois Estados independentes, israelense e palestino, que vivam lado a lado em paz e segurança. Essa declaração foi feita durante uma conferência internacional destinada a impulsionar esta solução, que ficou estagnada depois de quase dois anos de conflito em Gaza.
Jean-Noël Barrot, ministro das Relações Exteriores da França, destacou que “apenas uma solução política baseada em dois Estados pode atender às legítimas aspirações dos israelenses e palestinos de coexistirem pacificamente e em segurança”. Essa fala ocorreu poucos dias após o presidente Emmanuel Macron anunciar que a França reconhecerá o Estado palestino em setembro.
A conferência, convocada pela Assembleia Geral da ONU e liderada pela França e pela Arábia Saudita, iniciou-se em Nova York com o objetivo de promover a solução de dois Estados que ponha fim ao conflito iniciado em 1947, quando a ONU decidiu pela divisão da Palestina, então sob mandato britânico, em dois Estados independentes, um judeu e outro árabe. No ano seguinte, foi proclamado o Estado de Israel.
Príncipe Faisal bin Farhan, chanceler saudita, afirmou que “um Estado palestino independente é a peça chave para a paz na região” e condicionou a normalização das relações com Israel ao reconhecimento desse Estado palestino.
Entretanto, nem Estados Unidos nem Israel participaram da conferência. Para Bin Farhan, o compromisso do ex-presidente americano Donald Trump poderia funcionar como um impulso para resolver a crise imediata em Gaza e, em longo prazo, o conflito entre palestinos e israelenses.
Os Estados Unidos criticaram a conferência como uma “manobra de imprensa” que dificultaria a busca pela paz, qualificando-a como uma “recompensa ao terrorismo”. Já o embaixador israelense na ONU, Danny Danon, considerou que o encontro aprofunda ilusões e acusou os organizadores e participantes de estarem “desconectados da realidade”, afirmando que é necessário “desmantelar o regime de terror do Hamas”.
Apesar de décadas de apoio da maioria dos membros da ONU à solução de dois Estados, o prolongado conflito em Gaza, o crescimento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e as intenções de anexação dessa área ocupada fazem aumentar o temor de que esse Estado palestino seja inviável.
A França pretende convencer outras potências importantes a reconhecerem o Estado palestino, seguindo o exemplo da Espanha. Porém, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, enfatizou que o reconhecimento deve estar inserido em um plano mais amplo, e a Alemanha não considera essa possibilidade no curto prazo.
Mohammad Mustafa, primeiro-ministro palestino, apelou que todos os países assumam responsabilidade e mostraram-se abertos ao envio de uma força internacional para proteger o povo palestino.
Segundo levantamento da AFP, pelo menos 142 dos 193 Estados membros da ONU reconhecem o Estado palestino proclamado pela liderança palestina no exílio, em 1988.
António Guterres, secretário-geral da ONU, alertou que a solução de dois Estados está mais distante do que nunca. Destacou que a anexação da Cisjordânia é ilegal e deve ser detida, assim como a destruição massiva em Gaza é inaceitável e precisa ser limitada. Ele condenou ações unilateralistas que podem comprometer irremediavelmente a solução de dois Estados.
A conferência se concentrará em reformar a governança da Autoridade Palestina, desarmar o Hamas e excluí-lo do governo palestino, além de promover a normalização das relações entre Israel e os países árabes que ainda não a estabeleceram.
A pressão internacional por um cessar-fogo em Gaza, após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, aumenta diante do alarmante cenário de fome no território devastado.
Organizações israelenses denunciando as ações de Israel em Gaza como genocídio ressaltam a gravidade da situação.
Bruno Stagno, ex-chanceler da Costa Rica e representante da Human Rights Watch, criticou que debates superficiais sobre a solução de dois Estados e o processo de paz não ajudarão a atingir os objetivos da conferência nem a interromper o massacre dos palestinos em Gaza. Ele instou os governos a agirem com medidas concretas contra Israel, incluindo sanções seletivas, embargo de armas e suspensão de acordos comerciais.

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