Funcionária do Pizza Hut sofre humilhação por advogado de Bolsonaro

Em sessão no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a atendente do Pizza Hut que foi chamada de “macaca” pelo advogado de Jair Bolsonaro (PL) narrou como seu ambiente de trabalho se tornou insuportável após ser alvo de insultos racistas. Frederick Wassef (foto em destaque) foi sentenciado por injúria racial contra a funcionária nesta quarta-feira (17/12). Ele deverá cumprir 1 ano e 9 meses de prisão em regime aberto.

O relato da vítima, registrado na sentença, menciona que o primeiro caso de injúria ocorreu em outubro de 2020. Wassef, cliente frequente da unidade do Pizza Hut no Pier 21, Lago Sul, recusou-se a ser atendido por ela no primeiro contato: “Não quero ser atendido por você. Você é negra, parece ingênua e não saberá anotar meu pedido”.

Segundo a atendente, o advogado a agarrou pelo braço e atirou a caixa de pizza no chão, ordenando que recolhesse o objeto.

No mês seguinte, a funcionária sofreu novas ofensas feitas por Wassef, que reclamou da qualidade da pizza: “Você é uma macaca! Você come o que derem para você!”. Ela respondeu que ele não era superior a ninguém e que não havia motivo para tal tratamento. O advogado retrucou dizendo que, “de onde ele vem, serviçais não se dirigem assim a pessoas de alto nível”.

Na declaração, a atendente afirmou ter se sentido humilhada e rebaixada, e que isso teve grande impacto em sua vida, causando medo de retornar ao trabalho e reencontrar o acusado.

Testemunhas, incluindo gerente e colegas, confirmaram que ela ficou visivelmente abalada e pediu para não atender mais Wassef. Chegou a se afastar do serviço por medo de nova humilhação.

Depois do episódio, a vítima foi transferida para outra unidade até deixar a empresa.

Condenação

A 3ª Vara Criminal de Brasília condenou o advogado Frederick Wassef a 1 ano e 9 meses de prisão em regime aberto por injúria racial. O juiz Omar Dantas Lima destacou que as provas comprovam que Wassef desqualificou a vítima pela cor da pele.

“O insulto ‘macaca’ dirigido à ofendida feriu sua dignidade, carregado de menosprezo e sentimento negativo”, afirmou o juiz.

O magistrado ressaltou que, como advogado criminalista, Wassef tem maior consciência da gravidade de sua atitude, aumentando a reprovação social do ato.

“As circunstâncias ultrapassam o comum, pois a vítima, uma jovem negra, foi ofendida e humilhada em ambiente público durante o trabalho. As consequências do crime vão além do previsto, com evidentes marcas emocionais, provocando medo e mudança de comportamento”, ressaltou o juiz.

Foi destacado que o crime exige intenção de denegrir a honra subjetiva da vítima, o que ficou claro no caso.

Wassef negou as ofensas e alegou ser vítima de uma “armação criminosa” feita por adversários políticos e outros advogados para prejudicá-lo, afirmando que a vítima teria sido manipulada.

No entanto, o juiz concluiu que ele não apresentou provas para essa alegação. As testemunhas de acusação foram detalhadas e coesas, enquanto as de defesa mostraram inconsistências.

Por ser réu primário, a pena foi substituída por medidas restritivas de direitos, e o advogado poderá recorrer em liberdade. Ele também foi condenado a pagar R$ 6 mil de indenização por danos morais.

Absolvição

Apesar da condenação por injúria racial, Wassef foi absolvido das acusações de racismo e vias de fato relacionadas aos fatos de outubro de 2020, quando teria segurado a funcionária pelo braço e a humilhado ao jogar uma caixa de pizza no chão.

O Ministério Público pediu absolvição por falta de provas, entendimento acatado pela Justiça.

Posição da Defesa

Os advogados Cleber Lopes e Murilo de Oliveira, que representam Wassef, expressaram tranquilidade em relação à sentença, destacando que reconheceu a inocência do cliente na maioria dos fatos. Eles informaram que buscarão a absolvição total no Tribunal de Justiça, confiantes de que as provas demonstram claramente que a acusação não se sustenta.