Estudantes que ocupam o posto do DFTrans na rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, desde o fim da tarde desta segunda-feira (6) afirmam que estão sem acesso a água, energia elétrica e alimentos. Segundo o grupo, a Polícia Militar impediu a entrega de encomendas no espaço e os serviços de água e luz foram interrompidos.
A PM confirmou que as portas do posto estão bloqueadas para o trânsito de pessoas. Membros da ocupação podem deixar o espaço quando quiserem, mas não são autorizados a retornar ou entregar mantimentos para quem permanece lá dentro. O suposto corte dos serviços de água e luz não é de responsabilidade da corporação.
A CEB informou que o fornecimento de eletricidade está normalizado para a rodoviária e que cortes pontuais, se existirem, são feitos pela própria administração do terminal. O G1ligou para a sede da administração às 22h30, mas um vigilante informou que os responsáveis só retornam às 8h desta terça (7) e não têm telefones de plantão.
A ocupação começou por volta das 17h10. Os estudantes enfrentaram problemas na liberação de créditos do Passe Livre desde a manhã de segunda e cobram uma solução. Em nota, o DFTrans disse que faria a atualização do sistema na madrugada e garantiu que o benefício estaria valendo nesta terça.
Segundo o órgão, os cartões foram rejeitados por uma falha “nos validadores de alguns ônibus que não atualizaram a lista de dados dos cartões”.
O protesto começou no início da tarde, do lado de fora do posto e chegou a bloquear o Eixo Monumental por alguns minutos no sentido Congresso. Os estudantes ocuparam as seis faixas da via, ao lado da rodoviária do Plano, mas foram afastados pela PM com o uso de sprays de pimenta.
Ônibus que tentavam deixar o terminal também foram impedidos pelo grupo ao longo da tarde. Os estudantes gritavam palavras de ordem como “ocupa a ‘rodô'” e “não tem arrego, você tira o meu passe e eu tiro o seu sossego”.
O assessor da Secretaria de Mobilidade Wilson Magalhães foi ao local por volta das 18h para negociar o fim da ocupação, sem sucesso. Ele garantiu ao grupo que o problema seria resolvido nesta terça e disse que providenciaria que os integrantes da ocupação voltassem para casa sem pagar passagem, caso os cartões não passassem.
“Eu vou fazer uma triagem e vou conduzi-las até as empresas para que elas possam chegar nas suas casas com segurança”, disse. Segundo ele, os próprios funcionários das empresas de ônibus seriam encarregados de explicar a situação e garantir a gratuidade em outros trechos, para quem precisasse fazer baldeação.
Problemas
O aluno de história da UnB Ben Hur Oliveira, de 20 anos, disse que o cartão de estudante dele não funcionou no sistema do ônibus, nesta segunda. Quando chegou ao posto do DFTrans, ele descobriu que as 200 senhas já tinham sido entregues.
“Não tem como. Sou usuário há quatro anos e enviei todos os documentos. Impossível isso [não passar]”, diz. O estudante diz ter ouvido do atendente do posto do DFTrans que precisaria esperar mais 20 dias para regularizar a situação. “Moro em Vicente Pires, não tenho condições de gastar R$ 14 por dia em passagem”, afirmou.
A estudante Kallinny Sales, de 15 anos, pegou o ônibus às 6h da manhã desta segunda, mas teve de descer quando o cartão foi rejeitado. “Apareceu que meu cartão estava inválido e o motorista mandou eu descer. Tive que ir andando até a escola”, diz.
O pensionista Sandoval Pereira, de 55 anos, chegou às 9h ao posto para tentar resolver o cartão da filha de 10 anos. Às 18h, o atendimento já tinha sido encerrado, mas ele continuava no local como membro da ocupação. A família mora em Samambaia, mas a filha estuda no Plano Piloto.
“Minha filha está sem ir para a escola desde o início de maio. Eu e minha mulher estamos desempregados. Não temos como pagar passagens”, diz.
Passe Livre
Na primeira fase de recadastramento, entre 1º de março e 1º de abril, o órgão responsável pela gestão do transporte público do DF estimava prazo de até 20 dias para a análise dos processos. Em um mês, a autarquia recebeu 227,1 mil pedidos de liberação do Passe Livre Estudantil. Destes, apenas 115 mil (50,6%) foram liberados.
Após ocupação de uma semana no DFTrans, o prazo de recadastramento foi reaberto por “tempo indeterminado”. De acordo com o diretor-geral do DFTrans, Léo Carlos Cruz, algumas reivindicações dos estudantes já eram atendidas pelo órgão.
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