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Economia

Governo ganha força com tarifa e crítica aos ricos, mas aliados temem divisão

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Movido pela defesa da cobrança de impostos sobre os mais ricos para beneficiar os mais pobres e fortalecer a soberania, o governo Lula encontrou uma narrativa com viés eleitoral e conquistou mais fôlego num momento em que a baixa popularidade ainda representa um obstáculo e causa preocupação entre seus apoiadores, especialmente pelo desafio da reeleição.

Parlamentares próximos ao Palácio do Planalto, contudo, demonstram desconforto com os limites dessa estratégia. Para esse grupo, o Executivo deveria ampliar suas ações e abordar temas capazes de agregar mais apoios, critério que, segundo essa visão, é prejudicado pelo discurso crescente de “nós contra eles”.

Esse plano governamental está em andamento desde a derrota no Congresso, que rejeitou o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O movimento ganhou impulso após o presidente dos EUA, Donald Trump, enviar uma carta a Lula anunciando uma sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, enquanto defendia o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe, e criticava o Judiciário brasileiro.

Nas redes sociais, espaço onde os governistas costumam ser superados pela oposição, desta vez conseguiram uma atuação mais eficaz, superando seus adversários no debate sobre o tarifaço, segundo a consultoria Arquimedes. Simpatizantes de Lula adotaram o mesmo tom do presidente, ressaltando a importância da soberania nacional frente à ofensiva norte-americana. O perfil oficial do governo lançou uma campanha intitulada “Brasil com S de Soberania”.

José Guimarães, líder do governo na Câmara, avalia que “o governo saiu da defensiva e está unificando o país, comprometido com a soberania e com setores da economia exportadora que serão afetados. Isso abriu uma via para retomar sua credibilidade”.

Embora o Palácio do Planalto compartilhe dessa avaliação, auxiliares acreditam que o governo poderia reforçar sua presença nas redes sociais se o presidente Lula gravasse mais vídeos direcionados aos usuários das plataformas digitais, algo feito poucas vezes desde o início de sua gestão há dois anos e meio. A estratégia atual tem sido conceder entrevistas à televisão e redistribuir esse conteúdo no ambiente virtual.

Uma linha de comunicação do governo busca contrapor Bolsonaro, tentando associar o ex-presidente a uma atuação contrária aos interesses nacionais — tática aplicada ainda contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que precisou ajustar seu discurso durante a crise. Lula também fez ligações diretas entre Bolsonaro e o tarifaço, afirmando que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA, foi influenciar Trump.

Antes da escalada da crise com os EUA, o governo já havia ganhado um alívio com a campanha para taxar mais os ricos. Nesse contexto, alcançou sucesso com a apresentação pelo deputado Arthur Lira de um texto que isenta de imposto de renda os salários até R$ 5 mil mensais e taxa em 10% os que ganham acima de R$ 100 mil.

Rogério Carvalho, líder do PT no Senado, destaca que o debate saiu das generalidades e conseguiu abrir um espaço para adesão mais ampla da sociedade. O ponto central dessa estratégia digital surgiu fora do governo, entre dirigentes petistas, e foi incorporado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), refletindo a mudança do slogan do governo, de reconstrução para justiça social, divulgando peças sobre bancos, jogos e grandes fortunas.

No entanto, nem todos os aliados estão convencidos dessa abordagem. Em reunião do PT na Câmara, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ouviu preocupações sobre o aumento da polarização. Ela defende o enfrentamento, mas enfrenta críticas pela ausência de uma solução política para a crise, especialmente relacionada ao Congresso e ao IOF. O temor é que o discurso de pobres contra ricos provoque efeitos adversos, estreitando o caminho eleitoral de Lula.

Mario Heringer, líder do PDT na Câmara, argumenta que “essa polarização pode causar distúrbios imprevisíveis e desorganizar a sociedade. Funciona para a militância, mas é prejudicial para o país”. Similar visão expressa pelo senador Otto Alencar Filho (PSD-BA), que vê como um erro fomentar conflitos adicionais quando a economia preocupa a população.

Críticos dizem que a campanha pode isolar o governo e aproximar forças da centro-direita e direita, prejudicando alianças para 2026. Para isso, o governo precisa definir se quer romper com partidos como União Brasil e PP ou reconquistar a base no Congresso.

Articuladores políticos sugerem conversas para recompor a base aliada. Guimarães mencionou “ajuste geral” e “recomposição de base”, enquanto o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou ser hora de “discutir a relação”. Até agora, essas negociações ainda não avançaram.

A tensão é visível. No Congresso, a propagação de vídeos nas redes sociais, muitos com inteligência artificial, atacando o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e outros parlamentares, exigiu que Gleisi Hoffmann intervenha para conter danos.

Mesmo assim, o núcleo duro do governo entende que o Planalto saiu da defensiva, assumindo a liderança com um discurso que unifica a base social e dialoga com os indecisos. Pesquisas internas sinalizam melhora na avaliação de Lula, conforme revelado pela colunista Bela Megale. Esse grupo defende manter essa postura até 2026.

Dentro do PT, há um processo de reorganização interna após a eleição de Edinho Silva para a presidência do partido. Ex-ministro de Lula e ex-prefeito, Edinho Silva tem perfil moderado, o que pode evitar a radicalização e preservar alianças importantes para o próximo ciclo eleitoral.

O deputado federal Jorge Solla (PT-BA) afirma que “a campanha eleitoral começou de forma antecipada. Toda estratégia traz riscos, mas o importante é a direção e intensidade desses riscos. A estratégia anterior tinha colocado o governo em dificuldades”.

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