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Grande protesto contra cortes orçamentários na França

Milhares de cidadãos tomaram as ruas da França nesta quinta-feira (18) para exigir que o primeiro-ministro Sébastien Lecornu desista das medidas de cortes nos orçamentos para 2026 e implemente uma taxação maior sobre os mais ricos.
Convocada por sindicatos, a manifestação também expressou o desgaste com o presidente Emmanuel Macron, cuja política econômica e social tem provocado várias ondas de protestos desde 2017.
“Quando vemos que os mais abastados enriquecem às nossas custas e ainda pedem que as classes populares apertem o cinto, chega uma hora em que não aguentamos mais”, declarou à AFP Paul, um mecânico de bicicletas de 29 anos, durante o protesto em Paris.
O ex-primeiro-ministro François Bayrou acendeu os protestos com seu plano orçamentário para 2026 que previa cortes de 44 bilhões de euros e a eliminação de dois feriados, projeto que levou à queda de seu governo pelo Parlamento.
O atual chefe de governo, Sébastien Lecornu, anunciou um novo plano sem a supressão dos feriados, mas os sindicatos mantiveram a mobilização para pressionar contra as medidas severas do orçamento.
A líder sindical da CGT, Sophie Binet, afirmou que o dia já é um “sucesso”, enquanto a representante da CFDT, Marylise Léon, considerou o protesto uma clara advertência ao governo.
Espera-se a participação de até 900 mil manifestantes, muito além dos protestos de 10 de setembro e em nível semelhante às manifestações contra a reforma da Previdência em 2023. O transporte público teve serviços limitados, com muitas escolas e farmácias fechadas, refletindo a ampla adesão à greve.
As forças de segurança mobilizaram 80 mil policiais e gendarmes. Embora as manifestações tenham sido majoritariamente pacíficas, em algumas cidades como Nantes ocorreram confrontos e uso de gás lacrimogêneo.
Em Paris, um grupo de manifestantes entrou por 20 minutos no Ministério das Finanças, instando o governo a buscar recursos onde eles realmente estão: nos bolsos dos mais ricos, conforme afirmou o líder sindical Fabien Villedieu.
Durante a marcha, bandas musicais animaram os milhares de jovens e adultos que entoavam slogans como “Chega de austeridade” e “Taxem os ricos”.
A demanda por justiça fiscal destaca a “taxa Zucman”, um imposto de 2% ao ano sobre patrimônios acima de 100 milhões de euros, medida que conta com o apoio de 86% da população francesa segundo pesquisa recente.
Apesar do primeiro-ministro Sébastien Lecornu rejeitar a proposta, sob pressão de aliados conservadores e setores empresariais, ele se mostrou aberto a discutir temas relacionados à justiça fiscal.
Além disso, os sindicatos pedem a revogação da reforma da previdência de 2023 e mais investimentos nos serviços públicos, bandeiras presentes em manifestações anteriores, como dos “coletes amarelos” e contra a elevação da idade de aposentadoria.
Sébastien Lecornu, com uma base parlamentar frágil, buscou apoio político para aprovar um orçamento sustentável para 2026 e evitar sua queda, como ocorreu com seus predecessores.
O projeto orçamentário deve ser entregue ao Parlamento em outubro, em meio a pressões para diminuir o déficit público, estimado em 5,8% do PIB para 2024, e a dívida pública, que já alcança 114% do PIB. Recentemente, a agência Fitch rebaixou a nota da dívida soberana francesa.
Em caso de queda do governo, a crise política pode se agravar, aumentando os pedidos de renúncia ao presidente Emmanuel Macron. O líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, declarou durante a manifestação em Marselha que “o presidente é a origem do caos, e tudo que ocorre é resultado de suas ações”.

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