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Guerra ucraniana influencia conflito no Saara

Distante da região do Donbass, Rússia e Ucrânia estão envolvidas indiretamente em uma nova disputa nas dunas do Sahel, onde Moscou apoia o regime militar do Mali, enquanto Kiev capacita e orienta rebeldes tuaregues em estratégias militares.
Esse suporte muda o equilíbrio de forças no conflito entre a junta maliana e a Frente de Libertação do Azawad (FLA), um grupo predominantemente tuaregue lutando pela independência no nordeste do Mali.
A influência russa no Sahel aumentou. Os recentes governos militares em Mali, Níger e Burkina Faso afastaram-se da França, ex-potência colonial, e fortaleceram seus laços com Moscou.
No Mali, a liderança militar conta com mercenários russos do grupo Wagner para combater rebeldes e jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico na região.
Porém, discretamente, a Ucrânia parece estar operando nessa área, ensinando os tuaregues a utilizar drones com óculos de realidade virtual e a empregar veículos militares infláveis como iscas.
“Por mais distante que pareça, o conflito na Ucrânia e o terrorismo no Sahel estão conectados”, afirmou o premiê do Mali, Abdoulaye Maiga, em pronunciamento na ONU.
Segundo ele, “o governo ucraniano se tornou um dos principais fornecedores de drones kamikaze para grupos terroristas globalmente”.
Treinamento na Ucrânia
Tanto a Ucrânia quanto a FLA, que às vezes colabora com um grupo jihadista afiliado à Al-Qaeda, negam envio de armas, mas confirmam outros tipos de apoio.
“Não recebemos qualquer equipamento material da Ucrânia, como drones ou armas”, declarou à AFP o porta-voz da FLA, Elmaouloud Ramadane.
No entanto, alguns membros passaram por treinamento especializado na Ucrânia para operar drones pilotados remotamente com visão em primeira pessoa, por meio de óculos de realidade virtual.
Equipados com explosivos, esses drones permitem aos separatistas atacar comboios militares e bases de mercenários russos sem confronto direto.
O treinamento elevou significativamente as capacidades operacionais desses combatentes, que repassaram o conhecimento a outros membros, destacou Ramadane.
“Hoje, essa tecnologia está completamente integrada às nossas estratégias de combate”, enfatizou.
Além disso, a coalizão rebelde também utiliza táticas que, segundo seu porta-voz, visam resistir à opressão e ao imperialismo russo.
Em julho, imagens do exército do Mali mostraram veículos militares infláveis semelhantes aos usados por tropas ucranianas como iscas para ataques russos, embora a FLA não confirme possuir tal equipamento.
No mesmo mês, os rebeldes divulgaram imagens de um drone explosivo de fibra óptica, tecnologia também adotada pelas tropas ucranianas, difícil de detectar e interceptar.
Ulf Laessing, diretor do programa Sahel da Fundação Konrad Adenauer no Mali, acredita que essa estratégia ucraniana busca impressionar parceiros ocidentais ao mostrar ajuda aos rebeldes contra a Rússia no continente africano.
Porém, essa participação não foi bem recebida pelas capitais e pela opinião pública dos países do Sahel, que consideram esses rebeldes como terroristas.
Mali, Níger e Burkina Faso cortaram relações diplomáticas com a Ucrânia, acusando-a de armar a Frente de Libertação do Azawad.

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