Guerrilha infiltra membros no governo da Colômbia

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, enfrenta um grave escândalo envolvendo suspeitas de colaboração entre membros das forças de segurança e um líder guerrilheiro, a menos de nove meses para o fim de seu mandato.

Os protagonistas deste caso são dois agentes das forças de segurança e um líder insurgente, cuja colaboração ameaça a integridade do governo. O general Miguel Huertas e o diretor de inteligência Wilmar Mejía foram afastados após acusações de troca de informações confidenciais com Calarcá, líder de uma dissidência das Farc.

Em uma operação de bloqueio em 2024, Calarcá foi revistado, e seus dispositivos, como telefones e computadores, foram confiscados. Uma investigação jornalística descobriu inúmeras mensagens que sugerem que informações privilegiadas foram vazadas para evitar operações militares em áreas de conflito. Também foi revelado o planejamento da criação de uma empresa de segurança que permitiria aos guerrilheiros portar armas legalmente, mesmo em caso de fracasso das negociações de paz.

Petro, em meio a tensões diplomáticas com os Estados Unidos, acusou a CIA de ser a fonte dos vazamentos e minimizou as denúncias. Ele solicitou que a Justiça realize uma análise técnica das evidências, atualmente nas mãos da Procuradoria.

Os envolvidos são: um ex-educador físico que rapidamente assumiu o cargo de diretor de inteligência, um general aposentado e reintegrado acusado de vínculos com grupos criminosos, e um rebelde que rejeitou o acordo de paz de 2016.

O ex-educador físico

Wilmar Mejía, sem formação militar formal, foi alçado rapidamente ao cargo de diretor nacional de inteligência, após começar como informante do governo em maio de 2024. Nos documentos relacionados, ele é referido como “El Chulo” (abutre) — termo usado por grupos ilegais para descrever pessoas próximas ao Exército que representam uma “ameaça”.

Mejía sustenta que para atuar na inteligência é primordial gerar confiança para passar despercebido e ter acesso a informações privilegiadas. Ele também é conhecido por sua ligação com Petro desde sua época de liderança estudantil na Universidade Pública de Antioquia. Diferentes fontes indicam que Mejía foi responsável pela substituição de altos oficiais militares durante o governo Petro, embora ele negue qualquer ligação com grupos armados.

O general aposentado

Miguel Huertas foi suspenso em 2021 pelo governo anterior após um alerta da CIA sobre seus supostos vínculos com a guerrilha do ELN. Ele estava ativo na campanha presidencial de Petro e foi readmitido em agosto de 2024 como líder do Comando de Pessoal do Exército, responsável por decisões de contratações e demissões.

Arquivos apreendidos associam Huertas à criação de uma empresa de segurança com fachada legal para facilitar o deslocamento das dissidências em veículos blindados e a posse de armas. Ele tem amizade com Mejía, que apoiou sua reintegração ao Exército.

Huertas nega qualquer envolvimento com grupos ilegais, e especialistas destacam a necessidade de comprovação judicial do caso, alertando para possível uso político das acusações nas eleições de 2026.

O líder guerrilheiro

Alexander Díaz, conhecido como Calarcá, foi um aliado do homem mais procurado na Colômbia, Iván Mordisco, que hoje é seu inimigo e alvo de ataques aéreos ordenados pelo governo Petro. Apesar das conversas de paz em curso, os confrontos militares e o fortalecimento das dissidências continuam.

Fontes militares sugerem a possibilidade de o governo usar Calarcá para alcançar Mordisco em troca de benefícios, embora as negociações estejam atualmente suspensas para reavaliação dos fatos.

Organizações como a Defensoria do Povo questionam a real intenção de Calarcá de desarmar seu grupo, que permanece financiado por atividades ligadas ao narcotráfico.

A infiltração nas instituições

A infiltração de grupos ilegais no governo e nas forças de segurança não é novidade e ocorre de forma recorrente como parte de sua estratégia para influenciar decisões e operar com impunidade.