O Sistema Único de Saúde (SUS) ampliou consideravelmente o número de pessoas que poderá se tratar de graça contra a hepatite C. E outra boa notícia: incluiu remédios mais modernos, com altíssimas taxas de cura e menos incômodos, na lista de tratamentos disponíveis do novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).
“Esse é mais um passo que o Brasil dá para garantir amplo acesso ao tratamento de hepatites”, afirma Ricardo Barros, ministro da Saúde, em nota à imprensa. O governo tem como meta eliminar a hepatite C do país até 2030.
Na prática, a primeira grande mudança envolve a universalização do atendimento. Antes, só pacientes com lesões no fígado mais graves ou longas poderiam começar o tratamento na rede pública. Agora, a infecção por si só já garantirá esse acesso – estima-se que, no Brasil, de 600 a 700 mil pessoas têm o vírus da hepatite C no corpo.
“Isso é importante, porque, quanto mais cedo iniciamos o tratamento, mais conseguimos preservar o fígado e outras partes do corpo atingidas pela hepatite C”, avalia a infectologista Anita Campos, diretora médica da Gilead.
Essa farmacêutica, aliás, é detentora de um dos novos medicamentos que serão disponibilizadas no SUS graças ao novo PCDT. Trata-se de um comprimido com ledispavir e sofosbuvir, duas moléculas que atacam diferentes pontos do vírus em questão.
A droga está focada em pacientes com o genótipo 1 da doença – uma versão de hepatite C que corresponde a mais ou menos 70% dos casos no Brasil.
A chance de cura com ela vai de 95 a 99%, enquanto os efeitos colaterais são bem controláveis (estamos falando de náusea e dor de cabeça, por exemplo).
“É o primeiro tratamento com um único comprimido diário, o que facilita a adesão”, completa Anita. O fármaco costuma ser administrado por oito a 12 semanas. Em alguns casos, essa estratégia pode se prolongar por 24 semanas.
Outros subtipos da doença também estão contemplados. Para o genótipo 4, por exemplo, foi incorporado um remédio que une os princípios elbasvir e grazoprevir, da MSD. Em linhas gerais, ele também oferece mais chance de cura e poucos efeitos colaterais.
O desafio do diagnóstico
Hoje, só 10% dos brasileiros com hepatite C sabem que carregam o vírus, até porque os sinais de sua presença não são tão claros (febre, enjoo, cansaço, olhos amarelados). E, acima disso, muitas vezes a enfermidade sequer apresenta sintomas no começo.
“O diagnóstico é um dos principais gargalos para a eliminação da doença”, aponta Anita. Ora, de pouco adianta ter tratamentos eficazes se o indivíduo não busca o atendimento.
Mais: embora os novos remédios também ajudem as pessoas em que a hepatite C já comprometeu bastante o fígado, eles não são capazes de recuperar o órgão por completo. Longe disso: seu principal papel é eliminar o vírus, porém os estragos provocados muitas vezes vão exigir acompanhamento médico para o resto da vida.
Daí porque é fundamental valorizar os exames de sangue que detectam precocemente a doença. Eles são gratuitos e estão disponíveis na rede pública.
Aliás, o Conselho Federal de Medicina emitiu uma resolução recomendando a todos os médicos – de qualquer especialidade – pedirem os testes de hepatite C, hepatite B, sífilis e HIV aos seus pacientes.
Quem está mais suscetível à hepatite C
Hoje, o vírus é transmitido pela reutilização inadequada de seringas, materiais cortantes e outros objetos médicos. O alicate da manicure é um ponto de risco, por exemplo (e, se o cliente não sabe que tem hepatite C, não vai tomar as medidas cabíveis para evitar a disseminação). Só muito raramente a doença passa por relações sexuais.
80% das pessoas com essa encrenca estão acima dos 40 anos. Isso porque, entre outras coisas, antes de 1992 a doação de sangue não exigia testagem para a hepatite C. Assim, muitas pessoas que receberam transfusões naquela época acabaram contraindo o vírus.
E aí: você já fez o teste de hepatite C?
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