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Homem analfabeto teve que assinar documento após ser detido pela polícia

O colega de trabalho de Guilherme Santos Ferreira, que foi morto por um policial militar poucos minutos depois de sair do serviço na zona sul de São Paulo, no dia 4 de julho, foi levado algemado a uma delegacia sob suspeita de envolvimento em um roubo. Este homem, que não sabe ler nem escrever, precisou assinar um documento do qual desconhece o conteúdo para poder ser liberado.
Com 21 anos, ele prestou depoimento no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de São Paulo, no dia seguinte ao assassinato de Guilherme, com quem trabalhava há cerca de cinco meses.
Naquela noite, os dois trabalharam até às 22h28, momento em que o jovem tirou uma foto do ponto de trabalho. Eles seguiram juntos até o ponto de ônibus na Estrada Ecoturística de Parelheiros, a aproximadamente 10 minutos da empresa onde trabalhavam.
Ao chegar em uma avenida, atravessaram a faixa de pedestres, quando um tiro foi ouvido e Guilherme caiu no chão. O policial, autor do disparo, cruzou a rua e deteve o jovem, acusando-o de estar envolvido em um roubo ocorrido na região.
Mesmo informando que havia acabado de sair do trabalho, o jovem foi algemado e levado para a delegacia. Lá, ele não prestou depoimento porque se sentiu intimidado pelos policiais militares presentes, conforme seu testemunho no DHPP.
Apesar de analfabeto, foi orientado pelos policiais a assinar um documento para ser liberado, o que fez sem saber o que o papel continha. O advogado da empresa que o representou também desconhece o teor do documento.
Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, foi morto pelo policial militar Fábio Anderson Pereira, de 35, na Estrada Turística de Parelheiros, zona sul de São Paulo. O policial alegou que confundiu o jovem com um criminoso que teria o assaltado momentos antes, embora Guilherme não tivesse qualquer relação com o crime.
O projétil atingiu a região atrás da orelha direita, e ele carregava em sua mochila itens pessoais, incluindo marmita, livros, remédios e produtos de higiene.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o policial foi autuado por homicídio culposo, pagou fiança de R$ 6,5 mil e responde ao processo em liberdade. No dia 11 de julho, o Tribunal de Justiça de São Paulo reclassificou a morte para homicídio doloso, caracterizando intenção ou assunção do risco de matar. Após isso, o PM foi afastado das funções operacionais.
O caso está sob investigação do DHPP e a Polícia Militar também acompanha o inquérito.
Câmeras de segurança registraram Guilherme batendo seu ponto de trabalho às 22h23, poucos minutos antes do ataque do policial.
Outro vídeo mostra o policial atirando contra suspeitos em uma motocicleta antes de disparar contra Guilherme por engano. Segundo boletim de ocorrência, esses suspeitos anunciaram um assalto contra o policial, que reagiu com disparos. Após abandonar a moto, eles fugiram a pé.
Guilherme, que não tinha relação com esses eventos, aparece no vídeo saindo do trabalho e atravessando a rua para pegar um ônibus, instante em que se ouve o tiro fatal.
Representantes dos direitos humanos e autoridades criticaram a morte, e o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania manifestou a necessidade de investigações rápidas e justas, afirmando que a cor da pele não pode determinar risco de morte no país.
A pasta destacou que esse caso alerta para a necessidade urgente de revisar políticas de segurança pública e o papel das forças policiais, e condenou ações violentas e discriminatórias por parte de agentes que deveriam proteger a população.
A SSP foi questionada sobre o conteúdo do documento assinado pelo jovem analfabeto e aguarda posicionamento.

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