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Ibaneis Rocha reconhece que faltam médicos na rede pública de saúde

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Em meio à epidemia de dengue no DF, o governador reclamou das dificuldades para contratar profissionais. Enquanto isso, pessoas com sintomas da doença peregrinam pelos hospitais em busca de atendimento

O governador Ibaneis Rocha afirmou ontem que o DF vive uma crise em todos os hospitais públicos e privados por conta da epidemia de dengue. O governador admitiu a existência de um déficit grande de médicos que o governo local não está conseguindo suprir. “Nós não encontramos esse profissionais para contratar. Para vocês terem uma ideia, de uns 60 médicos que nós convocamos no mês passado, somente oito assumiram na rede pública. Então, é um problema muito sério. Nós precisamos encontrar uma maneira (de resolver)”. A declaração foi durante a inauguração da nova sede do 8º Grupamento de Bombeiro Militar, em Ceilândia.

Os casos de dengue no DF começaram a subir nas três primeiras semanas de janeiro, quando aumentaram 646%, em comparação ao ano passado. Em 25 de janeiro, o GDF declarou estado de emergência em saúde pública na capital, por meio do decreto 45.448. A secretária de Saúde, Lucilene Florêncio, declarou o início do estado de epidemia em 29 de janeiro, em entrevista exclusiva ao programa CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília. Desde então, os casos cresceram 461%. De janeiro a até agora morreram 152 pessoas e outras 162.665 foram infectadas, de acordo com dados do boletim epidemiológico publicado ontem pelo Ministério da Saúde.

Na rede social X (antigo Twitter), o governador fez um balanço das ações de dengue do começo do ano até agora. “Desde o início do ano, estamos focados em combater o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, que colocou todo o Brasil em estado de alerta de uma nova epidemia. Aqui no DF, estamos dedicando todos os nossos esforços e recursos para enfrentar esse problema.” (Veja quadro com balanço feito por Ibaneis).

Nas unidades de saúde, a busca por atendimentos não para. A cuidadora de idosos Joana Souza, 31 anos, e o gari Samuel Alves, 31, conseguiram atendimento ontem à tarde para a filha Sofia Teixeira, 9, no Hospital Materno Infantil (Hmib). O casal tinha levado a criança a diferentes unidades de saúde desde a última segunda-feira.

Ao Correio, Joana contou que os médicos do Hmib afirmaram não haver leitos, nem médicos suficientes para atender a alta demanda. “De madrugada, o médico avisou que iria dormir porque estava sobrecarregado dos atendimentos do dia. Quando eu fazia perguntas ao segurança perguntando sobre a demora do atendimento, ele me respondia com ignorância e se exaltava. Fui maltratada aqui”, queixa-se.

A busca pelo atendimento à criança começou no Hospital Regional de Ceilândia, onde o casal pernoitou e não conseguiu uma consulta porque o local alegou falta de médicos. “Só na manhã do dia seguinte nos encaminharam ao Hospital de Taguatinga. Também não conseguimos atendimento e nos mandaram ao Hospital do Guará”, lembra. E a peregrinação continuou. “Não fizeram nem a triagem da minha filha, por conta da falta de profissionais, e me encaminharam para o Hmib”, disse. Depois, alegando a alta demanda, solicitaram que os três voltassem na quarta-feira à noite. Retornaram às 19h e passaram pela triagem “porém minha filha só foi atendida na sexta-feira à tarte.” Após a criança ser atendida, os pais estão esperando apenas os resultados dos exames e os médicos do Hmib passarem a receita dos medicamentos.

Graziela Karen dos Santos, 44, procurou assistência médica no Centro de Saúde nº 12 de Ceilândia, na manhã de ontem. Desde terça-feira, ela tem sentido queimação abdominal, ânsia de vômito, gosto ruim na boca, dor nos olhos e na cabeça. Ela relata que esforços pequenos, como levantar os braços, subir escadas, e até segurar objetos, a deixam cansada.

“Fui protelando, tomando dipirona em casa, só que não estou melhorando, as dores continuam intensas. Achei melhor avaliar se estou de fato com dengue, ou se é outra doença, e ter o resultado correto”, observou a contadora. Graziela acrescenta que já se infectou pelo mosquito Aedes aegypti em 2021, o que reforça a necessidade do diagnóstico, já que a reincidência da infecção pode aumentar as chances de agravamento da doença. Ela ficou no centro de saúde por mais de duas horas, mas não conseguiu ser atendida.

“Quando fiz o teste de dengue em 2021 foi muito rápido, mas hoje (ontem) levou mais de trinta minutos para atender cada pessoa, entre aferir a pressão e fazer o teste. A fila não andava. Depois, houve o anúncio de que os atendimentos iam pausar e voltar só depois do almoço. Então, eu peguei um carro de aplicativo e vim para o Hospital de Campanha (da Força Aérea Brasileira)”, relatou Graziela.

No HCamp, entretanto, ela só chegou a passar pela triagem, quando foi avisada de que o atendimento estava restrito a pacientes com diarreia, sangramentos ou vômitos, sintomas que ela não tem. Apesar de ter insistido, a moça não conseguiu ser assistida. Uma funcionária informou que, naquele dia, havia um médico afastado, com atestado.

“A moça da triagem me disse que o médico adoeceu e que estão sem outro para repor. Esse é o médico da assistência. Desde ontem (anteontem), está sem pediatra aqui. É a segunda vez que venho com meu filho”, afirmou Fábio Rodrigues, 40. O filho dele, Kauan Rodrigues de Oliveira, 12, disse que está sentindo dores de cabeça e no corpo, há cinco dias. O pai queria que o filho fizesse o teste de dengue, e decidiu levá-lo ao Centro de Saúde nº 12, mesmo sabendo do tempo de espera para o atendimento. “De qualquer forma, terei de ir lá. Preciso levar meu filho”, despediu-se.

Em relação à ausência dos profissionais de saúde, a Força Aérea Brasileira (FAB) informou, em nota, que “o quantitativo da sua equipe é proporcional à demanda de pacientes”, sendo o efetivo do HCamp, “composto por 32 militares da equipe de saúde, que atuam em sistema de expediente e plantões”. A FAB acrescentou que “as expectativas de atendimento foram superadas em aproximadamente 160%, de acordo com dados iniciais.”

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