Economia
Ibovespa cai por tarifa dos EUA, mas recua por alta do minério

O Ibovespa iniciou a sessão desta quinta-feira, 10, em baixa, após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto.
Como essa medida já impactou o pregão de quarta-feira, quando o principal índice da B3 fechou em baixa de 1,31%, aos 137.480,79 pontos, a queda desta quinta é menos pronunciada, considerando ainda a valorização de 3,67% do minério em Dalian, na China. Assim, as ações de setores ligados às commodities avançam, como é o caso da Vale, que sobe cerca de 4% nesta manhã.
Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, comenta: “O mercado não esperava essa notícia e foi uma grande surpresa para todos. Os contratos de depósito interfinanceiro (Dis) ficaram estressados ontem e hoje. O IPCA de junho e seus núcleos mostraram números acima do teto da meta acumulada em 12 meses, enquanto nos EUA os pedidos de auxílio-desemprego indicam que o Fed pode demorar para cortar juros, ainda mais nesse cenário tarifário”.
Ainda que os efeitos da elevação das tarifas sejam incertos, pois faltam detalhes sobre a medida, a desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho, que ficou em 0,24%, levemente acima da mediana de 0,20% das projeções, passa a ter menos relevância. Em 12 meses, a inflação acumula 5,35%. O Banco Central publicará uma carta às 18 horas explicando o estouro do teto da meta, que é 4,50%.
Praça, diretor de Análise na ZERO Markets Brasil, ressalta: “A desaceleração do IPCA poderia pressionar menos os juros futuros, mas essa queda fica ofuscada pelo impacto dessa notícia forte que o Brasil recebeu ontem”.
Na manhã de hoje, os juros futuros sobem firmemente e o dólar chegou a atingir R$ 5,622, alta de cerca de 2%, apesar de recuar depois para R$ 5,5415 (alta de 0,7%). Isso prejudica principalmente ações sensíveis ao ciclo econômico e exportadoras na B3, à exceção das ligadas ao minério de ferro. O petróleo também recua cerca de 1% no exterior, assim como a maioria dos índices das bolsas de Nova York.
Kevin Oliveira, sócio e advisor da Blue3, alerta que “exportadores brasileiros de commodities como aço, café e petróleo sofrerão mais se as tarifas forem aplicadas, o que prejudicará seus lucros”.
Em carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Donald Trump justificou as tarifas dizendo que houve “inúmeras ordens de censura secretas e injustas contra plataformas de mídia sociais dos EUA” e mencionou uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, relacionado a um processo em que ele é réu por tentativa de golpe de Estado.
Além do impacto para as exportadoras, essa medida traz risco ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o Goldman Sachs, a tarifa efetiva sobre os produtos brasileiros pode subir para 35,5%, com um impacto negativo estimado entre 0,3 e 0,4 ponto percentual no PIB de 2025.
Às 11h21 desta quinta, o Ibovespa estava em queda de 0,72%, aos 136.488,86 pontos, com variação próxima ao zero na abertura e mínima em 136.014,47 pontos (-1,07%). De 84 ações, apenas 13 subiam, com destaque positivo para a Vale (4,359%) e CSN ON (5,17%). Já a Embraer liderava as quedas (-6,98%), sendo uma das empresas mais afetadas pelo aumento tarifário americano.
Praça alerta que “a correção dos ativos será muito maior caso as tarifas sejam implementadas”.
Kevin Oliveira ainda acrescenta que os lucros das empresas podem ficar comprometidos se as tarifas forem impostas em agosto, conforme prometido. Nesse cenário, os custos deverão ser repassados aos consumidores, elevando a inflação. “Nessa disputa, o Brasil tem mais a perder do que a ganhar”, conclui.

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