Economia
Influenciado por fatores externos, dólar volta a cair
A ausência de novas medidas tarifárias do presidente Trump na guerra comercial que vem travando com vários países contribuiu para a calmaria no câmbio. No cenário interno, seguem as preocupações com gastos públicos
Apesar da frustração do mercado com o pacote de 25 medidas que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entregou ao Congresso na quarta-feira, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escorregar no discurso voltando a criticar a política monetária do Banco Central, o dólar comercial voltou a cair ontem, mais por fatores externos do que internos e encerrou o dia cotado a R$ 5,764, com recuo de 0,52%.
A divisa norte-americana abriu o dia em alta, mas acabou recuando ao longo do dia devido à falta de novas medidas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com a sinalização de dirigentes do Federal Reserve, o banco central norte-americano, de que a tendência será de queda dos juros, embora mais gradual.
Agentes do mercado também destacaram que as declarações do novo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, que, apesar de Trump ter afirmado logo no início do governo que “exigirá que as taxas de juros caiam imediatamente” garantiu que o governo não está tentando torcer o braço do Fed, mas sim criar sua própria abordagem. “Ele não está pedindo que o Fed reduza as taxas”, disse Bessent à Fox Business na quarta-feira. E, ontem, para a Bloomberg, declarou: “Não estamos focados em saber se o Fed vai cortar (os juros)” . Ele ainda disse que o governo Trump está focado em reduzir o rendimento dos títulos públicos de 10 anos. “Se desregulamentarmos a economia, se resolvermos esse problema tributário, se reduzirmos a energia, as taxas cuidarão de si mesmas e o dólar cuidará de si mesmo”, declarou.
“Acho que hoje (ontem) não foi um dia de grandes movimentos do dólar até começou mais forte, mas, ao longo do dia, perdeu força de forma curiosa. Além do real, outras moedas também se valorizaram frente ao dólar porque a guerra tributária de Trump não escalou. Não estamos vendo grandes tarifas às importações e Trump tem voltado atrás em várias medidas. Até mesmo disse que não vai sair da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, destacou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. De acordo com notícias veiculadas pela agência Reuters, a equipe do governo dos EUA está considerando um plano de reforma da OMS, incluindo a nomeação de um norte-americano para o comando, para que o país permaneça como membro da agência global de saúde.
Cenário interno
O economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo, destacou que a perspectiva de que o Banco Central continuará tendo mais trabalho para segurar a inflação, o que significa um patamar mais elevado para a taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,25% ao ano, tem atraído mais dólares para o país e, com isso, contribui para que o real fique mais fortalecido frente ao dólar. “Estamos com juros muito altos e isso é muito atrativo para o real e favorece a queda do dólar. A aposta em dólar tem um custo enorme e, como a moeda enfraqueceu no mundo, juntou a fome com a vontade de comer”, explicou.
O esforço do governo em adotar medidas que aumentam as despesas públicas — como a isenção do Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil, a falta medidas de contenção de despesas na pauta econômica prioritária de Haddad, deixaram os agentes financeiros frustrados, além de perspectivas de piora do quadro fiscal não apenas em 2025, mas também em 2026, que é um ano eleitoral e os governos, tradicionalmente, ampliam os gastos em vez de cortar. “O governo prometeu muito e entregou pouco. O chefe do Poder Executivo diz que não haverá mais medidas, que não há necessidade, de modo que é natural depreender que o ministro da Fazenda não tem enforcement e nem poder político para implementar a agenda que entrega algum horizonte de solvência fiscal. Sem punchline, o que resta ao ministro Haddad é a narrativa de que o arcabouço está sendo cumprido, ainda que a realidade seja distinta”, avaliou Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos.
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) voltou a subir ontem, fechando com alta de 0,55%, a 126.225 pontos.
Correio Braziliense
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