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Influenciador de medicina chinesa teve funcionária doméstica por 30 anos em Campinas

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Influenciador de medicina chinesa teve funcionária doméstica por 30 anos em Campinas

Com mais de 3 milhões de inscritos no YouTube, Peter Liu promove nas redes sociais cuidados para o corpo, mente e alma com técnicas da medicina chinesa. Contudo, uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, interior de São Paulo, revela que o sucesso de Peter Liu foi sustentado por condições análogas à escravidão, empregando uma funcionária para cuidar da família, da casa e da clínica.

Em entrevista ao Metrópoles, Peter Liu afirmou que a mulher trabalhava para sua ex-esposa e que ele não tem contato com ela há mais de 20 anos. Porém, fotos anexadas ao processo mostram Liu acompanhado da filha, do genro e da funcionária em uma sorveteria em São José do Rio Preto (SP) em agosto de 2018.

Em 1992, Peter Liu e sua esposa, Jane Liu, vieram da China para o Brasil, fixando residência em Recife (PE). Uma amiga os apresentou à funcionária, cuja identidade será mantida em sigilo, para cuidar do filho mais velho do casal.

Nos primeiros meses, a mulher recebeu salário mínimo, sem registro em carteira, com a promessa de regularização após a naturalização brasileira da família. Essa promessa nunca foi cumprida, e a funcionária foi solicitada a se mudar para São Paulo, coincidentemente quando a família se transferiu de Recife para Campinas para evitar uma autuação por clínica irregular.

Ao chegar a Campinas, a mulher, semianalfabeta e natural de Belo Jardim (PE), parou de receber salário e passou a viver em condições equivalentes à escravidão, situação que durou até 2022, quando ela tomou consciência dos abusos e pediu o pagamento. Após isso, sofreu ameaças de morte por parte de Jane Liu.

A família Liu recorreu da condenação do juiz Caio Rodrigues Martins Passos, da 10ª Vara do Trabalho de Campinas. A funcionária busca uma indenização maior, enquanto os Liu negam vínculo empregatício.

Convivência com filha condenada

A funcionária atualmente vive com Anni Liu, filha de Peter e Jane Liu, também condenada no processo. Anni pediu perdão pela condenação, alegando que tomou providências para afastar a mulher da situação de escravidão, incluindo ajuda psicológica e impedindo seu retorno à casa dos pais.

Em depoimento à Justiça, Anni revelou ter rompido com seus pais por causa do tratamento dado à funcionária, que enfrentava xingamentos xenofóbicos e condições precárias de moradia e de saúde dentro da casa.

A defesa da família questiona as motivações da funcionária em acionar judicialmente sua própria empregadora e o atual núcleo familiar com quem ainda reside.

Anni é representada por outro escritório de advocacia e busca justificar sua posição destacando que não estava presente quando a funcionária começou a trabalhar para a família e que chegou a torná-la sócia da empresa de saúde da família em Olímpia (SP) para proporcionar independência financeira.

Condições exaustivas

A denúncia aponta que a funcionária trabalhava das 7h às 22h, com pausas restritas para alimentação. Além das tarefas domésticas, era responsável por preparar pacientes na clínica de medicina chinesa da família e atuava como secretária do consultório.

Durante 30 anos, ela recebeu apenas pequenas quantias para fazer compras para os Liu.

Denúncia e condenação

A família Liu foi condenada a pagar indenização de R$ 400 mil, valor considerado insuficiente pela defesa da funcionária diante dos danos causados por décadas de trabalho sem salário e dignidade.

O patrimônio da família é estimado em R$ 10 milhões, quantia que poderia garantir o pagamento da indenização em poucos meses por meio de investimentos financeiros simples.

A decisão judicial determinou o encaminhamento do caso ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao Ministério Público Federal (MPF) e à Polícia Federal (PF) para investigação complementar.

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