Tecnologia
Inteligência artificial começa a chegar à segurança pública
Tendência tecnológica já é aplicada no Brasil, mas precisa ser aplicada com transparência e respeito a direitos
São Paulo – A inteligência artificial pode parecer coisa de filme de ficção científica. Mas, em vez de robôs, o cérebro digital pode habitar uma série de tecnologias, até mesmo câmeras e celulares. Smartphones Android de Samsung, Motorola, LG e Apple já têm recursos de inteligência artificial, que auxiliam o usuário, por exemplo, na hora de capturar fotos. Agora, essa tendência tecnológica também está chegando à segurança pública, como parte de um software de análise de imagens de câmeras.
Um dos usos da inteligência artificial, uma tendência tecnológica que abrange muitos campos de aplicação, é para o reconhecimento de rostos. Isso pode levar as autoridades a encontrar pessoas procuradas por suspeita de crimes. Uma das primeiras iniciativas de grande porte foi realizada no Rio de Janeiro.
Em um projeto-piloto realizado durante o carnaval, com infraestrutura montada pela Oi, 28 câmeras posicionadas em pontos estratégicos foram capazes de identificar pessoas no bairro de Copacabana, na zona sul da cidade. Com isso, foram efetuadas prisões de 8 pessoas com mandados de prisão ou apreensão e foi possível recuperar três veículos roubados. Após os resultados positivos, o projeto será expandido pela PM. Sistemas semelhantes também estão em funcionamento nas cidades de Salvador (Bahia) e Campinas (interior de SP).
Câmeras com inteligência artificial são capazes de identificar pessoas analisando detalhes de rostos, como distância entre os olhos, formato de boca, queixo e nariz, bem como a linha da mandíbula. A história da inteligência artificial na segurança pública deve ganhar um novo capítulo em breve em São Paulo.
No final do mês de junho, o Metrô de São Paulo publicou um edital para a compra de um sistema de monitoramento de segurança com câmeras que usam recursos de inteligência artificial. Elas estão previstas para chegar às linhas 1 (Azul), 2 (Vermelha) e 3 (Verde). As estações previstas para receber o novo sistema são Tamanduateí, Itaquera, Belém e Jabaquara, assim como no Centro de Controle Operacional. As câmeras serão capazes não só de identificar pessoas, mas também rastrear objetos e detectar invasões de áreas. As propostas serão recebidas pelo Metrô até 20 de agosto.
Uso consciente da tecnologia
Apesar dessa rápida implementação da tecnologia de reconhecimento facial ter potencial para reforçar a segurança pública das cidades, a aplicação da tecnologia precisa ser feita com transparência e mantendo direitos individuais. De acordo com um novo estudo do Instituto Igarapé, chamado Future Crime, a inteligência artificial pode tornar o policiamento mais eficiente. Modelos estatísticos preditivos já são usados há mais de duas décadas com uma mescla com o policiamento de pontos estratégicos. A diferença é que agora esses métodos preditivos contam com o auxílio da aprendizagem de máquina (machine learning, no termo em inglês). Isso permite a um algoritmo preditivo ser mais eficiente e moldar sua análise com base em um histórico de dados.
Nesse contexto, o instituto alerta para a necessidade de que as agências de segurança pública estejam informadas sobre os desafios associados ao uso da tecnologia para a prevenção de crimes. O estudo diz que os desenvolvedores e a polícia devem fazer uso de diretrizes e princípios ao desenvolver, implantar e divulgar informações sobre ferramentas de policiamento preditivo – sem deixar de lado os direitos e a dignidade dos cidadãos.
Apesar das implicações que a inteligência artificial e o reconhecimento facial trazem consigo, a tendência já é irreversível no Brasil e no mundo. Em nível global, o mercado de software para a inteligência artificial terá faturamento de 118,6 bilhões de dólares em 2025, segundo previsão da consultoria Tractica. O crescimento será de 1.048% em relação ao faturamento de 2018, que foi de 9,5 bilhões. Serão mais de 300 tipos de uso da tecnologia que ajudaram mais de 30 indústrias a crescer nos próximos anos, como telecomunicações, setor automotivo, serviços, publicidade, saúde e o mercado de consumo. A tecnologia vai avançar e deve ser adotada cada vez em mais segmentos, levantando questões relacionadas à ética dos algoritmos e à privacidade dos cidadãos.
Um exemplo disso já aconteceu na ViaQuatro, responsável pela Linha Amarela do Metrô de São Paulo. Telões que exibiam anúncios e monitoravam reações das pessoas tiveram que ser desativadas justamente por falta de transparência no uso de dados. Para a Justiça, não ficou clara a exata finalidade da captação das imagens e a forma como os dados são tratados pela concessionária. Se não houver cuidado, o uso de tecnologias de inteligência artificial pode ter o mesmo destino das câmeras dos painéis da ViaQuatro, que seguem desligadas.
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