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Irmã diz que policial civil foi morto por causa da cor da pele

Para a família, o preconceito racial foi um fator determinante na morte do investigador Rafael Moura, da 3ª Seccional da Polícia Civil de São Paulo. Ele foi baleado na última sexta-feira (11/7) pelo sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Marcus Augusto Costa Mendes, que permanece em atividade.
“Meu irmão morreu por ser preto. Estava com moletom e boné, mas não estava perdido na identidade. Ele usava a identificação no peito”, relata Renata Moura, irmã do investigador.
Rafael Moura, que trabalhava na Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), foi atingido em uma viela no bairro Capão Redondo, zona sul da capital paulista.
Pedido por justiça
De acordo com sua irmã, Rafael sonhava em ser policial desde a infância. “Ele realizou este sonho e também desejava tornar-se delegado”, explica. Agora, a família vive um momento de dor e pede por justiça.
“O policial da Rota atirou para matar meu irmão. Ele deixou três filhos pequenos e uma esposa. Nosso pai, já idoso, está destruído. Estamos todos arrasados”, lamenta Renata. “Nunca imaginamos que ele seria morto por um colega da mesma profissão.”
Eles solicitam acesso às imagens da câmera corporal de Marcus Mendes, da Rota. A Polícia Militar forneceu o material para o inquérito aberto pela Polícia Civil.
“A conduta de Marcus foi inadequada como policial. Todos querem ver as imagens, especialmente porque ele alega legítima defesa. Precisamos esclarecer, pois ele ainda está em serviço”, comenta a irmã de Rafael.
Dinâmica da ocorrência
Policiais civis realizavam diligências no Capão Redondo, usando viatura e distintivo da corporação. Apesar da identificação, policiais da Rota, ao avistarem os agentes em uma viela, acreditaram que fossem traficantes e efetuaram disparos.
Os agentes tentaram informar que eram policiais, mas mesmo assim foram alvejados. Rafael Moura, de 38 anos, foi atingido por três tiros: um no braço e dois no abdômen. Ele foi levado em estado grave ao Hospital das Clínicas, passando por cirurgia, mas faleceu em 16/7.
Outro policial civil sofreu ferimento leve e recebeu atendimento no Hospital Campo Limpo, sendo liberado.
Os policiais civis ouvidos demonstraram revolta com o ocorrido.
Motivação do agressor
Um policial que prefere não se identificar contou que conhece bem a região onde Marcus Mendes atirou e acredita que a atitude foi desnecessária, pois não há costumeiramente presença de criminosos armados na área.
Para ele, Marcus buscava provar seu valor na Rota, onde recentemente ingressou. “Ele quer se destacar e justificar sua vaga na Rota”, avalia.
Investigação do caso
Um mês antes do incidente com Rafael Moura, o sargento participou de outra ocorrência a cerca de 500 metros do local, que terminou em homicídio. A vítima, não identificada, foi alegadamente vista portando uma arma de fogo, segundo os policiais militares.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar possível excesso do policial, sem mencionar afastamento do sargento.
O delegado Antonio Giovanni Neto explicou que inicialmente o caso é tratado como legítima defesa putativa, quando alguém, por engano, acredita estar sob ameaça e reage em defesa própria, tornando inviável concluir se houve exagero.
“Sendo assim, este inquérito aprofundará as investigações, já que a dinâmica dos fatos necessita de rigorosa análise. O inquérito policial será instaurado”, afirmou o delegado.
“Este processo investigativo poderá revelar a presença ou ausência de culpa e se o erro poderia ser evitado”, complementou Antonio Giovanni Neto.
Segundo o delegado, as imagens da câmera corporal do policial mostram Marcus Mendes correndo pela rua, entrando em uma viela e se deparando com um homem armado. Ele reage disparando quatro tiros e posteriormente recua. Este vídeo não foi divulgado pelas autoridades.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que o caso está sob investigação do 37º Distrito Policial do Campo Limpo. Sobre a permanência de Marcus Mendes em serviço, foi declarado que as imagens gravadas pelas câmeras corporais foram analisadas e confirmam a versão apresentada pelos envolvidos, incluindo o policial militar.

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