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Jornalistas em Gaza enfrentam perigos e condições difíceis

Em Gaza, aproximadamente 1,6 mil jornalistas profissionais estão registrados, e desde o começo da ofensiva israelense no território há cerca de dois anos, 252 jornalistas foram mortos em ataques. Esses dados foram atualizados recentemente pelo Sindicato dos Jornalistas da Palestina durante uma reunião online organizada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) em colaboração com a Embaixada da Palestina no Brasil.
Este número representa o maior assassinato de profissionais da imprensa em qualquer conflito armado registrado na história mundial, conforme informou o sindicato. Um dos ataques mais devastadores ocorreu no final de agosto, quando militares israelenses bombardearam o Hospital Nasser, causando a morte de 15 pessoas, entre elas quatro jornalistas, inclusive um repórter da agência Reuters. Algum tempo antes, uma explosão provocada por um drone israelense resultou na morte de cinco jornalistas da TV Al Jazeera, incluindo o conhecido repórter Anas Al-Sharif.
Naser Abu Baker, presidente do sindicato palestino dos jornalistas, destacou que a ocupação destruiu todas as instituições de imprensa presentes em Gaza, que antes contava com mais de 120 veículos de mídia ativos. Ele ressaltou que o número de jornalistas assassinados na região é maior que o total de profissionais mortos durante as duas Guerras Mundiais. Além disso, o sindicato também registrou a prisão de mais de 200 jornalistas e o ferimento de cerca de 400.
A reunião com jornalistas brasileiros, promovida pela Fenaj com a participação da Agência Brasil, contou com relatos de profissionais palestinos que hoje trabalham em instalações improvisadas em tendas localizadas em Khan Yunis, no sul de Gaza, e na Cidade de Gaza, no norte, esta última praticamente destruída pelos bombardeios das Forças de Defesa de Israel (FDI).
Samir Khalifa compartilhou sua experiência dizendo: “Estou falando do que restou da Cidade de Gaza, após os ataques das forças de ocupação, que destruíram quase 95% da cidade. Nosso centro de mídia fica a cerca de 500 metros dos tanques israelenses, e aviões sobrevoam constantemente para impedir que nossa voz seja ouvida”.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas da Palestina, 647 residências de profissionais da imprensa foram destruídas pelos ataques militares. Tahseen Al-Atsall, vice-presidente do sindicato em Gaza, afirmou que todos os jornalistas foram deslocados de suas casas e atualmente vivem em tendas junto às suas famílias.
A Agência Brasil solicitou uma posição da Embaixada de Israel acerca da violência contra jornalistas palestinos, mas ainda aguarda uma resposta para atualização da reportagem.
A Faixa de Gaza tem sido alvo de intensos bombardeios e invasões terrestres pelo Exército israelense desde outubro de 2023, quando um ataque do grupo islâmico Hamas contra vilas israelenses deixou cerca de 1,2 mil mortos e 220 reféns. O Hamas justifica o ataque como uma resposta ao bloqueio de mais de 17 anos e à ocupação dos territórios palestinos por Israel.
Desde então, os ataques israelenses causaram mais de 60 mil vítimas e destruíram hospitais, escolas e diversas infraestruturas essenciais para a população local. O bloqueio das fronteiras dificulta a chegada de alimentos e medicamentos, agravando a crise humanitária. Israel afirma que seu objetivo é resgatar os reféns mantidos pelo Hamas e eliminar completamente o grupo.
O conflito foi tema central da recente Assembleia Geral da ONU em Nova York, durante a qual diversos países tradicionalmente aliados a Israel reconheceram oficialmente o Estado palestino, incluindo Reino Unido, França, Canadá e Austrália. O Brasil reconhece a Palestina desde 1967 e apoia a coexistência pacífica entre dois Estados, um para palestinos e outro para israelenses.
Apesar das pressões internacionais, o governo israelense reforçou que não aceitará a criação de um Estado Palestino.
O Sindicato dos Jornalistas da Palestina alerta que desde o início da ocupação israelense em outubro de 2023, cerca de 3,4 mil jornalistas foram impedidos de entrar em Gaza, entre eles 820 dos Estados Unidos, principal aliado de Israel. Al-Atsall destaca que essa medida demonstra a intenção do Estado ocupante de impedir a cobertura jornalística dos crimes de lesa-humanidade cometidos, violando a Resolução 2222 do Conselho de Segurança da ONU, que protege a atuação dos jornalistas em zonas de conflito e prevê punições para ataques contra eles.
Durante a cobertura, Ghaida Mohammad, da TV Palestina, descreveu as dificuldades enfrentadas pelos jornalistas locais, especialmente as mulheres, que muitas vezes são mães e carecem de equipamentos básicos de segurança.
“Muitas jornalistas são mães e enfrentam a dura realidade de trabalhar sem proteção adequada no campo. Também sofremos com a falta de itens essenciais como leite em pó e produtos de higiene infantil”, relatou.

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