Economia
Juros altos acendem a luz amarela para o crédito, dizem especialistas
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Com taxas elevadas, os empréstimos ou compras com cartão ficam cada vez mais caros. Especialistas alertam para os cuidados que devem ser tomados e trazem dicas para as melhoras escolhas na hora de contratar uma operação
Em instituições bancárias e financeiras, conseguir um empréstimo ficou ainda mais difícil neste ano, devido ao alto nível dos juros aplicados para a concessão de crédito. A política monetária mais restritiva implementada pelo Banco Central desde o final do ano passado, somada à grande quantidade de inadimplentes no Brasil, faz com que os bancos fiquem ainda mais receosos em oferecer crédito à população.
Diante disso, é necessário avaliar a real necessidade e as melhores opções antes de tomar um empréstimo, na opinião de especialistas. Em janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) para 13,25% ao ano (a.a.), seguindo a tendência apontada, pelo próprio grupo, de promover altas mais fortes da Selic no início do ano. Em comunicado publicado na última reunião de 2024, o Copom justificou a elevação de um ponto percentual da taxa às incertezas externas e aos ruídos provocados pelo pacote fiscal do governo federal, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em novembro, e aprovado pelo Congresso Nacional no mês seguinte.
Além de apontar as principais causas para o aumento da Selic, o comitê adiantou que haveria mais duas elevações de 1 ponto percentual nas primeiras duas reuniões de 2025. Uma já foi, e agora se espera que o BC mantenha a previsão para o encontro dos próximos dias 18 e 19 de março. De acordo com o último Boletim Focus, publicado no dia 24 de fevereiro, o mercado previa uma Selic de 15% ao final deste ano.
Além disso, as análises levantadas pelo Banco Central, responsável pela publicação do relatório, apontam que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar o ano acumulada em 5% nos 12 meses de 2025. Se a previsão se tornar realidade, o Brasil atingirá uma taxa de juros real — que desconta a inflação — de dois dígitos, em 10%, ao final de dezembro, consolidando-se na primeira colocação entre as nações com a maior taxa real do mundo.
A alta de juros e a inflação têm um impacto significativo na tomada de crédito, afetando tanto consumidores quanto empresas, ressalta o CEO do Mêntore Bank, Vanderson Aquino. “Com a alta dos juros, as taxas de empréstimos e financiamentos aumentam. Isso torna o crédito mais caro, o que pode desestimular as pessoas a tomarem empréstimos ou financiamentos”, explica. Já no caso das empresas, o executivo destaca que há uma valorização no custo de capital também, o que pode levar a uma redução nos investimentos e expansão. “Consequentemente, a diminuição na demanda por crédito faz com que taxas de juros subam e a capacidade de pagamento das pessoas e empresas diminua, o que pode reduzir a demanda na procura por crédito.
Além disso, com a inflação, os consumidores podem priorizar o consumo de bens essenciais, deixando de lado compras financiadas”, acrescenta Aquino. O aumento da inflação e dos juros também deve resultar em um perfil de crédito mais rigoroso por parte das instituições financeiras. Diante disso, pessoas com renda instável ou empresas em setores mais vulneráveis podem ter mais dificuldade em obter empréstimos. “Resumindo, tanto a alta de juros quanto a inflação tornam o crédito mais caro e difícil de acessar, o que afeta negativamente o consumo e os investimentos, podendo desacelerar a economia”, conclui Aquino.
Empresas
A adoção de critérios mais rigorosos por parte dos bancos faz parte do chamado “Custo Brasil”. O termo é amplo e se refere a ineficiências na legislação e na regulamentação brasileira que dificultam o avanço da atividade econômica. Nesse contexto, o coordenador dos cursos de Economia, Gestão Pública e Gestão Financeira do Iesb, Riezo Almeida, avalia que este cenário intensifica a inadimplência e, consequentemente, os custos para a obtenção de crédito. “Poucos cidadãos, que não possuem educação financeira, deixam de honrar seus empréstimos e prejudicam os bons pagadores, portanto o aumento dos juros não é justificável por parte dos bancos, mas é uma praxe”, avalia.
O coordenador ainda acredita na possibilidade de negociação entre as instituições e a população, por meio de programas de crédito direcionados a setores estratégicos ou políticas públicas que incentivem investimentos. Diante disso, as propostas poderiam ser benéficas às empresas, que são um dos segmentos mais afetados com a queda da atividade econômica.
Almeida lembra que o cenário de juros altos pode resultar em aumento nos custos de financiamento e redução na demanda por produtos e serviços, devido ao menor poder de compra dos consumidores. “Investir na economia criativa, ou seja, ofertar alternativas de empréstimos com juros menores em um prazo menor, por exemplo, beneficiaria a todos”, considera. Por outro lado, o advogado e doutor em Economia Humberto Veiga, acredita que há possibilidades para os empresários que buscam formas de financiamento sem correr sérios riscos de inadimplência.
“Haverá dificuldades. Mas são dificuldades pelas quais as pessoas já passaram e elas sabem navegar. Então, eu creio em um futuro melhor. Eu creio que a economia brasileira está em processo de melhora, ela não está em processo de piora”, avalia. Veiga ressalta que o país já conviveu com cenário de taxas reais de juros muito elevadas, como nos anos 1980 e 1990, quando a taxa Selic chegou a ficar acima de 50%, durante o governo do ex -presidente Fernando Henrique Cardoso. “Acho que se a gente olhar o que o Brasil já passou, nós viemos de taxa de inflação de 80% ao mês para uma taxa de inflação que o pessoal está fazendo um escândalo e nós estamos em 5% ao ano”, pontua.
Diante disso, o advogado considera que aproveitar as oportunidades, quando surgirem, é um passo importante para evitar o pessimismo e levar à frente o próprio negócio. “O empresário é um guerreiro. Ele está procurando sobreviver em uma selva diária. Então todo dia aparecem desafios, aparece a concorrência, tem uma série de coisas, mas também, é outro que, se sobrevive, é um vencedor””, conclui Veiga.
Planejamento
Para o consumidor que planeja obter créditos para fins mais específicos, o consultor econômico da Leroy Group, Felipe Diniz Leroy, reconhece que, com uma Selic elevada, os bancos provavelmente irão continuar ajustando suas taxas de juros internas, especialmente no crédito pessoal e em financiamentos voltados a pessoas jurídicas.
Consequentemente, isso resulta em juros mais altos em cartões de crédito, empréstimos pessoais e financiamentos, tornando o crédito menos acessível. Para quem não quer deixar de contratar empréstimos para mais tarde, priorizar formas de crédito mais baratas, como crédito consignado, é opção para quem tem um vínculo formal de trabalho — avalia o consultor — por ser uma das opções mais acessíveis, com parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento, resultando em taxas de juros menores.
“Outra forma é o financiamento com taxas controladas, como os oferecidos por cooperativas de crédito ou algumas fintechs, que podem ter taxas de juros mais baixas que os bancos tradicionais”, acrescenta. Leroy elenca, ainda, três dicas para evitar os juros abusivos: ter planejamento financeiro, evitar o cartão de crédito, quando possível, e negociar dívidas existentes. “Caso já haja algum tipo de débito, vale a pena tentar uma renegociação com os credores. Muitas vezes, bancos e instituições financeiras oferecem condições melhores, especialmente em tempos de crise, se o cliente estiver disposto a buscar alternativas”, explica o consultor.
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