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Economia

Juros futuros sobem devido a preocupações com risco fiscal

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A elevação da percepção sobre o risco fiscal, diante da possibilidade de novas medidas que aumentem gastos públicos, impulsionou a alta dos juros futuros na sessão desta quinta-feira (2). Os prazos mais longos da curva de juros tiveram alta de até 14 pontos-base no final do dia, enquanto o mercado assimilava a aprovação na Câmara do projeto que isenta o Imposto de Renda (IR) para rendas até R$ 5 mil e acompanhava rumores sobre uma proposta do governo para zerar tarifas de ônibus no país.

Ao final das negociações, a taxa para o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2027 subiu de 14,058% para 14,090%. O DI de janeiro de 2028 alcançou 13,465%, ante 13,377% anteriormente. Para janeiro de 2029, o indicador avançou de 13,252% para 13,390%, enquanto o de janeiro de 2031 encerrou em 13,595%, vindo de 13,432% no ajuste anterior.

Na véspera, a Câmara aprovou por unanimidade a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil, com a compensação prevista pela aplicação de alíquota mínima de 10% sobre rendimentos anuais superiores a R$ 1,2 milhão e dividendos acima de R$ 50 mil mensais. O texto aguarda aprovação do Senado, necessária até o fim do ano para vigorar em 2026.

Erlan Valverde, especialista em direito tributário e sócio do IW Melcheds Advogados, ressalta que a ampliação da isenção é vantajosa, mas o modelo de compensação levanta preocupações. “Há um alívio para aqueles que recebem até R$ 5 mil, porém a cobrança sobre dividendos muito elevados impacta empresas já submetidas a uma das maiores cargas tributárias do mundo”, comenta. Segundo ele, o Brasil tributa o lucro das empresas em 34%, considerando IRPJ e CSLL, acima da média dos países da OCDE, que é 21%.

Além da incerteza sobre a forma de compensação da renúncia fiscal no projeto de IR, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, destaca que o clima de maior dispêndio público, junto ao temor de surgimento de pautas populistas sem respaldo fiscal, pressionou a curva na sessão.

“A renúncia do projeto de IR é certa, mas a compensação permanece incerta. A preocupação fiscal ressurgiu, assim como o clima eleitoral. Vale lembrar que, por legislação eleitoral, não são permitidas novas criações ou ampliações de benefícios em 2026, o que alimenta o receio de que pautas populistas ganhem força neste último trimestre”, afirma Sanchez.

Erich Decat, head de análise política da Warren Investimentos, indica que, a um ano das eleições presidenciais, parlamentares tendem a favorecer propostas de apelo popular, como a reforma do IR. “A expectativa é que o Senado aprove o texto até o fim de 2025, reduzindo incertezas fiscais e fortalecendo o cenário previsto”, observa em relatório.

O mercado também está atento a informações sobre avaliações da equipe técnica do governo para reduzir ou eliminar totalmente a tarifa dos ônibus no Brasil. Apesar de fontes da área econômica considerarem essa proposta improvável, a circulação dos rumores ampliou a cautela sobre o cenário fiscal.

“O mercado ponderou o custo dessa possível medida. Já foram citados valores entre R$ 35 bilhões e R$ 100 bilhões, sem clareza sobre o financiamento, duração e alcance da gratuidade, gerando grande incerteza”, relatou uma fonte do mercado para a Broadcast, mencionando também um ambiente externo mais avesso a riscos.

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