Economia
Justiça mantém prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master
A Justiça confirmou a detenção de Daniel Vorcaro, proprietário do Banco Master. Em decisão divulgada na quinta-feira, a desembargadora Solange Salgado da Silva, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, negou o pedido de soltura feito pela defesa do banqueiro.
“A paralisação das atividades ilegais é essencial”, ressaltou a magistrada. “A soltura do acusado, diante deste cenário de fraude sistêmica e tentativa de impedir a fiscalização, representa um risco real”, acrescentou.
Vorcaro foi detido na segunda-feira por ação da Polícia Federal. O decreto da prisão aponta indícios contundentes de gestão fraudulenta e atuação em organização criminosa, conforme trecho da decisão de quinta-feira.
A desembargadora destacou que “existem fortes evidências de que a organização criminosa continuou suas atividades, tornando a prisão necessária para impedir a continuidade dos crimes”.
“A complexidade do esquema, com o fornecimento de informações falsas e a criação de uma narrativa ilusória ao Banco Central, indicam o comportamento de obstrução e sofisticação da fraude que, somados ao grande poder financeiro do réu, configuram um risco atual à ordem pública e econômica”, afirmou a magistrada.
Ela fundamentou a prisão em dados sólidos dos autos, especialmente na necessidade da medida para garantir a ordem pública e econômica, considerando que Vorcaro é apontado como um dos líderes da suposta organização criminosa responsável por múltiplos crimes contra o sistema financeiro nacional, causando prejuízos bilionários.
A defesa alegou que o pedido da prisão da Polícia Federal continha argumentos genéricos e não demonstrava risco concreto. Também argumentaram que os fatos investigados não são recentes, que o Banco Central afastou riscos ao decretar a liquidação extrajudicial da instituição financeira, e que não houve intenção de fuga, visto que o empresário planejava viajar aos Emirados Árabes para formalizar a venda do Banco Master para um grupo de investidores.
Operações duvidosas
A investigação da Polícia Federal revelou indícios de que o BRB realizou operações irregulares com o Master para tentar manter a instituição financeira enquanto o Banco Central avaliava a proposta de venda do banco. O BRB propôs a compra do Master em março, mas a operação foi negada pelo BC.
O Master negociou a venda de carteiras de crédito ao BRB para obter recursos e ganhar fôlego no mercado. Para as autoridades, esta transação foi uma forma de contornar o Banco Central.
O Ministério Público Federal declarou que o Master teria adquirido carteiras de crédito de uma empresa ligada a um ex-funcionário sem realizar pagamentos, e logo depois revendeu esses títulos ao BRB, recebendo pagamento imediato, resultando na transferência de R$ 12,2 bilhões entre janeiro e maio de 2025.
O Master informou ao Banco Central que as carteiras de crédito vinham de duas associações de servidores do estado da Bahia, supostamente criadas por um diretor do banco privado.
No entanto, auditoria do BC verificou que as cessões envolveram CPFs de diversas regiões do país, e que as movimentações financeiras não batiam com as associações indicadas na operação.
O Banco Central examinou uma amostra de 30 clientes tomadores de créditos do Master e concluiu que não foi possível comprovar a correspondência das transações com o fluxo financeiro, reforçando indícios de inconsistências.
Posteriormente, o BRB apresentou ao BC uma nova amostra com 100 contratos de créditos adquiridos do Master, e a autoridade monetária identificou indícios de possíveis engenharias contábeis e financeiras para viabilizar a captação dos recursos.
Após questionamentos do BC, a titularidade dos títulos passou a ser atribuída à Tirreno, empresa criada no final de 2024 por uma pessoa que registrou outras firmas semelhantes, indicando ser uma empresa de fachada para a operação de apoio ao Master.
A Tirreno aumentou seu capital para R$ 30 milhões, passou a ter um ex-funcionário do Master como diretor e realizou mudanças societárias registradas somente após o início das operações financeiras com o BRB.
O Ministério Público Federal destacou que o contrato inicial entre Master e Tirreno e um dos documentos de cessão de crédito não foram autenticados em cartório, e que os demais documentos foram formalizados meses depois da transação.
Os investigadores consideram suspeito que só após questionamento do Banco Central o BRB tenha exigido documentos adicionais, o que é inesperado para uma operação desse porte (R$ 12,2 bilhões) que deveria ter cuidados rigorosos para garantir sua validade.
Em comunicado, o BRB afirmou que sempre atuou conforme normas de compliance e transparência, prestando informações regularmente ao Ministério Público Federal e ao Banco Central sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master. O BRB, banco público controlado pelo governo do Distrito Federal, afastou seu presidente, Paulo Henrique Costa.
O advogado Roberto Podval, defensor de Daniel Vorcaro, classificou a prisão como desnecessária e ilegal, e informou que o banqueiro estava prestes a viajar aos Emirados Árabes Unidos para concluir a venda do Banco Master para um grupo de investidores liderado pelo Grupo Fictor, quando foi detido no aeroporto internacional de Guarulhos.

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