Kast propõe plano rigoroso contra crime para Chile

Um muro no deserto para barrar imigrantes em situação irregular e reforço das ações policiais contra criminosos. Com seu “programa firme”, o ultraconservador José Antonio Kast se destaca na corrida presidencial no Chile.

Em sua terceira tentativa de chegar ao Palácio de La Moneda, Kast, 59 anos, foca sua campanha no combate ao crime e na gestão da migração “desordenada”, deixando de lado temas polemicos de suas campanhas anteriores, como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Na pesquisa Cadem divulgada no domingo, ele lidera as intenções de voto junto da comunista Jeannette Jara, da coalizão de centro-esquerda, para as eleições de 16 de novembro.

Simpatizante do ditador Augusto Pinochet, Kast atrai apoio com seu “programa firme”: prisões de alta segurança, endurecimento das penas e a presença de militares e policiais em áreas críticas.

Em debate televisivo no dia 10 de setembro, contra sete outros candidatos para suceder o presidente esquerdista Gabriel Boric, Kast revelou que possui um “revólver com cinco balas” e argumentou que policiais enfrentam criminosos com armas restritas.

Por isso, propôs equipar as forças de segurança com “pistolas potentes e veículos blindados”.

Em 2024, o Chile teve uma taxa de 6 homicídios por 100.000 habitantes, uma das menores da América Latina, conforme a ONU.

No entanto, o aumento nas extorsões e assassinatos por encomenda causa preocupação entre os quase 20 milhões de chilenos. Para 64% da população, crime e violência são as maiores preocupações, segundo estudo recente da Ipsos.

“O programa firme é uma declaração de guerra contra o crime organizado”, afirma o líder do Partido Republicano.

No ano passado, Kast visitou uma prisão para gangues em El Salvador e elogiou o presidente Nayib Bukele pela “guerra contra as gangues” que, segundo ele, libertou os salvadorenhos.

José Martínez, pedreiro de 59 anos, já decidiu votar em Kast após ter apoiado a esquerda e centro-direita. “É o único que pode agir com firmeza contra a criminalidade”, disse à AFP no centro de Santiago.

Em 2021, Kast se opôs ao casamento homoafetivo, prometeu encerrar o Ministério da Mulher e revogar a lei que flexibilizou o aborto.

Mas atualmente, esse advogado prefere evitar temas que dividam os chilenos.

“Surgiu um Kast mais moderado, mas resta saber se essa nova imagem será eficaz, já que a anterior ele dominava completamente”, comenta Gonzalo Müller, analista político da Universidade do Desenvolvimento.

Para seus críticos, ele permanece o mesmo político. “Não gosto do seu machismo. Tenho duas filhas e me preocupo com o futuro delas. Os direitos que ele pode tirar são muitos”, afirma Catherine Astudillo, mãe solo de 33 anos.

O ultradireitista também foca sua campanha contra a migração irregular, que muitos associam à insegurança.

Estima-se que cerca de 330 mil estrangeiros, principalmente venezuelanos, vivem no Chile sem documentação.

“Temos um problema com imigração ilegal. Aqueles que entram pelas janelas, não pela porta”, declarou Kast ao lançar sua campanha próximo à fronteira desértica com a Bolívia.

Propôs erguer um muro de cinco metros, abrir uma trincheira de três metros e destacar 3.000 militares nessa área. Também prometeu deportações em massa e criminalizar a entrada irregular.

Em maio, 44% dos chilenos manifestaram grande preocupação com a presença de estrangeiros em seus bairros, segundo o Centro de Estudos Públicos.

Costumando evitar a imprensa, Kast protege sua campanha para evitar “violência física e verbal”.

Apenas alguns jornalistas recebem informações antecipadas sobre seus eventos.

Cinco de seus colaboradores mais próximos se recusaram a falar com a AFP para esta reportagem.

“É um líder da extrema direita chilena. Conhece muito bem as instituições; é reservado, fechado e monótono”, diz Amanda Marton, coautora do livro “Kast. La ultraderecha a la chilena”.

Filho de imigrantes alemães que chegaram ao Chile após a Segunda Guerra Mundial, Kast é casado com a advogada Pía Adriazola e pai de nove filhos.