Saúde
Kombucha: o chá milenar que promete emagrecer e dar energia
O consumo do chá, que contém “bactérias do bem”, tem crescido no Brasil
Já ouviu falar do chá de Kombucha ou “Kombutchá”, como se pronuncia? Com propriedades para melhorar o sistema imunológico, regularizar as funções do intestino, aumentar a energia e até mesmo emagrecer, essa bebida chinesa milenar está ganhando adeptos no Brasil. Basta clicar o nome na internet. Inúmeras páginas nas redes sociais e sites oferecem de dão aulas de como preparar o produto.
A apresentação do Kombucha é tão estranha como seu nome. Trata-se de uma bebida artesanal, levemente gaseificada, que surge da fermentação do chá preto adoçado com açúcar. O líquido resultante é uma combinação de microorganismos (leveduras e bactérias), benéficos à saúde. Os adeptos consomem de dois a três copos do chá por dia e afirmam sentir melhoras na saúde como um todo.
Para produzir o Kombucha é preciso cultivar um scoby (uma cultura viva, de aspecto gelatinoso, parecida com uma massa de panqueca, composta por bactérias e leveduras) junto a 10% do chá da safra anterior. Esse scoby é adicionado a um recipiente de vidro com aproximadamente três litros de chá preto com açúcar em temperatura ambiente, coberto com um pano limpo para que ele possa respirar e se reproduzir. Ao fim de dez dias, em média, oscoby resulta em um “filhote” e a bebida finalmente está pronta para o consumo. Ah, sim. Antes deve ser coada…
A pintora Suzzana Carlota Schelmm, de 45 anos, consome o chá há seis meses e se surpreendeu com a quantidade de pessoas interessadas em tomar a bebida depois que publicou um post em uma rede social dizendo que tinha dois “filhotes” de Kombucha para doar. Mais de 40 pessoas entraram na fila virtual em poucas horas.“Fiquei até assustada com a repercussão. Vou doar para os primeiros da fila. Espero que essas pessoas, depois de dez dias, doem seus “filhotes” também. Essa é a beleza da coisa, doar e não vender”, afirma ela, que diz sentir uma “disposição diferente” desde que começou a tomar o chá. “Durmo melhor, acordo melhor.”
O aposentado Luiz Guilherme Bender, de 66, é um dos interessados em iniciar o consumo do Kombucha. Sua filha, Martha, conseguiu uma colônia em um grupo de doação e está produzindo a bebida. “Quero ter uma vida mais natural e mais saudável, além de querer perder uma sobrebarriga de seis quilos”, brincou.
Outro adepto do Kombucha é o programador web Marcus Vinicius Dutra Paiva, de 44 anos. Ele toma o chá há mais de 10 anos e afirma que chegou a perder 10% do peso. “Nunca pensei em emagrecer nem havia um problema de saúde que me levasse a buscar o Kombucha. Sempre usei o chá como alternativa a refrescos e refrigerantes, geralmente após o almoço”, diz Paiva, que mantém um blog (Kombucha Blog do Brasil) com informações, dicas e dúvidas sobre o produto.
A publicitária Tammy Bocaiuva Villella, de 51 anos, se declara apaixonada pelo Kombucha e diz que o consumo do chá pode ser considerado uma “filosofia de vida”. Vegetariana desde os 7 anos e vegana desde os 16 anos, ela diz que a bebida tem uma fartura de vitaminas, enzimas e outros agentes que beneficiariam a saúde. “Tomo todos os dias em jejum. Sinto muita energia vital, flexibilidade, disposição, entusiasmo e um bem estar incrível”, afirma ela, que toma a bebida há dois anos e já doou “filhotes” de Kombucha para várias pessoas.
Riscos e benefícios
Os principais microorganismos presentes no chá de Kombucha são Acetobacter xylinum, Acetobacter xylinoides, Acetobacter ketogenum, Saceharomycodes ludwigii, Saccharomycodes apiculatus, Schizosaccharomyces pombe,Zygosaccharomyces, e Saccharomyces cerevisiae. Um laudo técnico realizado pelo Laboratório Aqualab, de Porto Alegre, atesta a qualidade do Kombucha e afirma que o produto está livre de bactérias patogênicas causadoras de gastroenterites, sendo próprio para o consumo.
O médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), afirma que os benefícios do Kombucha estão no fato de esses microorganismos habitarem a microbiota intestinal. “Tais bactérias são as chamadas bactérias do bem. Se você as tem em grandes quantidades no organismo, tem uma boa imunidade”, afirma.
Ainda segundo Ribas Filho, essas bactérias do bem, quando fermentadas, liberam substâncias que vão agir no núcleo da saciedade, o que ajudaria na perda de peso. “Esses microorganismos também agem melhorando o metabolismo, o que provoca as sensações de bem-estar, energia e disposição.
Os benefícios não eliminam os riscos, claro. Em especial por se tratar de uma cultura de bactérias. “Se o produto mofar e for contaminado por fungos ou bactérias chamadas do mal, pode causar, sim, problemas de saúde.”
A nutricionista e professora universitária Andréa Esquivel, colaboradora da Associação Paulista de Nutrição (Apan), diz que é preciso ter cautela no consumo de forma indiscriminada e sem acompanhamento, pois os compostos da bebida podem interagir com outras substâncias, como medicamentos, causando problemas ou reações adversas indesejadas. “Há relatos de toxicidade no fígado e nos rins após o consumo do chá”, afirma.
Andréa também destaca a questão da manipulação do produto.Ele é feito artesanalmente. “Deve-se ter um critério rígido de assepsia, levar em consideração o ambiente, a qualidade da água, usar vidro e não plástico. Caso contrário, a colônia pode ser contaminada e desenvolver outros fungos e bactérias prejudiciais à saúde.”
Ela reforça que o chá não deve ser consumido por pessoas com baixa imunidade, gestantes, crianças e idosos, pois eles possuem o sistema imunológico mais frágil e suscetível à infecções oportunistas. “Não é porque é natural que não faz mal”, diz. Para ela, o consumo do chá é um modismo que chegou no Brasil que pode ser perigoso. “É leigo indicando e doando a cultura para leigo”.
Anvisa
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que o chá de Kombucha pode ser comercializado no Brasil, mas que não há alegações sobre os benefícios à saúde autorizadas para esse produto. Ainda segundo a agência, os chás são alimentos dispensados de registro e, por serem alimentos, não podem indicar propriedades terapêuticas ou medicamentosas.
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