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Líbano aceita proposta dos EUA para desarmamento do Hezbollah; grupo xiita rejeita ideia

Os Estados Unidos apresentaram ao Líbano um plano para desarmar o Hezbollah até o final do ano, conforme documento do gabinete libanês analisado pela Reuters. A proposta inclui também o fim das operações militares de Israel no país e a saída de suas tropas do sul do Líbano.
Apresentado pelo enviado americano Tom Barrack, o plano detalha etapas para desarmar o Hezbollah, grupo xiita apoiado pelo Irã que rejeita deixar a luta armada desde o conflito com Israel no ano passado.
O ministro da Informação libanês, Paul Morcos, afirmou que o governo de Beirute concorda com os objetivos e com a saída das tropas israelenses, mas ainda não discutiu a implementação. Autoridades americanas não comentaram o caso. Representantes do Hezbollah abandonaram reunião do gabinete em protesto contra a proposta.
O Hezbollah é uma das forças militares não estatais mais poderosas do mundo e declarou que ignorará o plano, aumentando o risco de crise.
Israel lançou ataques contra o Hezbollah no ano passado depois que o grupo apoiou o Hamas na guerra em Gaza, causando pesadas perdas para a organização, incluindo a morte do líder Hassan Nasrallah.
A proposta dos EUA visa manter e fortalecer o cessar-fogo entre Líbano e Israel negociado em novembro. A etapa inicial pede que o governo libanês se comprometa formalmente a desarmar o Hezbollah até o fim de 2025, enquanto Israel suspende suas operações militares.
Nas fases seguintes, o Líbano deve implantar um detalhado plano de desarmamento apoiado pelo exército, Israel retiraria suas tropas e promoveria a libertação de prisioneiros, e finalmente, o Hezbollah desativaria armas pesadas como mísseis e drones, com apoio de vários países para reconstrução econômica.
No entanto, o Hezbollah denunciou o plano como uma imposição dos EUA e disse que o governo libanês estaria cometendo um erro ao tentar retirar suas armas para resistir a Israel. Membros do grupo participaram das discussões, mas saíram antes da votação.
O grupo, denominado por vezes como um “Estado dentro do Estado”, tem grande influência política no Líbano. Após a ofensiva israelense, o Hezbollah sofreu grandes perdas e o enfraquecimento de sua rota de abastecimento pela Síria.
O governo libanês adotava cautela para evitar confrontos com o grupo e parte da população xiita, mas a posição atual pode desestabilizar o delicado equilíbrio pós-guerra civil, que terminou em 1990, após décadas de tensões étnico-religiosas.
O sistema político do Líbano é baseado em equilíbrio entre cristãos, muçulmanos sunitas e xiitas, mas essa divisão gerou conflitos e originou o Hezbollah num contexto de ocupações sírias e israelenses entre as décadas de 1970 e 1980.
Segundo o deputado Mark Daou, o Hezbollah mantém força política e representação xiita, influenciando decisivamente a cena local. Recentemente, o premiê Nawaf Salam reafirmou o dever do Estado de controlar as armas, e o presidente Michel Aoun pediu ao Exército um plano para reunir armamentos sob sua autoridade até o fim do ano.
Especialistas veem o movimento como arriscado e potencialmente capaz de ampliar a adesão xiita ao Hezbollah e seus aliados, antes que promova unidade nacional.
Em pronunciamento, o líder do grupo Naim Qassem declarou que o Hezbollah continuará forte e pronto para defender a soberania e independência do Líbano, destacando os sacrifícios feitos contra a agressão israelense.

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