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Líder dissidente cubano José Daniel Ferrer aceita sair do país

José Daniel Ferrer, um conhecido opositor em Cuba, que foi preso por tentar participar das manifestações de 11 de julho de 2021, declarou sua disposição em deixar o país devido às pressões que ele e sua família vêm enfrentando, conforme informou sua esposa, Nelva Ortega, à AFP nesta sexta-feira (3).
Em uma carta datada de 10 de setembro, escrita da prisão de Santiago de Cuba, onde está detido, Ferrer expressou que, após repetidas intimidações da polícia política, concordou em deixar Cuba para buscar o exílio.
Fundador do movimento União Patriótica de Cuba (Unpacu), Ferrer é um defensor da mudança pacífica para um regime democrático na ilha. Foi libertado em janeiro, sob um acordo intermediado pelo Vaticano durante o governo do ex-presidente americano Joe Biden, mas foi novamente preso em abril.
Sua esposa afirmou que a saída de Ferrer para um destino ainda não definido pode acontecer na próxima segunda-feira, porém as autoridades cubanas ainda retêm seu passaporte.
Ela destacou que, caso não haja uma confirmação de uma data precisa até o final da semana, Ferrer poderá optar por ficar encarcerado indefinidamente.
Na carta enviada a sua família por intermédio de um mensageiro, Ferrer declarou: “De Cuba só saio com minha dignidade e honra erguida”.
Nos últimos meses, ele relatou que sofreu perseguições extremas, incluindo agressões físicas, torturas, humilhações, ameaças e condições severas de detenção.
Um dos motivos para sua decisão foi a ameaça de prisão contra sua esposa e o risco de seu filho pequeno ser colocado em uma instituição pública para menores.
Posição firme dos Estados Unidos
Ferrer mencionou ter perdido a confiança em muitos de seus colegas de luta pela desunião e falta de eficácia, mas afirmou manter esperança nos bons lutadores remanescentes.
Ele destacou que apenas os Estados Unidos mantêm uma postura firme contra o regime comunista e uma real solidariedade com a oposição pacífica e o povo cubano.
Em fevereiro, o chefe da missão diplomática dos EUA, Mike Hammer, viajou até Santiago de Cuba para visitar Ferrer, e em maio visitou sua esposa novamente.
Reações da oposição
Manuel Cuesta Morrua, outro opositor que apoia a transição democrática em Cuba, declarou à AFP que compreende e apoia a dolorosa decisão de Ferrer.
Cuesta, veterano da luta, ressaltou que Ferrer fez uma grande diferença com sua corajosa e intensa atuação, mesmo enfrentando quatro prisões.
Martha Beatriz Roque, outra figura histórica da dissidência, ressaltou a importância de Ferrer na oposição cubana e enfatizou que já é hora dele viver sua própria vida após tanto sacrifício pela liberdade do país.
José Daniel Ferrer foi detido em 11 de julho de 2021 durante as maiores manifestações antigovernamentais desde a revolução de 1959.
Desde sua libertação em janeiro, ele criticou o governo regularmente nas redes sociais e instalou um refeitório em sua residência para pessoas carentes, com apoio financeiro de cubanos no exterior.
Ele afirmou que o governo não aprova seu ativismo social por expor a pobreza existente na ilha.
Considerado um prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional, Ferrer esteve entre os 75 opositores detidos em 2003 na chamada “Primavera Negra”; sendo ele e Felix Navarro os últimos a serem libertados, em 2011.
Enquanto muitos desses opositores deixaram Cuba, Ferrer e Navarro decidiram permanecer no país para continuar sua luta.

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