Com a previsão de encerramento das atividades do lixão da Estrutural, em Brasília, no próximo dia 20, o governo do Distrito Federal tem apenas mais uma semana – até 17 de janeiro – para realocar 1,1 mil catadores. Os trabalhadores devem ser destinados para os cinco galpões de reciclagem administrados pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e cedidos para uso de cooperativas.
Com a mudança, a estimativa do governo é de que, até o fim de 2018, o DF tenha cinco galpões voltados para triagem e separação do material descartado pela população do DF. Juntos, os espaços têm capacidade para receber até 1.360 catadores que devem trocar a coleta seletiva no lixão pelo trabalho em cooperativas.
Até a última atualização divulgada pelo SLU a pedido da reportagem, apenas dois galpões alugados pelo governo estavam em funcionamento. Os espaços eram ocupados por três associações de reciclagem.
Segundo o GDF, os outros três lotes estão prontos, mas ainda não foram ocupados pois o SLU “aguarda a análise de documentos apresentados pelas cooperativas”. Atualmente, 140 catadores se revezam na atividade. O quantitativo representa apenas 10% da capacidade do local.
Bolsa compensação
Quando os catadores deixam a coleta no lixão da Estrutural e passam a atuar nos galpões do GDF, são cadastrados para receber R$ 360,75 mensais do governo. O valor funciona como uma espécie de “compensação financeira”. A quantia é paga ao longo de seis meses, a contar do início das atividades no novo galpão.
A medida foi implementada pela Lei Distrital nº 1.459, sancionada pelo governador em junho do ano passado, e tem intenção de reduzir os impactos na renda mensal dos catadores com o fechamento do lixão. Segundo catadores, o número de caminhões diminuiu desde a inauguração do aterro de Samambaia e, com isso, o rendimento das famílias também caiu.
Em alguns casos, o valor pode ser somado a uma outra bolsa de R$ 300 – para isso, o catador tem de participar de cursos de capacitação voltados à atividade ambiental. Nesse caso, ele deve cumprir o mínimo de 12 horas mensais voltadas ao aperfeiçoamento. Apesar dos benefícios, alguns ex-trabalhadores do lixão da Estrutural dizem que a nova atividade “não compensa”.
A catadora Zilma da Silva, de 53 anos, é um exemplo. A moradora da Estrutural trabalhou por 30 anos no lixão e há cinco meses trocou a coleta à céu aberto pelo trabalho nos galpões. A rotina, que antes era de 13 horas diárias, foi reduzida a 4 horas. O motivo, segundo a catadora, é a modalidade de trabalho nos galpões, dividida por turnos e compartilhada com trabalhadores de outras cooperativas no período oposto.
“Antes, no lixão, eu não parava de trabalhar. Se viesse uma coleta boa de material dava pra trabalhar até de manhã, e a gente aproveitava. Dava pra tirar alguma coisa, uns R$ 200 por noite.”
Com o valor faturado anteriormente por dia de trabalho, Zilma viu a renda reduzir em quase 70%. O que antes representava mais de R$ 2 mil de renda, em média, por mês, foi substituído por cerca de R$ 660.
Apesar da diminuição do salário, a catadora afirma que também há pontos positivos. Como vantagem, a trabalhadora cita a formalização do trabalho. Com a mudança para o galpão, ela passou a ter o valor da aposentadoria recolhido pela cooperativa, além da “segurança de não trabalhar exposta” aos perigos do dia a dia no lixão.
“Caiu muito o ganho da gente, mas é mais seguro. No galpão, a gente trabalha na sombra, não toma sol, nem chuva e tem banheiro.”
O que diz o GDF
O governo do DF reconhece que a garantia do valor recebido ao fim do mês pelo catador ainda é inferior ao conquistado por muitos deles enquanto atuavam no lixão da Estrutural. A assessora do SLU Andrea Portugal afirma que, no entanto, a renda fixa pode ser ampliada temporariamente para até R$ 1 mil.
“A gente entende que vai ter uma redução de renda. Por isso, o GDF propôs a compensação financeira no período de transição. Além disso, eles recebem R$ 0,30 por quilo de material, desde que comprovem por meio de nota fiscal a venda para empresa que os recicle.”
Andrea atribui a incerteza citada pelos catadores ao “momento de transição e mudança”, mas afirma que a decisão dos valores das bolsas foi tomada com base em “estudos de viabilidade econômica e social”.
“O DF tem o melhor contrato de coleta seletiva e triagem que o Brasil tem.”
Novo aterro
Em fase final de instalação, o Aterro Sanitário de Brasília, ao lado da DF-080, vai substituir o lixão da Estrutural. Projetado para comportar 8,13 milhões de toneladas de lixo, o novo depósito tem área total de 760 mil metros quadrados, dos quais 320 mil são destinados a receber os rejeitos.
Em funcionamento há quase um ano, o aterro já recebeu 214 mil toneladas de resíduos. A média diária é de 800 toneladas. Já em novembro, o terreno recebeu uma manta de impermeabilização. Com a área de 22 mil metros quadrados, a estrutura pretende evitar a contaminação do solo e do lençol freático.
De acordo com uma nota do GDF, a preparação do espaço será “fundamental para que sejam depositadas toneladas de resíduos não recicláveis”. O acesso é restrito a catadores. Apenas motorista e carretas de lixo são autorizados a entrar.
Duas balanças rodoviárias ficam instaladas perto da entrada para pesar os caminhões que chegam e saem. Para o diretor do SLU Paulo dos Reis, o local é um “sonho de consumo”.
“Para quem tem um lixão funcionando há 50 anos, um aterro sanitário é um paraíso.”
Diferentemente do lixão da Estrutural, a disposição do lixo no aterro sanitário foi planejada para exigir cuidados. Ao ser colocado no solo, o rejeito será espalhado e compactado com terra diariamente. Durante a colocação do lixo no solo, dois drenos captam a água pluvial e o chorume.
Apesar de todos os cuidados, a alternativa mais eficiente, segundo ambientalistas, é a redução do lixo descartado pela população e pelos grandes geradores.
Desde novembro, os estabelecimentos do Distrito Federal que produzem mais de 1 mil litros de lixo por dia se tornaram responsáveis pela própria coleta. Por meio de nota, o SLU informa também que vai expandir a coleta seletiva para todo DF a partir do próximo ano.
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