O Distrito Federal tem ao menos 897 lixões clandestinos a céu aberto, de acordo com levantamento da Agência de Fiscalização (Agefis). Alguns dos pontos de descarte irregular de lixo e entulho estão em áreas nobres de Brasília – um dos maiores fica junto à cerca do Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente em exercício, Michel Temer, e do Clube de Golfe.
Para limpeza dessas áreas, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) gastou R$ 15 milhões em 2015. De janeiro a maio deste ano, o custo de remoção de entulhos dessas áreas chegou a R$ 10,7 milhões. Essas áreas de descarte continuam a crescer mesmo com a aplicação de multas, que variam de R$ 74 a R$ 185 mil, dependendo do local, da quantidade e do tipo do resíduo descartado irregularmente.
A quantidade diária de lixo produzida pelos moradores do DF é de 2,7 toneladas. Mais de 70% – 1,9 tonelada – são resíduos da construção civil. Atualmente, existem quatro áreas de transbordo, triagem e reciclagem de resíduos, nas regiões do Gama, Brazlândia, Sobradinho e Asa Sul. Nenhuma, porém, é específica para receber entulhos de obras.
No lixão localizado a 1,5 km da entrada principal do Palácio do Jaburu vivem 19 famílias de catadores com cerca de 20 crianças. Eles afirmam ocupar o local há mais de oito anos. Nesse período, eles foram removidos do local duas vezes, mas acabam retornando, devido à falta de opções de renda. No lixão, eles ganham algum dinheiro com a separação de material para reciclagem.
“Nós sobrevivemos da reciclagem. Eu crio galinhas, até elas foram empurradas nas retiradas. Em algumas derrubadas eles [servidores do governo do Distrito Federal] têm educação para remover”, afirma o catador Rômullo Soares, que é “vizinho” do presidente em exercício.
O catador Emílio Silva afirma ganhar R$ 300 mensais com a venda de material reciclável que chega em caminhões que descarregam lixo no local diariamente. Os catadores conseguem R$ 0,10 por cada quilo de sucata vendida. Segundo eles, o quilo das latinhas de alumínio varia de R$ 0,18 a R$ 0,20. A venda do material é feita a cooperativas.
Segundo ele, os veículos trazem para a área resíduos produzidos nos ministérios e prédios públicos da Esplanada. O SLU retira parte do entulho e lixo deixado irregularmente nesseas áreas e leva o material para aterros regulares, como o do Jóquei, na Cidade Estrutural.
De acordo com o órgão, a situação só deve melhorar quando for o inaugurado o aterro de Samambaia, previsto para começar a operar ainda neste semestre. A nova área de descarte, na DF-180, entre Samambaia e Ceilândia, deve permanecer em atividade por até 13 anos, segundo o SLU. O local aguarda apenas o fim da construção de galpões onde o material será estocado.
Dano ambiental irreversível
A professora do Núcleo de Sustentabilidade da Universidade de Brasília, Izabel Cristina Zaneti, afirma que os depósitos irregulares de lixo trazem prejuízos ambientais e financeiros que podem ser irreversíveis.
“No Distrito Federal temos uma série de áreas de proteção ambiental e nascentes que podem ser afetadas com o descarte irregular de lixo. Os materiais podem produzir chorume [resíduo líquido do lixo], que contamina os lençóis freáticos e a própria terra”, afirma.
Na UnB, a professora lidera um grupo que busca implementar coleta seletiva nos quatro campi da universidade. Ela também realiza oficinas de capacitação com a comunidade acadêmica.
Izabel afirma que a solução para a questão do lixo precisa ser pensada com antecedência e planejamento. “O aterro sanitário é a maneira mais correta de se dispor os resíduos. No local, existem duas camadas que impermeabilizam o solo e não permitem ao chorume descer à terra. É uma obra caríssima, porém não permanente. Depois de 15 anos é preciso encontrar outro lugar.”
A professora explica que a burocracia e custos dificultam a adoação de medidas efetivas para enfrentar o problema. “Em 2010 foi sancionada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, mas a dificuldade está em aplicar e regulamentar a lei dentro dos estados, municípios e do DF. Por mais de 20 anos esse assunto foi discutido na Câmara Federal com professores e profissionais”, diz.
Segundo ela, após a inauguração do aterro de Samambaia, o lixão da Estrutural – um dos maiores da América Latina – deve ser desativado e usado somente como área de transbordo, para separação do lixo volumoso antes de sua destinação final.
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